Crimes contra as mulheres aumentam no mundo do futebol


Robinho, jogador de futebol
O ex-jogador Robinho foi condenado na Itália a nove anos de prisão pela acusação de estupro de uma jovem, em 2013 (foto: Paul Ellis/AFP)

 

Como sou por fora do assunto, estou cedendo hoje a coluna para Gabriela Sabino, que fala dos crimes contra as mulheres no futebol. Ela é assessora de desenvolvimento de Políticas Públicas do Ministério de Portos e Aeroportos e foi coordenadora do processo participativo de revisão do plano diretor de São Paulo:

“O mundo do futebol, apesar de sua paixão global e sua capacidade de unir pessoas, enfrenta um problema profundo e perturbador: os crimes contra as mulheres no esporte. Nos últimos anos, temos assistido ao aumento alarmante dos casos de violência, assédio e abuso sexual contra mulheres que estão envolvidas de alguma forma com o futebol. Isso nos leva a uma reflexão necessária: está se tornando ou sempre foi assim?

A situação é preocupante. Episódios como os cometidos pelos jogadores Daniel Alves e Robinho são resultado de uma combinação de fatores, incluindo a cultura machista que ainda prevalece no esporte, a falta de conscientização e a impunidade. A cultura de machismo que permeia o futebol muitas vezes resulta em uma atmosfera hostil para as mulheres, onde sua segurança e dignidade são postas em risco.

Os principais crimes que as mulheres enfrentam são a violência doméstica e familiar, o assédio e o abuso sexual. A violência doméstica e familiar é o tipo mais comum – recentemente ganhou destaque a agressão cometida pelo jogador Antony. Ela se dá quando o agressor é parceiro, ex-parceiro ou familiar da mulher.

O assédio sexual ocorre quando a mulher é submetida a investidas indesejadas, como toques, insinuações ou comentários obscenos.

Já o abuso sexual ocorre quando a mulher é forçada a ter relações sexuais ou a praticar atos sexuais contra a sua vontade.

A origem histórica da problemática dos crimes contra as mulheres no futebol está intrinsecamente relacionada à cultura machista que ainda prevalece no esporte. O futebol, historicamente dominado por homens, perpetuou a mentalidade sexista que marginalizou e subjugou as mulheres. Essa cultura machista pode levar a comportamentos violentos e abusivos contra as mulheres, criando o ambiente propício para a ocorrência desses crimes.

Felizmente, várias medidas têm sido tomadas por autoridades esportivas, clubes e organizações para combater esses crimes. Entre as mais importantes estão a criação de políticas e diretrizes para prevenir e punir a violência contra as mulheres, a realização de campanhas de conscientização sobre o problema e o fornecimento de apoio às vítimas. É essencial que o futebol assuma a responsabilidade de proteger as mulheres e criar um ambiente seguro.

A cultura do futebol pode influenciar e perpetuar esses comportamentos de várias maneiras. A pressão pela vitória a qualquer custo pode levar a comportamentos agressivos e violentos em campo, refletindo-se também fora das quatro linhas.

Além disso, a cultura da masculinidade tóxica no esporte pode levar o homem a acreditar que tem o direito de controlar e abusar das mulheres. É fundamental desafiar esses estereótipos prejudiciais e promover a cultura mais inclusiva e respeitosa no futebol.

As mulheres que desejam denunciar crimes dessa natureza no mundo do futebol enfrentam diversos desafios, incluindo o medo de represálias por parte do agressor, a falta de apoio de clubes e organizações esportivas e a dificuldade de comprovar os crimes. Esses obstáculos tornam crucial o desenvolvimento de sistemas de denúncia seguros e o fornecimento de apoio às vítimas.

Existem alguns exemplos de sucesso em lidar com o problema dos crimes contra as mulheres no esporte. A Fifa, por exemplo, adotou a política de tolerância zero, mostrando um compromisso claro com a erradicação desse problema. Além disso, alguns clubes e organizações esportivas têm implementado programas de conscientização e apoio às vítimas, mostrando que é possível promover mudanças positivas.

Para que o futebol seja um espaço seguro para mulheres, é imperativo que elas estejam envolvidas nas decisões do esporte. Hoje, as mulheres representam apenas 2% das diretoras de times. Isso impacta na forma como o futebol trata as mulheres dentro e fora dos gramados.

A conscientização é crucial para combater os crimes contra as mulheres no futebol. Jogadores, torcedores, dirigentes, árbitros e todos os envolvidos devem entender que a violência contra as mulheres é um problema sério e que deve ser combatido. É por meio da educação e da mudança cultural que podemos criar um ambiente mais seguro e inclusivo para as mulheres no mundo do futebol.

Trabalhar juntos é fundamental para criar um ambiente mais seguro e inclusivo no mundo do futebol. Isso envolve promover a conscientização sobre o problema, oferecer apoio às vítimas e criar políticas e diretrizes sólidas para prevenir e punir a violência contra as mulheres. Todos os envolvidos no futebol têm um papel a desempenhar nessa missão.

As redes sociais e a mídia têm papel importante na disseminação desse problema, mas também podem ser ferramentas poderosas na luta contra a violência e no apoio às vítimas. Elas podem ser usadas para denunciar crimes, conscientizar sobre o problema e promover mudança cultural positiva, pressionando organizações esportivas a agir de forma responsável.

As organizações esportivas têm papel central na promoção da mudança cultural positiva para combater esses crimes. Isso inclui a adoção de políticas e diretrizes claras e rigorosas contra a violência contra as mulheres, a realização de campanhas de conscientização e educação, e treinamento e apoio aos funcionários e voluntários. É responsabilidade de todos trabalhar em conjunto para garantir um ambiente seguro e inclusivo para as mulheres no futebol.”


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