Inspirado na Guerra de Canudos, da Bahia, o game Árida convida os jogadores a se aventurarem no sertão nordestino. O jogo é uma criação nacional da Aoca Game Lab, do historiador Filipe Pereira, e está disponível para celular e para computador. Desde que foi lançado, já foram registrados mais de 130 mil downloads.
O desafio do jogo é ajudar a personagem Cícera a sobreviver no sertão durante sua jornada para reencontrar os pais. Para cumprir a missão, a personagem deve seguir os conselhos dos mais velhos para conseguir água e comida.
Há 1.042 estúdios de desenvolvimento de games no Brasil, segundo a Prévia da 2ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games, desenvolvida pela Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos), com dados de 2022. É uma alta de 3,27% em relação a 2021, quando havia registro de 1.009 empresas de desenvolvimento de games ativos.
A região Nordeste reúne 15% dos estúdios do Brasil, com 127 empresas do ramo. A pesquisa mostra também que cerca 2.600 games brasileiros foram publicados desde 2020, dos quais 1.008 foram lançados exclusivamente no ano passado.
“A gente enquanto jogador consumia muitas coisas de outras culturas porque só agora está tendo produção nacional [de jogos]. É natural que a gente não tivesse nada sobre a nossa própria cultura para jogar”, disse Filipe ao Poder Empreendedor sobre a inspiração do jogo.
A Guerra de Canudos denomina um conflito ocorrido no sertão da Bahia, de 1896 a 1897. O movimento foi liderado pelo líder religioso Antônio Conselheiro, que criou uma sociedade independente, atraindo nordestinos marginalizados que buscavam melhores condições de vida. A comunidade não foi bem aceita pelo governo da época, que enviou expedições militares ao local com o objetivo de desmobilizar o movimento.
Aoca Game Lab
A Aoca Game Lab foi criada em 2016, em Salvador (BA), mas o Árida só foi lançado em 2019. O processo de desenvolvimento do jogo durou 2 anos, de 2017 a 2018. Filipe é formado em história, mas tem especialização em Game Design.
“O Árida da forma que tem hoje só foi existir 2 anos depois, em 2018. A gente lançou o jogo em 2019. Ficamos quase 1 ano parados porque a gente estava sem recursos na época”, afirmou Filipe, atualmente com 38 anos.
Durante o período de desenvolvimento do Árida, a Aoca Game Lab prestava serviços para outras empresas do segmento. O jogo foi lançado inicialmente no formato para computadores, mas a empresa só se consolidou no ramo quando o game foi disponibilizado na versão mobile em 2022.
“Quando a gente lançou em PC, a receita não era suficiente para a empresa rodar. A gente fazia jogos para outras empresas, aplicativos, vídeos, coisas tangenciais que produzíamos. O ponto de virada foi quando a gente migrou para o mobile”, disse.
A migração para o mobile foi impulsionada por uma parceria da Aoca Game Lab com o Google. “A gente não tinha nem expectativa de ir para o mobile, mas a gente foi intensificando essa relação com o Google. Foi aí que a gente conseguiu ter mais receita do que a gente gasta para manter o time”, completou.
A expectativa é de que o jogo esteja disponível para console Xbox e Nintendo nos próximos meses. Para o ano que vem, a Aoca Game Lab planeja lançar o Árida 2 já no formato multiplataforma (mobile, PC e console). Também está nos projetos da empresa investir em live action e animação.
“É um jogo com uma experiência bem fechada em que o jogador interage com ele por 3, 4, 5, 6 horas, a depender do tamanho do jogo. O premium [versão computador] faz mais sentido com isso, mas o universo do mobile é muito voltado para ter uma experiência livre”, disse.
Os valores variam de acordo com a versão e com a região. Leia:
PC
- Brasil: R$ 13,99;
- EUA (os demais são baseados no Dólar): US$ 6,99.
Mobile Android
- Brasil: R$ 10,99;
- EUA (os demais são baseados no Dólar): US$ 1,99.
Mobile iOS
- Brasil: R$ 9,90;
- EUA (os demais são baseados no Dólar): US$ 1,99.
Play empresarial
Para os empreendedores que desejam dar play no setor de games, Filipe recomenda buscar referências de outros empresários. “Uma coisa que a gente percebe nas empresas mais novas é um desejo de fazer algo maior do que o alcance que tem no momento. Uma coisa que ajudou muito a gente foi se conectar com outras empresas”, afirmou.
O empresário disse também ser importante entender logo no início se a empresa está do lado da indústria criativa, desenvolvedora, ou do lado empresarial e estratégico, para prestação de serviços.
“Não que sejam coisas excludentes porque eu faço os 2. Mas em algum momento quando as coisas começam a tomar forma é necessário entender que precisa ter o lado do empreendedorismo mais definido”, conta.
Filipe afirma que falta estrutura para o setor de games no Brasil, tanto na parte de legalização, quanto na parte tributária. “A outra dificuldade está na parte de investimento, de capitalizar para fazer os projetos acontecerem. A maioria das empresas passa pelo o que a gente passou de começar a fazer uma coisa autoral, mas em algum momento tem que fazer serviços para poder sobreviver e algumas não sobrevivem”, disse.
Outro desafio está em achar mão de obra qualificada, diz Filipe. Segundo ele, muitos desenvolvedores preferem trabalhar para empresas do exterior com pagamento em moeda estrangeira. Hoje, a Aoca Game Lab tem 14 funcionários, os quais são prestadores de serviços.
RAIO X
- faturamento: não divulgado;
- sede: Salvador (BA);
- fundadores: Filipe Pereira e Victor Cardoso;
- regime tributário: Microempresa;
- ano de fundação: 2016;
- site.