Com drones, robôs e IA, equipe de 100 pesquisadores disputa prêmio internacional de US$ 5 milhões para ‘desvendar’ florestas


Brazilian Team durante testes de tecnologia em Cananeia — Foto: Paulo Guilherme Molin

Brazilian Team durante testes de tecnologia em Cananeia — Foto: Paulo Guilherme Molin

Um grupo de 100 pesquisadores disputa a final de uma competição internacional de biodiversidade e tecnologia com um projeto que busca mapear, por meio de drones, robôs e até inteligência artificial, as florestas tropicais.

A equipe tem sede na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), e é formada por professores e pesquisadores de várias instituições brasileiras, além de alguns estrangeiros.

A tecnologia de ponta é usada para coleta e análise de amostras de DNA. O intuito é conseguir mapear as florestas de forma mais eficaz para diagnosticar problemas e propor soluções.

O grupo é um dos seis finalistas do Xprize Rainforest, competição internacional de biodiversidade e tecnologia com prêmio total de US$ 10 milhões – sendo metade para o primeiro colocado.

Livre-docente da Esalq, o botânico Vinicius Castro Souza coordena o time. Ele defende que a floresta tropical não é tão bem conhecida quanto se pensa, e isso dificulta o trabalho para diagnosticar e propor soluções para o uso sustentável dela. País que abriga a maior floresta tropical do mundo, a Floresta Amazônica, o Brasil tem um grande desafio para preservá-la.

“Estamos tentando usar a floresta tropical de forma sustentável sem conhecê-la muito bem”, argumentou. Para mudar esse cenário, o grupo utiliza tecnologias de ponta disponíveis no mercado.

🤖Tecnologia de ponta

Os drones são utilizados para sobrevoar a área da floresta e, assim, obter imagens em alta definição da vegetação.

Parte da equipe realizando testes com os drones e análises — Foto: Divulgação-Brazilian Team

Parte da equipe realizando testes com os drones e análises — Foto: Divulgação-Brazilian Team

🌳🌲Outra estratégia é a colocação de cúpulas na copa de árvores com 30, 40 metros de altura para, a partir daí, coletar dados, como diferentes sons e, com o auxílio da inteligência artificial, fazer a identificação.

“A floresta tem uma série de sons de aves, de sapos, de morcegos e tudo mais. Então a gente grava esses sons a partir dessas cúpulas e através de inteligência artificial e dos bancos de dados, conseguimos identificar uma parte desses animais”, explica Souza.

🐛O mesmo procedimento vale para insetos. “Na final, a gente vai colocar nessas cúpulas algumas armadilhas para pequenos insetos para também fazer a identificação”.

Como tudo tem que ser feito de forma remota e a equipe não pode entrar na área durante a competição, o Brazilian Team também utiliza um robô terrestre.

“Na parte do chão, a gente tem esse robô, que entra na floresta e coleta solo, folhas, insetos, faz todo o conjunto de coletas possíveis. Como esse material possui DNA de boa qualidade, conseguimos fazer a identificação desses organismos, tudo de uma única vez”, diz.

📈Como funciona a competição? A equipe brasileira está na final da competição. Desde a semifinal, que aconteceu em junho de 2023 e reuniu 13 equipes em Singapura, o regulamento prevê 24 horas para rastrear uma floresta tropical e 48 horas para produzir relatórios.

Com os dados coletados ao longo dessas 24 horas, a equipe foca nos próximos dois dias de preparação de relatório, em que, segundo o professor, é preciso dar um “significado” para os dados reunidos.

“Por exemplo, a gente identificou na área algumas espécies de palmeiras. Essas palmeiras, muitas vezes, são utilizadas pela população local, para a confecção de cestos, cordas e tudo mais. Então, a ideia é também dar uma interpretação social e econômica a esses dados que estão sendo coletados”.

Parte do Brazilian Team na abertura da semifinal em Singapura — Foto: Divulgação-Brazilian Team

Parte do Brazilian Team na abertura da semifinal em Singapura — Foto: Divulgação-Brazilian Team

O desempenho da equipe brasileira a qualificou para disputar a final, que deve acontecer um julho, na Amazônia.

Do total de U$S 10 milhões em prêmios no torneio, a equipe campeã recebe US$ 5 milhões. O segundo lugar, ganha US$ 2,5 milhões e o terceiro, US$ 500 mil. O restante foi utilizado em prêmios intermediários pela classificação das equipes para a semifinal e final.

Iniciada em 2019, com 800 equipes, a competição busca o desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar as condições de monitoramento da biodiversidade tropical e, com isso, aumentar a compreensão dos ecossistemas das florestas tropicais, de forma a permitir a conservação.

🎋Por que a tecnologia é importante? O professor afirma que boa parte das ferramentas que eles aproveitam já está em uso. O que falta é uma base de dados apurada.

“Hoje conseguimos identificar, com uma precisão muito grande, uma planta ou um animal a partir de uma foto. Até existem aplicativos de celular que você usa para fotografar uma planta e identificar com uma precisão muito boa. Só que esse tipo de aplicativo só vai funcionar se você tiver um banco de dados muito completo”, aponta Souza.

Ou seja, a tecnologia existe e está disponível, mas o que não existe são os bancos de dados com fotos bem identificadas das espécies nativas. “E isso precisa ser feito a partir de um estudo mais aprofundado da nossa flora”, diz.

Pesquisadores do Brazilian Team trabalhando em projeto — Foto: Divulgação/Brazilian Team

Pesquisadores do Brazilian Team trabalhando em projeto — Foto: Divulgação/Brazilian Team

“Então, é curioso isso, porque a gente está correndo atrás de um projeto de tecnologia, mas ela já existe e seu desenvolvimento já está correndo lá na frente. O que está para trás para que essa tecnologia funcione é exatamente esse trabalho mais de base”, afirma o especialista.

De acordo com o professor e pesquisador, a mesma situação se aplica a trabalhos de identificação de DNA. “A gente consegue identificar plantas e animais com base no seu DNA. Mas o problema é que também não existe uma base de dados robusta para que eu possa comparar. Sem isso essa tecnologia não vai funcionar”.

💰Como a verba será usada? O coordenador afirma que, em caso de vitória do Brazilian Team na competição, o objetivo é incentivar ações de levantamento da biodiversidade em florestas tropicais. “Principalmente a Amazônia brasileira, que ainda é um grande desafio”.

O professor aponta que, com a possibilidade de identificar todas as grandes árvores de uma floresta usando apenas imagens obtidas por meio de drone, é possível realizar grandes levantamentos com um custo baixo.

“Com base nisso, eu vou poder detectar quais espécies que são raras e quais espécies são comuns. Quando eu fizer um projeto qualquer de desenvolvimento sustentável, em que eu vou explorar uma determinada espécie, eu sei a quantidade de indivíduos que tem naquela floresta, quantos eu posso tirar e os que eu devo manter”.

“A partir do momento que eu tiver essa tecnologia, associar com dados de qualidade e começar a ir ao campo e levantar essas informações, eu vou poder usar de forma muito mais racional e sustentável tudo aquilo que a gente poderia estar explorando do ambiente e das florestas tropicais sem causar, com isso, a sua destruição e a mantendo em pé para as futuras gerações”, completa.

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