Maria Júlia Rodrigues, 14 anos, joga futebol desde os 9 e estuda no 8º ano do Ensino Fundamental. Posição: atacante. Sonho: ser jogadora profissional, chegar à Seleção Brasileira e disputar uma Copa do Mundo. Inspiração: Neymar (Brasil). “Ele é craque, admiro o futebol dele”, diz a jovem atleta do Flugoiânia, agremiação goianiense que completa dois anos em 2023.
Adryelle Carvalho Silva, 14 anos, joga futebol desde os 5 e estuda no 8º ano do Ensino Fundamental. Posição: meia. Sonho: ser jogadora profissional, chegar à Seleção Brasileira e disputar uma Copa do Mundo. Principal inspiração: Marta (Brasil). “Eu admiro o esforço dela, o trabalho, a liderança, o fato de ela ter lutado pelo direito que hoje a gente tem [de jogar]”, afirma a jovem, também atleta do Flugoiânia. “Meu sonho é jogar fora [do país] e também jogar na Seleção Brasileira, é um dos maiores sonhos de qualquer menina”, acrescenta.
Laurinda Carvalho Amaral, 13 anos, joga futebol desde os 9 e estuda no 7º ano do Ensino Fundamental. Posição: goleira. Sonho: ser jogadora profissional, chegar à Seleção Brasileira e disputar uma Copa do Mundo. Inspirações: Letícia Izidoro (Brasil) e Manuel Neuer (Alemanha). “Eu valorizo a raça e a vontade de jogar. [A Copa do Mundo] É o máximo que a gente pode chegar e só as melhores estão lá”, destaca a arqueira titular do Flugoiânia.
Além dos sonhos e inspiração, essas três jovens atletas goianas têm em comum o pioneirismo. Junto com Maria Eduarda, recentemente transferida para o Corinthians-SP, elas são as primeiras meninas em Goiás e no Brasil a integrar uma equipe mista de futebol, o Flugoiânia, em uma competição oficial: a Copa Goiás sub-13. Elas podem atuar com os meninos que possuem 13 anos ou menos graças a uma regulamentação de março da CBF para competições amadoras. A nova regra pode ser aplicada em todas as categorias, da iniciação esportiva ao futebol amador adulto.
“O futebol misto trabalha com a massificação e a inclusão. Faltam equipes e, sobretudo, competições amadoras em nível local e regional nas primeiras categorias de iniciação e formação desportiva, como a Sub-10, Sub-12, Sub-14. Acredito firmemente que a regulamentação do futebol misto ajudará a corrigir este problema, incentivando a participação de milhares de jogadoras em equipes e competições mistas. Com o tempo, o aumento no número de atletas registradas também poderá levar à criação de equipes e competições exclusivamente femininas nas categorias mais jovens”, disse à época o presidente da entidade máxima do futebol nacional, Ednaldo Rodrigues.
Inspiração
Para as atletas, mais do que estar em campo, atuar em uma equipe mista representa inclusão e busca por igualdade no futebol. “Representa uma experiência muito boa, jogar com os meninos. Eles sempre estão ali conosco, jogando, resenhando, jogando altinha, um futmesa”, afirma Maria Júlia, que destaca a boa interação de todo o grupo com elas.
“Não é fácil jogar com os meninos, até porque aqui é mais pesado. Diferente de jogar com as meninas que é um pouco mais disputado”, afirma Adryelle. “A gente pode inspirar outras meninas que querem estar jogando campeonato misto. É muito importante para nossa carreira no futebol”, complementa a jovem atacante.
“É uma honra, estamos conquistando nosso espaço. Pouco a pouco as mulheres estão conquistando isso, e temos que continuar desse jeito”, pondera a goleira Laurinda.
O trio inspira também os meninos que fazem parte da equipe mista. “É muito que as meninas interajam com a gente, que elas jamais desistam. Elas jogam bem, têm habilidade e têm futuro para seguir em frente”, afirma Pablo Henrique Alves Sobrinho, de 12 anos, que sonha em seguir o exemplo do pai como jogador e ir além: disputar a Copa Libertadores pelo Flamengo-RJ.
“Que elas nunca desistam e continuem seguindo em frente”, diz Davi Henrique da Silva, centroavante do Flugoiânia que tem o português Cristiano Ronaldo como inspiração.
Na última semana, a equipe do Sagres Online acompanhou a partida entre Vila Nova 1×0 Flugoiânia no CT Marconi Perillo. Atletas e comissão técnica do colorado reconhecem a importância da integração e inclusão no futebol. “A gente tem que respeitar elas também. Desejo boa sorte a elas, que Deus as abençoe porque elas vão conseguir”, deseja Paulo Ryan Silva Souza, 13 anos, atleta do Tigrinho sub-13.
“É importante porque dá oportunidade às meninas, para estarem disputando e jogando também, estar crescendo na vida. Quase não há competições femininas dessas categorias, dessas idades. Acho que é de suma importância essa iniciação”, frisa Orlando Generoso, massagista da equipe colorada.
Apoio e liderança
O técnico da equipe mista do Flugoiânia é Robson Freitas. O time possui quatro vitórias e três derrotas na competição. Ele destaca que o primeiro desafio para a inclusão no futebol e a expansão de equipes mistas no País é vencer o preconceito.
“[O problema] É achar que a atleta feminina não dá conta de jogar futebol. Prova disso é o próprio futebol feminino. Isso nasce também da falta de calendário do futebol feminino justamente para a equipe de base. Então as meninas vão se adaptando com o masculino, vão sobressaindo e dando conta de fazer o que a gente pede dentro de campo”, avalia o treinador.
Treinador das categorias de base desde 2005, Robson acredita na função essencial que o futebol desempenha em relação a igualdade e inclusão, e aponta o potencial das atletas que integram a equipe mista do Flugoiânia.
“A Laurinda é uma goleira já com bastante bagagem na categoria dela. É a goleira titular. A Maria Júlia é uma atleta canhota, muito habilidosa e muito inteligente para jogar. A Adryelle é mais defensiva, tem muita força e muita volúpia para jogar”, enumera. “Somos a primeira porta para mostrar que a mulher tem esse potencial”, complementa.
Renata Rodrigues, mãe da Maria Júlia, é, junto com o pai, a principal incentivadora da jovem atleta. Ela conta que a atacante começou nas categorias de base do Atlético-GO. “Ela sempre foi mais ativa na área do esporte, nunca gostou de balé, por exemplo, sempre gostou mais skate, vôlei. Até que ela pediu ao pai dela para levá-la a uma escola de futebol. Eu e o pai sempre incentivamos desde o primeiro momento”, afirma Renata.
Sempre presente nas competições que a filha participa, Renata sabe da importância da liderança e do apoio técnico para o desenvolvimento no esporte. Além de Maria Júlia, Adryelle e Laurinda estão de malas prontas para jogar em outro grande do futebol: o Flamengo-RJ. “O Robson é completo no que ele faz. Ele incentiva na hora certa, cobra na hora certa. Só tenho a agradecê-lo. Ele foi o primeiro que levou as meninas, elas começaram com ele”, pontua.
Da escolinha para a vida
O coordenador do Flugoiânia, Márcio Alves, relata que cerca de 50 meninas fazem parte do projeto na escolinha. A média de idade é de 16 e 17 anos. A iniciação, no entanto, ocorre já na categoria babyfut, a partir dos 4 anos.
“Estamos de portas abertas. Esse negócio de que menina não é para jogar bola, jogar futebol, isso já é passado. Que venham conhecer nosso trabalho, fazer uma aula experimental. É um trabalho sério. Muitas meninas não têm oportunidade de desenvolver aquilo que gostam, aquele dom que elas já têm, e o Flugoiânia está de portas abertas para elas”, reforça o coordenador.
As próprias atletas do tricolor goianiense deixam o recado à meninas que desejam se tornar atletas. “Nunca desistir, lutar para garantir seus direitos e sempre dizer sim em vez de [simplesmente] escutar um não do outros”, diz Adryelle.
“Que elas nunca desistam do sonho delas e sigam em frente até onde conseguirem. Vai ter dias bons, dias ruins, mas nunca desistir”, conclui Maria Júlia.
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