Solução para crise climática pode vir do design, não da tecnologia


Solução para crise climática pode vir do design, não da tecnologia | Fast Company Brasil

Um tipo menos chamativo de inovação climática, mas que pode ter impacto real, valoriza que se repense as operações de uma empresa, com o uso de materiais e o redesenho das cadeias de suprimentos

Solução para crise climática pode vir do design, não da tecnologia
Steve Johnson via Unsplash

Christopher Marquis

4 minutos de leitura

Com o aumento das temperaturas globais e uma série aparentemente interminável de desastres climáticos, é natural buscar a tecnologia como solução.

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Da captura de carbono (em que as emissões não são liberadas na atmosfera, mas enterradas no solo) à geoengenharia (na qual partículas são pulverizadas na atmosfera para refletir a luz solar e reduzir as temperaturas), as inovações verdes são frequentemente apontadas como a solução para a contínua dependência de combustíveis fósseis.

Mas, ma ânsia por soluções milagrosas, a sociedade pode ser suscetível em vez de otimista ao focar demais nos benefícios potenciais e ignorando muitos dos efeitos negativos ou desvantagens.

Um ensaio de 2022 na revista científica Nature argumenta que muitas dessas tecnologias são frequentemente superestimadas e não consideram os desafios, custos e consequências indesejadas significativos que estão associados.

Por exemplo, as discussões sobre veículos elétricos e suas baterias necessárias geralmente não abordam a extração prejudicial de minerais essenciais como silício, lítio e cobalto.

HORA DE REPENSAR A INOVAÇÃO CLIMÁTICA

Um tipo menos chamativo de inovação climática, mas que pode ter impacto real agora, não promove soluções técnicas e, em vez disso, concentra-se em repensar as operações de uma empresa, incluindo o uso de materiais e o redesenho das cadeias de suprimentos.

Estudos mostram que 70% a 80% do impacto ambiental de um produto é determinado durante a fase de design, algo relatado por empresa nas últimas décadas.

Por exemplo, Riccardo Bellini, ex-CEO da grife de luxo Chloé, disse que uma análise da pegada ambiental total da empresa, feita em 2020, revelou que 80% dos seus desafios de sustentabilidade poderiam ser “resolvidos na mesa de design” — especificamente. Além disso, declarou, 58% das emissões da Chloé eram provenientes de matérias-primas como algodão, couro e cashmere virgem.

Compreender isso levou a empresa a priorizar materiais de menor impacto, como linho e cânhamo, em novas coleções e a aumentar o uso de materiais reciclados, especialmente cashmere.

Segundo Bellini, a empresa se comprometeu a que, até 2025, 90% de seus tecidos sejam de “menor impacto“, uma meta que está a caminho de atingir, já que 85% de seus produtos foram feitos com esses materiais em 2024.

GESTÃO DE RESÍDUOS

Muitos negócios, como a empresa de moldagem por injeção Cascade Engineering e a plataforma de gestão de resíduos Rubicon, demonstraram de forma semelhante que iniciativas focadas em repensar insumos e cadeias de suprimentos resultam não apenas em efeitos ambientais positivos, mas também em economias financeiras significativas.

O ex-CEO da Seventh Generation, Joey Bergstein, enfatizou que outro motivo pelo qual a sustentabilidade deve começar com o redesenho do produto é que isso pode permitir às empresas evitar algumas emissões em primeiro lugar. Essa abordagem contrasta com o trabalho ambiental corporativo que começa depois que o produto é fabricado, portanto, no máximo, só pode se concentrar em causar menos danos.

Assim, na Seventh Generation, a equipe de pesquisa e desenvolvimento busca repensar os produtos desde o início, explorando, por exemplo, novos formatos ou métodos de entrega que possam evitar o uso de plástico, um material feito de combustíveis fósseis e difícil de reciclar.

MENOS ÁGUA, MAIS LEVEZA, MENOS CUSTO

Uma iniciativa fundamental da empresa é a redução do uso de água em seus produtos, o que traz importantes benefícios nas emissões de carbono, pois reduz o peso do transporte e a necessidade de embalagens plásticas.

Bergstein conta que a Seventh Generation realiza pesquisas ativas para criar produtos eficazes sem água — como pó ou tabletes, embalados em materiais facilmente recicláveis, como papelão ou aço — para lavanderia, limpeza de louças, bancadas e lavagem das mãos. Em 2020, um exemplo desse trabalho saiu do laboratório para o mercado quando a empresa lançou uma linha de produtos de limpeza embalados em latas de aço que dispensam totalmente o uso de plástico.

A Seventh Generation não está sozinha ao priorizar a eliminação do plástico no desenvolvimento de produtos. Líderes da Grove Collaborative reformularam os xampus para que fossem em barra (e, portanto, pudessem ser embalados em papelão) em vez de líquidos. Já a empresa de calçados e vestuário Allbirds criou um novo material para solas de sapatos feito de fontes naturais.

VISÃO HOLÍSTICA DA SUSTENTABILIDADE

O que esses exemplos mostram é que, embora seja fácil cair no encanto de inovações verdes atraentes, os desafios de sustentabilidade, na verdade, exigem muito trabalho além de ajustes superficiais ou inovações isoladas.

Em vez de se esforçarem apenas para “causar menos danos” ao meio ambiente, o que resulta em mudanças incrementais, as empresas devem adotar uma visão holística de seus produtos — começando pelo design.

As companhias devem reconhecer que o verdadeiro impacto não reside apenas em eficiências isoladas ou inovações tecnológicas, mas na reimaginação das cadeias de suprimentos, da produção e dos modelos de negócios para contribuir positivamente para o planeta e a sociedade.


SOBRE O AUTOR

Christopher Marquis é professor de negócios na Universidade de Cambridge. saiba mais



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