Emblema do futebol estadual, Guarany de Bagé é o grande vencedor do Gauchão até agora


Terminada a primeira fase do Gauchão, o Internacional comemora a primeira colocação, que lhe dá o direito de decidir todos os jogos no Beira-Rio, enquanto o Avenida celebra a permanência quase milagrosa na elite estadual, graças a um gol tardio do Caxias que acabou rebaixando o Novo Hamburgo. Nenhum time, no entanto, festeja tanto quanto o Guarany de Bagé, que concluiu a fase inicial na surpreendente quarta colocação e, mais do que isso, com a inédita vaga na Série D — é a primeira vez que o Índio vai disputar uma divisão nacional. 

A parcialidade vermelha e branca da Rainha da Fronteira comemora, sobretudo, o poder de reação da equipe. Porque o começo do campeonato foi angustiante, com derrota em casa para o Ypiranga e goleada sofrida para o Juventude, sequência que justificava o objetivo traçado antes do campeonato: permanecer na Série A. A impressão é que o time treinado por Wiliam Campos não ganharia nem o sorteio antes dos jogos, mas o fato é que a partir daquele momento o Alvirrubro passou oito jogos invictos, com direito a triunfos emblemáticos, como as vitórias contra Inter e Caxias, em casa, e o Avenida, como visitante, com gol no apagar das luzes. Só voltou a sofrer outra derrota na última partida da primeira fase, no último sábado, contra o Grêmio, quando todos os louros possíveis (mas difíceis de imaginar) já estavam no armário. Entre os destaques do time, estão o arqueiro Rodrigo, que andou pegando pênaltis em profusão, e o atacante Michel, artilheiro do campeonato, com 5 gols.

Apesar de ter passado os últimos muitos anos peregrinando entre diferentes divisões estaduais, o Guarany de Bagé é um emblema do futebol gaúcho. Trata-se, pasmem, do maior campeão estadual além de Inter e Grêmio, com dois títulos conquistados (e acabou em vice em 1926, 1929 e 1958). Tudo bem que as taças foram conquistadas em 1920 e 1938, no tempo em que a rolha do guaraná ainda nem havia sido inventada, mas a história escrita não se apaga. Como também não se apagam os nomes históricos que vestiram a jaqueta alvirrubra, como o lateral-esquerdo Branco, campeão do mundo em 1994, e antes Martim Silveira, que defendeu o Brasil nas Copas de 1934 e 1938, o zagueiro Calvet, nome histórico do Santos de Pelé, e Tupãzinho, ídolo do Palmeiras nos anos 1960. 

No Guarany, nenhum deles alcançou a idolatria que é dedicada a PICÃO, o atacante que marcou quase 130 gols pelo clube, decisivo no campeonato de 1938, mas todos nasceram para o futebol desfilando sua categoria no gramado do Estrela D’Alva. Aliás, a cidade fronteiriça conta com alguns dos melhores nomes de estádio já concebidos — a casa do Grêmio Bagé se chama Pedra Moura. Como é de conhecimento de toda a nação, Bagé e Guarany realizam um dos clássicos mais trepidantes de todos os hemisférios — e imbatível no quesito sonoridade do nome: Ba-Gua, o jogo que transforma Peñarol e Nacional em reunião do sindicato dos alfaiates de Rivera.

Em um contexto amplo, a surpreendente campanha do Guarany significa um sopro de força de um centro tradicional do futebol gaúcho. Antes pulsantes e com times respeitáveis, cidades como Rio Grande e Bagé gradualmente perderam a força, por questões sobretudo econômicas, como costuma ocorrer. Se os clubes conseguem desafiar as circunstâncias para sobreviver e até mesmo montar times competitivos, ainda que de maneira esporádica, é porque mesmo nos períodos mais áridos nunca deixaram se ser potências populares com a capacidade de mobilizar as suas comunidades. Que o próximo passo seja a volta do CITADINO, com o Ba-Gua transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão.

Guarany de Bagé volta a vencer o Inter depois de 56 anos

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Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

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