Desde que lançou seu serviço de distribuição digital, a Epic Games tem feito um enorme esforço (leia-se, investido centenas de milhões de dólares) para conquistar a maior quantidade possível de desenvolvedores. E nessa incansável odisseia, a empresa anunciou duas iniciativas bastante agressivas.
Mas antes de falarmos sobre como a empresa pretende atrair os jogos mais antigos, precisamos abordar a maneira como ela está mirando nos lançamentos, algo que batizaram como Exclusividades da Epic (ou Epic First Run, em inglês).
De maneira resumida, o que a editora promete com esse programa é dar aos criadores 100% do faturamento com as vendas feitas através da Epic Games Store (EGS), com a contrapartida de que o título seja exclusivo por seis meses.
Segundo a proposta, após esse período a desenvolvedora passará para o modelo padrão de divisão de faturamento, quando ficará com 88% de cada venda e os 12% restantes passando para os donos da loja.
Para ser elegível ao Exclusividades da Epic, o jogo só precisa ser lançado após o dia 16 de outubro, sem nunca ter sido disponibilizado em outro serviço de distribuição digital ou assinatura para PC. Contudo, editoras e desenvolvedoras que quiserem vender suas criações em lojas ou programas proprietários poderão fazer isso, com o mesmo valendo para o sistema de resgate sem senha da EGS, que funciona com lojas como Green Man Gaming e Humble Store.
“Produtos participantes do programa Exclusividades da Epic serão apresentados aos usuários na loja com emblemas novos e exclusivos, posicionamentos na página inicial e coleções dedicadas,” diz o comunicado oficial. “Além disso, os produtos serão expostos em campanhas relevantes da loja, incluindo promoções, eventos e editoriais, conforme aplicável. Assim que um produto entrar no programa, ele se beneficiará da exposição contínua durante o período de Exclusividades da Epic.”
Mas se essa investida deve ter aberto os olhos dos estúdios que continuam trabalhando na conclusão de suas criações, o Agora na Epic (Now on Epic, no original) mira naqueles que já estão à venda em outras lojas, com uma abordagem tão tentadora quanto a do outro programa.
Nele, as empresas que tiverem uma conta de desenvolvedor ativa na EGS e possua títulos lançados até 31 de outubro de 2023 em outras lojas poderão participar. Porém, no caso daqueles que tiverem três ou mais jogos disponíveis em outros serviços de distribuição, pelo menos três deles precisarão ser vendidos na loja da Epic. Já para quem tiver lançado menos que essa quantidade, todos os jogos terão que ser levados para a Epic Games Store.
Outra exigência feita pela distribuidora diz respeito a data de participação. Os interessados terão até o dia 31 de dezembro de 2014 para se inscrever, com os títulos precisando passar a serem vendidos na EGS até 30 de junho de 2025.
Contudo, se as contrapartidas para o Agora na Epic podem parecer maiores que as do Exclusividades da Epic, a possibilidade de aumentar o faturamento deverá fazer com que vários estúdios não liguem muito para elas. Isso porque, segundo o anúncio oficial, durante os primeiros seis meses na loja, 100% do faturamento dos jogos será revertido para as editoras/desenvolvedoras. Após esse período, volta a valer a divisão 88%/12% tradicional.
Ainda de acordo com a Epic Games, hoje sua loja conta com 230 milhões de jogadores, sendo 68 milhões ativos mensalmente. Mas além de poder alcançar um público que talvez não esteja presente em outros serviços, dar uma sobrevida a um título que pode estar estagnado nas lojas atuais é algo que deverá motivar muitas empresas a pular para o outro lado da cerca.
Será interessante ver como outras lojas reagirão a essa estratégia, sendo que a Epic Games Store já oferece a maior porcentagem de faturamento do mercado. No caso do Steam, a Valve alcançou uma liderança tão grande, que Gabe Newell e seus comandados não devem estar perdendo suas noites de sono. Ainda assim, essa é uma investida que não pode ser ignorada.
Contudo, mesmo com essa distribuição de “agradinhos” tendo passado a impressão de que a Epic havia desbloqueado um macete de dinheiro infinito, nem mesmo uma mina de ouro como o Fortnite pode ser explorada indiscriminadamente. E isso pôde ser visto no dia 28 de setembro, quando Tim Sweeney enviou um memorando para seus funcionários.
No documento, o CEO da Epic Games anunciou a demissão de 16% do quadro de funcionários da empresa, um duro golpe que atingiu 830 pessoas. “Já há algum tempo gastamos muito mais dinheiro do que ganhamos, investindo na próxima evolução da Epic e no crescimento do Fortnite como um ecossistema inspirado no metaverso para criadores,” disse. “Há muito que estava otimista que poderíamos passar essa transição sem demissões, mas em retrospecto, vejo que isso era irreal.”
Sweeney continuou, admitindo que apesar do seu principal jogo ter voltado a crescer, isso foi impulsionado pelos conteúdos criados externamente e que devido o compartilhamento de receitas, a margem de lucros para eles é menor que a registrada quando o Fortnite Battle Royale foi lançado.
“O sucesso com o ecossistema dos criadores é uma grande conquista, mas significa uma grande mudança estrutural na nossa economia,” explicou o executivo. “Pessoas da Epic em todo o mundo tem feito esforços contínuos para reduzir custos, incluindo mudar para zero contratações e cortar gastos operacionais em coisas como marketing e eventos. Porém, ainda estamos muito aquém da sustentabilidade financeira.”
Diante deste cenário, será mesmo que cortar completamente o faturamento com jogos é a melhor saída, mesmo que isso aconteça por “apenas” seis meses? Vale lembrar que quando se trata de um lançamento, os primeiros meses costumam ser aqueles em que os jogos mais faturam, mas para o alto escalão da Epic, para garantir algumas exclusividades esse é um dinheiro que não lhes fará falta.
Talvez eles estejam mirando no futuro, enxergando um cenário muito mais amplo e complexo do que eu. De qualquer forma, fico me perguntando quanto tempo demorará até que mais algumas centenas de profissionais sejam afetados por uma nova leva de demissões, no que parece apenas uma inconsequente tentativa de derrubar o principal serviço de distribuição de jogos para PC.