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A artista plástica, que mora na Capital, tem inspirado sua nova série de pinturas em diversos registros fotográficos e até em figuras de aves que habitam o quintal tanto de sua casa quando de seu ateliê

O “som” que a artista plástica Ana Ruas escolheu pintar, em sua nova exposição intitulada “Aves do Meu Quintal”, encanta e envolve quem está a observar. Os pássaros em meio a vegetação conseguem transportar o expectador para momentos particulares em sua memória afetiva.

Inspiração que surgiu dos mesmos pássaros que visitam o jardim do seu ateliê, mas também muito mais que isso: um verdadeiro processo que se construiu ao longo dos anos. Aliás, uma realidade muito comum para o sul-mato-grossense.

Por isso, é fácil se identificar com as telas da artista e se deparar com alguma espécie que encanta nossos dias ou melhor dizendo, nossos ouvidos.

Ana conta que começou a pintar temas relacionados a natureza desde 2016, após uma visita no Jardim Monet, em Giverny, na França. Já no Brasil, no Rio Grande do Sul, estado onde ela nasceu, em visita a sua mãe, o olhar apurado dessa gaúcha se encantou com seis pessegueiros floridos.

Foi então, a partir dessa visita, com direito a alusão de memórias de sua infância, que nasceu a série “Pessegueiros”.

“Era uma cena que ativou minha memória e me trouxe muitas saudades do meu avô e da minha infância”, revela.

Ainda no mesmo ano, surgiu “Floresta Encantada”, uma profusão de cores, formas e texturas. A obra, conforme relata Ana, de 5 x 5 m, ficou em exposição no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco) e depois foi mostrada no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs) e ainda no Memorial da América Latina, em São Paulo.

A evolução de seu processo envolvendo a natureza seguiu nos dois anos seguintes, em 2017 e em 2018, por meio da série “Renascer”, com aproximadamente 20 pinturas. Neste ínterim, conectada nas pequenas coisas, Ana observou algo que viria a se tornar uma de suas grandes criações.

“Em 2018, lavando a calçada do meu ateliê, fotografei matinhos floridos que nasciam na minha calçada e que, embora eu os retirasse, continuavam nascendo. Nasceu, então, a série ‘Persistência’, com dezenas de pinturas em pequenos formatos”, explica.

Mãos que cultivam

Durante a pandemia, a artista descobriu um novo hobby. Após fazer cursos on-line, ela passou a se dedicar ao cultivo de plantas. A beleza chamou sua atenção, e logo começou a fotografar a evolução do seu jardim.

Com um recorte peculiar, é claro. São cliques de folhas, flores, troncos, cascas e musgos, tentando capturar as nervuras. Os pássaros também já se faziam presentes nos registros, além de agraciar a artista com seus cantos, e logo figurariam com destaque.

Voadores

A partir dos retratos, em 2021, por meio da fotografia, Ana iniciou o processo de inserir os pássaros que clicava nas pinturas imagens que desafiam o olhar do expectador.

Enquanto algumas pinturas os pássaros aparecem nitidamente, em destaque, já em outras quem for contemplar precisará de atenção para encontrar os voadores escondidos entre folhagens.

“Na vida real acontece dessa forma também. Muitas vezes, os procuramos porque primeiro ouvimos o seu canto”, observa.

Na pandemia, a artista fala que desenvolveu um ritmo mais intenso de trabalho, o que rendeu vários frutos, como pinturas alegres, vibrantes, que atraem o olhar, de modo que as pessoas procuravam Ana Ruas para encomendar suas telas.

Hobby

Já a jardinagem que nasceu durante a pandemia permanece até hoje. Com direito a dica de plantio, ela escolhe o primeiro dia da lua minguante para fazer mudas e o replantio. O primeiro dia da lua crescente é o cronograma de podas.

“Incrível como funciona. Meu quintal é uma miscelânea, tem roseiras, rosas-do-deserto, suculentas, congeias, ora-pro-nóbis, jabuticabeira, acerola, buquê-de-noiva, crótons, samambaias, orquídeas, jades e muitas outras que nem sei o nome”, confessa.

Bem-te-vi

O primeiro pássaro foi pintado na fachada de seu ateliê, e dele vieram muitos outros. Ao terminar, enquanto descia a escada, como se a natureza estivesse a chamando, Ana recebeu um prêmio de um bem-te-vi que estava em um pé de ipê-branco e que começou a cantar para a artista. “A propósito, eu também converso com as aves”, brinca.

E parece que o desenrolar foi se construindo de uma maneira fantástica, já que o pé de ipê em questão foi plantando pela própria Ana, em 2011, quando ocorreu a inauguração de seu ateliê.

Desde então, ela espera ansiosamente para a época da florada e faz registros fotográficos das flores.

Com o que aprendeu no curso, a artista vem colhendo as sementes que formam um tapete branco a cair em torno da árvore e até aprendeu a fazer um berçário para as mudas germinarem.

“Segui a receita e elas germinaram, brotaram, cresceram. Um ano depois, plantei duas dúzias de mudinhas na praça que fica na frente do meu ateliê”, relata a pintora.

A mente vai longe daqui 10 anos, pois Ana imagina seus ipês na pracinha próxima de sua casa se tornando árvores e florindo. Na rede social, ela tem um vídeo que mostra todo esse processo.

Poesia pela pintura

O despertar de Ana para as pinturas que remetem à natureza bem que poderia ser dividido em capítulos de um belo livro da história da nossa Cidade Morena.

No capítulo inicial, a visita em um museu na França, o retorno ao Brasil e o reencontro com suas próprias raízes, tudo sobre essa artista gaúcha que escolheu Campo Grande como seu lar e provou que literalmente deixa sementes nessa terra.

Agora, a respeito da conversa que a artista tem com os pássaros, não houve perguntas da reportagem para deixar que a imaginação florisse acerca dos assuntos que são debatidos. Afinal de contas, trabalhar a imaginação também é uma forma de arte.

Não haveria outro jeito de expressar a importância da floresta urbana da Capital, que propicia ar puro e a aproximação com a fauna, do que um bate-papo com Ana Ruas.

Para ela, é o cantar das araras, a bagunça dos periquitos e a altivez do canto dos bem-te-vis, além de tantas outras espécies.

“Eu sugiro para que as pessoas olhem à sua volta e percebam a riqueza de cores, formas e sons da nossa flora e fauna, da florada dos ipês aos buracos da coruja buraqueira”, enfatiza.

Para quem quiser conhecer a exposição de Ana Ruas “Aves do Meu Quintal”, basta visitar o Espaço Energia, da Energisa.

A artista, que aprecia a interação com o público, convida as pessoas a escreverem o nome das árvores que aparecem em seus quintais e adianta: dessas respostas pintará sua próxima tela. Já pensou ter uma sugestão sua pintada por Ana Ruas? Pois então não perca a oportunidade.


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