Fernando Murad
26 de fevereiro de 2024 – 3h36
Com o atual ritmo da evolução tecnológica, a expectativa é a de que o processo de atração e retenção de talentos cresça duas vezes mais rápido nos próximos dez anos. A diversidade e a inclusão de grupos historicamente minorizados, como as mulheres, em especial na área de tecnologia, é uma complexidade adicional a esse trabalho.
Embora a pauta esteja presente de forma mais recorrente na agenda corporativa, o número de mulheres em cargos de liderança de tecnologia caiu significativamente no ano passado. Segundo pesquisa da Accenture, o percentual de mulheres trabalhando em tecnologia é de 32%, contra 35%, em 1984. Já a porcentagem de mulheres em cargos de liderança caiu para 28% em 2023.
Uma das explicações para os índices de representatividade dentro das empresas ainda estarem longe do ideal é o desequilíbrio entre oferta e demanda.
“Entre os principais desafios está a temática de mão de obra qualificada no País. Temos pessoas relevantes em tecnologia, mas ainda temos deficiência de formação de profissionais. Quando colocamos a interseccionalidade da diversidade, fica mais desafiador, somado ao fato de que profissionais estão sendo mais requisitados pelo mercado externo. Há uma disputa maior pelos talentos”, afirma a vice-presidente de RH e marketing da Totvs, Vivian Broge.
“Podemos criar a oferta, como gestor, para promover a inclusão digital. Sendo bem neutros e, em outros momentos, privilegiando grupos que têm dificuldade. Mas a demanda não está correspondendo. O mercado de tecnologia está com escassez em todas as áreas. Estamos com posições em aberto há meses. Não é clima ou salário, é falta de profissionais”, pontua o SVP & general manager e CEO Latin America da Axway, Marcelo Ramos.
No escritório nacional da companhia a predominância é masculina, mas em cargos de gestão há equilíbrio, com 50% de homens e 50% de mulheres. Em nível global, são três mulheres e sete homens no quadro de executivos que se reportam ao CEO. “Não sabemos exatamente que fórmulas usar. Queremos mudar. O desejo é grande. É um trabalho incessante, de formiguinha, com a criação de ofertas e estimulando gestores”, diz.
Plano de ação para gerar inclusão e diversidade
A Totvs atua desde 1998 com o Instituto da Oportunidade Social (IOS), que desenvolve projetos de formação profissional gratuita. A iniciativa já formou mais de 45 mil profissionais para os setores de tecnologia da informação, administração, RH e atendimento ao varejo.
Além da Totvs, empresas privadas ajudam a manter o projeto, como Dell e Zendesk. Já o Banco ABC, e-Core, EMpower, Globant, Instituto Localiza, Microsoft, Santander e Ypê apoiam projetos específicos, enquanto 99 App, Apsen, Axa, B3, BRQ, Chevrolet Serviços Financeiros, Elo, Eternit, IBM, Instituto Center Norte, Instituto Cyn, Isa CTEEP, Itaú Seguros, Léo Madeiras, Loga, Lojas Marisa, Mercado Livre, Nubank, Porto Seguro, PwC, RTM, Siemens, Squid, Supplier, Unisys, entre outras, realizam doações via incentivo fiscal.
De acordo com dados da Totvs, 26% dos funcionários são pretos e pardos, e 14% estão na liderança. Já 37% das mulheres estão em posição de liderança. No board, o índice sobe para 43%. “Os resultados são animadores, mas temos que trabalhar mais. Nessa questão não há competição, as empresas devem trabalhar juntas”, defende Vivian.
Outra gigante do setor, a SAP reportou, no relatório global consolidado de 2022, que tem 35% mulheres colaboradoras, sendo 29,5% em posições de gestão. Na SAP Brasil, 31% das lideranças são mulheres, que representam 36% do total da força de trabalho.
“Temos criado programas e feito diagnósticos constantes na organização, verificando objetivos, metas e indicadores no detalhe, estimulando lideranças e departamentos a criarem mais condições de acesso, equidade, satisfação, capacitação, performance e meritocracia”, explica a HR director da SAP, Fernanda Saraiva.
“A diversidade é elemento fundamental para a inovação, pois pessoas com diferentes formações, backgrounds culturais e origens somam pontos de vista diferentes. E esse trabalho em equipe é que amplia horizontes. Nossa área de inovação e nossos parceiros têm se dedicado a estudos para a apresentação de soluções ainda mais inovadoras aos RHs e às organizações, em geral, baseadas em dados e em inteligência para apoiar esforços voltados à diversidade”, complementa a head of industry value advisory and sustainability leader da SAP, Marcele Andrade.
Agenda ESG aliada aos negócios
Se a diversidade de gênero em empresas de tecnologia ainda tem obstáculos, com altos e baixos, as iniciativas de ESG estão em franca ascensão: os investimentos em serviços empresariais ESG devem crescer dos US$ 37,7 bilhões aplicados em 2023 para quase US$ 65 bilhões em 2027, segundo a International Data Corporation (IDC). De fato, a maior parte desse volume será destinada à sustentabilidade, o que abrange estratégia, operações, modelo de negócio e capital humano que as empresas destinam às iniciativas ESG.
“O propósito de soluções da Axway, quando vendemos para setores de telefonia, água, luz, pedágio, manufatura ou de saúde pública, é o de melhorar a eficiência operacional, para poder fazer melhor uso dos recursos. À medida em que vendemos soluções mais inteligentes, contribuímos. Automação de chão de fábrica é um exemplo. Quando vemos casos de sucesso de clientes, ficamos felizes. Hoje é muito comum resolver problema a distância, com acesso remoto do equipamento. A integração dessa tecnologia é onde a Axway oferece o maior valor agregado”, ressalta Marcelo.
Eficiência operacional
Signatária do Pacto Global da ONU desde 2020, a SAP adotou, desde o início dessa década, sistema de iluminação com maior eficiência energética nos escritórios, sistemas eficientes de refrigeração em data centers e soluções alternativas de mobilidade. Além disso, compensa emissões inevitáveis ao apoiar projetos climáticos.
“Com relação aos clientes, a migração de softwares para a nuvem, em detrimento dos servidores físicos, é contribuição significativa para o alcance de objetivos e metas da neutralidade de emissão de carbono. É estímulo às organizações de todos os portes para que participem de um movimento a favor da sustentabilidade do planeta”, explica a head da empresa.
Em 2022, a companhia impactou mais de 680 mil vidas por meio de ações de responsabilidade social corporativa, em parcerias com organizações não governamentais. Plantou 6.103 mudas de árvores, com a compensação de 847 toneladas de CO₂ emitidos por sua frota de veículos no Brasil. A empresa também foi pioneira na solução digital livro-razão verde, capaz de oferecer dados da pegada de carbono transacional.
Soluções para clientes
O portfólio inclui, ainda, a SAP Sustainability Control Tower, que possibilita a gestão dos indicadores de sustentabilidade, e o SAP Environment, Health and Safety Management, por meio do qual é possível administrar a gestão de resíduos, bem como o controle de reportes de incidentes de trabalho ou temas relacionados à segurança de forma geral. E a plataforma SAP Cloud for Sustainable Enterprises pode medir os resultados das iniciativas de sustentabilidade adotadas pelas empresas.
“É possível gerenciar emissões de gases de efeito estufa de nível 3 e otimizar as estratégias ESG dos clientes identificando, quantificando, analisando e atuando sobre os dados das operações em todas as etapas, proporcionando visão abrangente dos processos e de seu desempenho no que se refere à sustentabilidade”, detalha Marcele.
A Totvs também é signatária do Pacto Global da ONU desde 2014 e tem compromisso com o plano de ação global da Agenda 2030, coordenada pela ONU, para alcançar os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“Temos política organizacional que reflete nossa visão ESG. Além de fazer isso, temos provocado conversas com clientes. Desde 2021, a Totvs Consul¬ting criou programa para apoiá-los nessa jornada de inventário de gases de efeito estufa e de aferição de impactos. O fato de trabalharmos com ERP é bem importante. O portfólio de soluções passa por tudo isso e ajuda a oferecer informações mais seguras”, afirma a vice-presidente de RH e marketing da Totvs.