Milhares de trabalhadores israelenses do setor de tecnologia e capital de risco e fundadores de startups estão entre os convocados pelo Exército de Israel para a operação na Faixa de Gaza. O setor contribui com cerca de um quinto do produto interno bruto de Israel.
Na semana passada, Or Shoval, de 29 anos, CEO de uma startup de tecnologia israelense, estava de férias em uma cidade egípcia à beira-mar. Sua startup de software médico estava prosperando e ele se preparava para viajar aos EUA, para participar de uma importante conferência sobre o tema.
Porém, na manhã do dia 7, ele acordou com uma enxurrada de alertas de notícias e mensagens de texto informando que Israel estava sendo atacado pelo Hamas e centenas de pessoas já haviam sido mortas.
Agora, Shoval é um dos cerca de 360 mil reservistas, ou 4% de toda a população de Israel, convocados para participar da luta contra o Hamas. Apenas cerca de 15% de sua empresa está agora na ativa, mas o trabalho continua, especialmente porque sua companhia atende a clientes fora de Israel.
“Tenho uma arma nos joelhos e um capacete na cabeça, mas estou em espera por meia hora, o que significa que estou trabalhando por meia hora”, disse Shoval em uma entrevista, depois de participar do funeral de um amigo morto no ataque. “Você está lutando e, horas depois, tem uma teleconferência com sua equipe.”
As startups são responsáveis por grande parte das exportações do país e muitas pessoas do setor de tecnologia se referem a Israel como a “nação das startups” devido à sua alta concentração de empresas do setor. “Não são apenas os homens. Há mulheres sendo convocadas e há aquelas cujos maridos estão sendo convocados – a disrupção está por toda parte”, disse Eyal Bino, sócio da 97212 Ventures.
Nem todo o mundo da tecnologia apoia a guerra de Israel contra o Hamas. No dia 10, uma coalizão de trabalhadores da Amazon e do Google pediu que seus empregadores parassem de vender tecnologia para Israel por meio de uma parceria de computação em nuvem, o Projeto Nimbus.
O grupo de funcionários chamou a Amazon e o Google de “cúmplices dessa devastação” na Faixa de Gaza. O porta-voz da Amazon, Brad Glasser, disse que a empresa está “profundamente triste com a trágica perda de vidas” e focada na segurança de seus funcionários.
Com relação à Nimbus, ele afirmou que a Amazon Web Services “está focada em disponibilizar os benefícios da tecnologia a todos os nossos clientes, onde quer que estejam”.
SERVIÇO
Todos os israelenses são obrigados a cumprir o serviço militar obrigatório após o ensino médio, e a maioria permanece na reserva. Os investidores de risco do país geralmente saem de divisões de elite de inteligência cibernética, como a Unidade 8200. Mas muitos deles concluíram seu serviço militar como infantaria regular, o que significa que, como reservistas, poderiam ser chamados para a linha de frente.
Mas a guerra está só começando. Com a possibilidade de uma extenuante busca terrestre em Gaza por cerca de 100 reféns israelenses, não está claro por quanto tempo os reservistas estarão lutando e longe de suas empresas. O impacto sobre elas e o restante da economia pode ser grave.
Os trabalhadores convocados para a reserva são compensados pelo empregador pelo tempo que passam no exército, disse Ofir Angel, presidente da Auren Israel. Ele prevê que o setor de tecnologia terá porcentuais mais altos de trabalhadores ausentes do que outros setores, como o agrícola. Por outro lado, se o funcionário vai servir, avisa Angel, isso significa menos produtividade. E ele prevê que o dano ao PIB de Israel será “significativo”.
Fundadores de startups de tecnologia, investidores de capital de risco e engenheiros que não foram convocados estão contribuindo com doações. Bino, o investidor de capital de risco da 97212 Ventures, olha para frente. “Este é um momento muito importante na história de Israel e, no momento, acho que a missão de todos é se unir para derrotar o Hamas”, disse ele. “Lidaremos com o resto mais tarde”.