‘França e o Labirinto’ investe em experiência imersiva, mas sem se esquecer de um enredo cativante
22 set
2023
– 22h15
Boa parte da população pode até se esquecido, mas o Brasil tem uma tradição de contar histórias apenas através do som. Antes da televisão, a radionovela era um meio de entretenimento bastante comum, e consagrou estrelas.
Em entrevista ao Terra, Selton Mello lembrou que quando começou a frequentar os estúdios de dublagem, aos 12 anos, sua mãe reconhecia as estrelas das novelas de rádio. “Ela ficava ali viajando, reconhecendo as vozes, fã das vozes. Não sabia nem como era a pessoa. (…) De uma certa forma, o mundo gira e a gente agora está fazendo uma audiossérie que nada mais é do que um retorno às radionovelas. Então, de repente, isso volta de outro jeito, com a tecnologia de hoje”, conta o ator.
O filão, que andava meio adormecido, ganhou um novo fôlego com a tecnologia, e a possibilidade se de ouvir áudio por demanda. O primeiro contato com a audiossérie França e o Labirinto, idealizada pela dupla Alexandre Ottoni e Deive Pazos (Jovem Nerd), em parceria com o Spotify, abusa das novidades para contar uma história instigante.
A trama acompanha Nelson França (Selton Mello), um detetive que se vê diante de fantasmas do passado quando um serial killer preso há décadas, aparentemente, volta à ativa. Mas um detalhe faz toda diferença, França é cego, e são pelos ouvidos dele que somos conduzidos por essa investigação.
O ator contou que a produção teve a ajuda de uma pessoa com deficiência visual, que trabalhou como consultora de tudo, do roteiro ao produto final. “ Às vezes a gente estava fazendo o episódio 7, ele falava para melhorar alguma coisa no capítulo 4. Às vezes era uma coisinha bem específica, e ajudou demais a gente”, revela.
O diferencial da áudiossérie é o uso da tecnologia de áudio binaural, também conhecida como áudio 3D, uma técnica pouco explorada no país que consiste em gravar o som da mesma forma que nossos ouvidos captam.
A técnica é um dois pontos altos da série, fazendo com que o ouvinte consiga sentir quando um personagem se movimenta, ou a presença do cachorro de França, Bonaparte, por exemplo. Os personagens também descrever algumas imagens para o detetive, o que também colabora nessa imersão.
Já Mello brilha no papel, e estava acostumado a interpretar usando a voz. “Foram 10 anos da minha vida de dublador (…) Na minha época a gente trabalhava muito juntos [com outros dubladores], e acho que é uma coisa que hoje não existe mais”, contou o ator, destacando que a maioria do seu trabalho foi feito sozinho, seguindo orientações de um diretor.
“Eles que me falavam: ‘agora ele pisou na lama’, ‘aqui vai passar um carro em cima de uma poça e você pode ficar meio irritado’. Eles iam dando elementos para a minha imaginação e eu ia atuando na frente do microfone”, conta.
França e o Labirinto conta com mais de 50 atores de voz espalhados em 13 episódios, com duração média de 30 minutos. O projeto segue em primeiro lugar entre os podcasts de ficção da plataforma.