Consegui um teste, nada certo, no Japão. Teve um amistoso, graças a Deus fui muito bem, fiz gol e consegui um ano de contrato. Foi algo único. Não esperava sair do país, pra ser sincero. Eu sonhava, ser um jogador de futebol profissional, mas não acreditava que ia ter esse privilégio de ir pra um país de primeiro mundo, de jogar futebol, fazer alguns gols. Foi um choque de realidade. É muito difícil a língua. Eu procurei mais saber o básico: vai pra direita, vai pra esquerda, pra frente, pra trás. Quando chegava no mercado lá pra comprar alguma coisa, apontava assim, quero isso aqui.
Pandemia levou ao desemprego
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Michael voltou ao Brasil de férias e quando tentou retornar ao Japão foi proibido devido às restrições da covid-19. Ele tinha uma boa proposta do futebol japonês, mas ficou dois anos desempregado no Brasil. Vivia de bicos, mas nem todos ele conseguia suportar.
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“Fui trabalhar com meu padrasto. Eu, minha esposa e a minha filhinha pequenininha ainda mudamos para perto do Minas Gerais. Fui cortar cana, uns matos enormes da altura de uma casa… Primeiro dia e eu não aguentei, cheguei em casa chorando de dor. Falei pra ele: ‘me desculpe, mas não dá pra mim não’. Ele arrumou outro trabalho. Cinco da manhã, ele me levou para a rodovia: um varria e outro pintava o asfalto da estrada toda. Passei uns três meses, juntei um dinheirinho pra ir pra casa. Vendi a televisão, comprei as coisas da minha filha. Voltamos pra Feira de Santana pra trabalhar na feira. Acordava umas três da manhã, pegava as verduras e frutas. Foi um meio de a gente conseguir colocar o que comer dentro de casa.”
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Em dado momento, Michael chegou a ir para São Paulo com o empresário para ajudá-lo em troca de 500 reais. O dinheiro era para comprar o leite da filha recém-nascida. “Até hoje me emociona falar sobre essas coisas. Eu já não tinha mais esperanças de voltar para o futebol depois de ter ficado muito tempo em casa, desempregado. Ele me deu uma força enorme e arrumou um time para voltar para o Japão em 2022, só que não tinha como me inscrever. Pedi para ele me levar para o time dele em Portugal, só que esse time joga a 4ª divisão. Joguei uns jogos e um pessoal da Bulgária, da 1ª divisão, me mandou mensagem interessados. Eu fiquei desesperado. Eu chorava, ligava pro dirigente: ‘pô, vocês têm que me liberar aí, é uma oportunidade única’. Uma agonia. Conseguiram entrar em acordo, o clube pagou a multa e vim pra cá.”
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