É hora de as gigantes da tecnologia pararem de sufocar a inovação


Alan Baratz

4 minutos de leitura

O famoso slogan da IBM “Think” (pense) era um apelo para que as pessoas considerassem todas as possibilidades antes de chegar a uma conclusão. Mas será que ela e as outras gigantes da tecnologia realmente valorizam o pensamento independente quando se trata de escolhas tecnológicas? Isso é um tema para debate.

A verdade é que as big techs têm sufocado a inovação por décadas, e é hora de termos uma conversa franca sobre o que exatamente está acontecendo e quais são as reais implicações. Basicamente, elas fazem isso de três maneiras:

1. Deslegitimando tecnologias comprovadas que não se encaixam em sua narrativa

As grandes empresas de tecnologia têm um histórico de menosprezar e desacreditar tecnologias que elas não têm a capacidade de desenvolver ou que perderam a oportunidade de criar. Em muitos casos, suas atitudes são ditadas por suas próprias capacidades em vez de um verdadeiro desejo de inovar.

Um exemplo é a maneira como a IBM rejeita o recozimento quântico – uma tecnologia que comprovadamente proporciona uma aceleração significativa em relação à computação clássica para uma classe de problemas complexos de otimização, usando mecânica quântica. As evidências foram publicadas recentemente na revista científica “Nature”.

Sobre as descobertas, Gabriel Aeppli, professor de física no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Escola Politécnica Federal de Lausanne e chefe da divisão de ciências de fótons do Instituto Paul Scherrer, na Suíça, disse: “Este artigo fornece evidências de que a dinâmica quântica de uma plataforma de hardware dedicada é mais rápida do que os algoritmos clássicos conhecidos… e, portanto, promete continuar a impulsionar o desenvolvimento de recozedores quânticos para lidar com problemas práticos.”

Apesar disso, o site da IBM afirma incorretamente que, “o consenso da comunidade científica é que o recozimento quântico não oferecerá uma aceleração significativa em relação à computação clássica” e que “os recozedores não levarão a máquinas quânticas universais tolerantes a falhas. Portanto, não podem ser considerados verdadeiros computadores quânticos.”

Quando big techs dominam categorias inteiras, não há espaço para progresso ou inovação por parte das empresas menores.

Como evidenciado por uma série de pesquisas, incluindo o artigo da “Nature” mencionado anteriormente, sabemos que isso não é verdade. Então, por que a IBM continua desacreditando publicamente uma tecnologia legítima que foi validada por especialistas conceituados de instituições renomadas?

Talvez porque (a) não se alinhe com seu foco na computação quântica ou (b) ela não seja capaz de desenvolver rapidamente a tecnologia por conta própria.

Ao desacreditar as conquistas de outras empresas e usar linguagem enganosa, gigantes como a IBM estão tentando silenciar players menores e se estabelecer como a única solução. Menos soluções significam menos concorrência e oportunidades para a inovação.

2. Neutralizando “ameaças” jogando com a incerteza

Quando empresas menores surgem com ofertas competitivas, as big techs tendem a comunicar ao mercado que não há motivos para arriscar, porque suas próprias tecnologias comprovadas darão conta do recado.

Isso desencoraja as organizações de comprar de empresas menores, o que, por sua vez, sufoca a inovação. Por que “arriscar” quando grandes empresas renomadas poderão oferecer tecnologias semelhantes em algum momento?

Ao desacreditar as conquistas de outras empresas, as big techs tentam silenciar players menores e se estabelecer como a única solução.

Foi o que fizeram com a Nuance. Muito antes de assistentes virtuais como Siri e Alexa existirem, ela desenvolveu um poderoso software de reconhecimento de voz.

Google, Amazon e Microsoft investiram enormes quantias para desenvolver a tecnologia por conta própria e, basicamente, roubaram os talentos da Nuance. Incapaz de bater de frente com tantas gigantes ao mesmo tempo, a empresa viu as vendas despencarem. A Nuance foi adquirida pela Microsoft em 2021.

Quando as big techs dominam categorias inteiras dessa forma, não há espaço para progresso ou inovação por parte das empresas menores.

3. Influenciando fortemente a comunidade acadêmica e os governos

Não é segredo que as gigantes da tecnologia têm muita influência sobre a comunidade acadêmica. Várias delas têm contribuído com financiamento de pesquisas para o desenvolvimento direto de produtos. Isso, sem dúvida, é benéfico quando permite que pesquisadores explorem novos projetos interessantes.

Quando todas as empresas têm um lugar à mesa, não há limites para a inovação.

No entanto, torna-se problemático quando os força a restringir o escopo de seu trabalho para se alinhar com os objetivos, vieses e áreas de interesse das grandes empresas. O propósito da pesquisa acadêmica é manter a mente aberta e explorar diferentes ideias, não amarrar pessoas inteligentes ao desenvolvimento de produtos em benefício das organizações que as financiam.

As big techs exercem ainda mais sua influência gastando enormes quantias em lobby. No ano passado, Amazon, Apple e Microsoft juntas gastaram quase US$ 70 milhões. Isso faz com que empresas menores não tenham voz dentro dos governos.

O que pode ser feito para impedir que as grandes empresas de tecnologia sufoquem a inovação? É difícil dizer, mas precisamos pensar em como criar um ambiente que priorize a inclusão. Quando todas as empresas têm um lugar à mesa, não há limites para a inovação.


SOBRE O AUTOR

Alan Baratz é CEO da empresa de computação quântica D-Wave. saiba mais



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