Vincenzo Montella fez seu nome no Campeonato Turco durante as duas últimas temporadas. O italiano assumiu o Adana Demirspor e conseguiu bons resultados na Süper Lig. Com um clube recém-promovido à elite, o ex-atacante alcançou a nona colocação na campanha de estreia em 2021/22 e subiu degraus até o quarto lugar em 2022/23, atrás apenas do trio de ferro de Istambul. Levou o time à sua estreia na Conference League e até em Mario Balotelli o comandante conseguiu dar jeito. Assim, ele vira solução para a seleção da Turquia na reta final das eliminatórias para a Euro 2024. Nesta quinta-feira, Montella foi anunciado como novo comandante dos alvirrubros.
O contrato de Montella projeta um planejamento de longo prazo com a Turquia. O italiano assinou até junho de 2026, ganhando oportunidade de também buscar uma nova Copa do Mundo aos turcos, o que não ocorre desde 2002. Não é uma missão tão simples, porém, A equipe nacional parece sem direção desde que Senol Günes perdeu o controle da equipe durante a Euro 2020. A escolha de Stefan Kuntz nos últimos dois anos era questionável, credenciado por um trabalho nas seleções de base da Alemanha. O desempenho no último ciclo deixou a desejar, com uma queda na repescagem das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 e resultados de pouco relevo na terceira divisão da Liga das Nações.
Kuntz perdeu o emprego depois de uma Data Fifa ruim. A Turquia empatou em casa com a Armênia, num jogo de enorme importância pelo pano de fundo político, diante das disputas entre os dois países e do genocídio ocorrido contra os armênios há mais de um século. Não pegou bem o 1 a 1 arrancado só nos minutos finais. Os turcos ainda perderam um amistoso para o Japão por 4 a 2. Montella assume o cargo com uma situação ainda possível rumo à Euro 2024. A Turquia ocupa a segunda colocação do Grupo D das eliminatórias, com dez pontos, só atrás da Croácia. Precisa manter sua vantagem numa reta final de campanha que terá confrontos diretos com Croácia e Gales, além de um embate contra a eliminada Letônia.
Hoş geldin Vincenzo Montella! pic.twitter.com/WgERoF7dDK
— TFF (@TFF_Org) September 21, 2023
O currículo de Montella
Atacante de boa qualidade, Montella é muito mais lembrado por sua carreira como jogador, atrelado especialmente aos tempos em que foi ídolo da Roma e auxiliou os giallorossi a conquistarem o Scudetto. Entretanto, também possui uma trajetória longa como treinador. Dirigiu exatamente os juvenis da Roma em seus primeiros anos e teve uma curta passagem pelo time principal na reta final da temporada 2010/11. Depois, buscaria voos em outros clubes.
Na Sicília, Montella fez uma boa temporada com o Catania em 2011/12. Deu um salto à Fiorentina, onde realizou o seu principal trabalho de 2012/13 a 2014/15. Foram três temporadas completas com a Viola, sempre acabando na quarta colocação da Serie A. Não chegou a ser suficiente para disputar a Champions League, numa época em que a Itália tinha apenas três vagas no torneio, mas era uma sequência relevante. Conseguiu um vice na Copa da Itália e uma semifinal de Liga Europa. Depois disso é que sua carreira desandou.
Montella passou sem sucesso pela Sampdoria, antes de fazer um trabalho pouco relevante no Milan. Eram tempos de vacas magras dos rossoneri, mas não que o comandante tenha melhorado muito as perspectivas. Ficou apenas 64 partidas no cargo, sem passar da segunda temporada, quando os investimentos se tornaram bem maiores. A estadia no Sevilla seria ainda mais curta em 2017/18, iniciada em dezembro e encerrada em abril, demitido depois de nove partidas sem vitórias. Nem mesmo a volta para a Fiorentina deu certo. Montella chegou a ficar quase dois anos sem clube, longe das listas nas principais ligas da Europa.
O Campeonato Turco ofereceu um recomeço. O Adana Demirspor tinha acabado de conquistar o acesso à primeira divisão e apresentava um projeto ambicioso, com muitos medalhões em campo, a exemplo de Mario Balotelli, Gökhan Inler, Birkir Bjarnason, Younès Belhanda e Britt Assombalonga. Num ambiente mais modesto, Montella conseguiu uma honrosa posição no meio da tabela. Já a evolução na temporada passada colocou os celestes nas copas europeias, mesmo com a saída do recuperado Balotelli. O futebol ofensivo apresentado por uma equipe sem tradição respaldou Montella na Turquia, a ponto de ser convidado para a seleção.
O que esperar da Turquia
Não é de se duvidar que Montella emplaque na seleção turca. O italiano está aclimatado ao país e conhece os jogadores da liga local, sem muitas dificuldades nas observações. Além disso, possui um currículo vasto por suas experiências em grandes ligas europeias e competições continentais. Tem mais credenciais que seu antecessor, por exemplo. É um perfil até diferente das apostas da federação turca ao longo da última década, que priorizou medalhões como Guus Hiddink, Fatih Terim, Mircea Lucescu e Senol Günes.
Também é importante a quantidade de talentos à disposição. A Turquia possui um time capaz de alcançar as competições internacionais. A defesa pode extrair mais de Merih Demiral e Çaglar Söyüncü, dois jogadores em baixa. O meio-campo tem muita qualidade técnica com Hakan Çalhanoglu, Salih Özcan e Orkun Kökçü. Já na ligação, os turcos podem tirar bastante de jovens em ascensão como Kerem Aktürkoglu e Arda Güler. Há setores carentes e jogadores que não se firmaram como se esperava, mas existe material humano.
Diante da situação no grupo, a classificação para a Euro 2024 ainda está em xeque. Os dois principais jogos da Turquia, contra Croácia e Gales, são fora de casa. Os três pontos de vantagem sobre armênios e galeses não garantem tanto conforto assim. A federação, entretanto, preferiu tentar algo diferente com a demissão de Kuntz a lamentar depois. E se há uma desculpa de que Montella assumiu no meio do caminho, pensar num projeto rumo à Copa de 2026 é promissor. Por sua paixão pelo futebol e pela tradição na Eurocopa, é pouco aos turcos terem jogado só dois Mundiais na história. Montella tentará ser o homem a corrigir essa rota.