E, às vezes, é bom começar uma experiência com expectativas moderadas. O que poderia ser mais um preview protocolar aqui do Flow Games (entre muitos que fazemos) acabou se tornando um despertar de interesse fortíssimo por Avowed: o game que não estava no radar e, agora, mal posso esperar para jogar.
Não se engane pelos trailers e impressões breves que tivemos até agora. Avowed parece bastante promissor, traz um combate bem mais interessante e dinâmico do que aparenta, promete um universo rico com uma trama cheia de nuances e, principalmente, muita diversão.
O Flow Games teve a oportunidade de testar as primeiras 3 horas do jogo e conta abaixo o que achamos. Confira nossas primeiras impressões!
Universo e tramas bem mais interessantes do que imaginava
Avowed empacota muito mais do que você imagina. Por ser uma IP nova, era difícil saber o que esperar em termos de construção de mundo, que compila elementos como personagens, tramas de fundo de localidades, raças e culturas, coerência entre as histórias e até mesmo o tom em que tudo isso é amarrado e mastigado para o jogador.
Surpreendentemente, a premissa de Avowed é excelente. Na história, acompanhamos um personagem (criado por nós) que nasceu com o toque de uma divindade, algo que concede poderes especiais, mas também preconceitos pela aparência deformada e fora do comum.
Porém, Avowed não cai na armadilha de explorar novamente o mesmo clichê do protagonista que sofre preconceitos. Pelo contrário, ele trilha uma vereda diferente: no roteiro, o protagonista é adotado pelo imperador de uma nação (aparentemente totalitária) que, ao mesmo tempo que se compadeceu da situação, também nos utiliza como uma ferramenta para seus interesses.
É interessante essa abordagem porque, ao mesmo tempo que o personagem faz parte de um grupo renegado, ele também é um afilhado e emissário do próprio imperador, criando situações muito mais intrigantes nos diálogos do que se imagina.
Além disso, por ser um RPG, também podemos escolher nosso background, como acadêmico, nobre ou até mesmo herói de guerra (essa escolha acaba atrelando a sua classe também, mas é possível mudar atributos manualmente e contornar isso), que pode gerar opções únicas em cada diálogo da aventura – tanto com sua história pessoal quanto com opções baseadas em seus atributos.
Na campanha, temos que investigar a Praga dos Sonhos, uma infecção de poros que está transformando pessoas e a vida selvagem em criaturas agressivas nas chamadas Terras Férteis, um continente distante. De uma forma peculiar, Avowed parece ter uma temática ecológica misturada com magia, acabei gostando bastante (por mais estranho e ruim que isso possa parecer).
Ao longo das primeiras horas, encontramos uma entidade ou alguma força ancestral que sabe como curar essa praga, mas ao custo de um favor. Será que damos bola ao chamado ou será que é uma armadilha elaborada para nos manipular aos seus interesses? Ou, quem sabe, o próprio imperador também não seja uma figura confiável? As decisões e dilemas apresentados logo no começo foram muito mais do que suficientes para me fisgar.
Tudo que eu vi apresentado em Avowed no começo da campanha me instigou bastante a apreciar e querer saber mais desse mundo. Em uma propriedade intelectual nova isso pode ser um desafio grande e eu costumo ser o tipo de pessoa bem criteriosa com elementos narrativos, mas tudo me pareceu bastante promissor.
Combate surpreendentemente dinâmico
Convenhamos que os trailers de revelação não venderam muito bem a premissa de gameplay de Avowed, que parecia um pouco truncado e genérico – sendo chamado, inclusive, de cópia simplificada de The Elder Scrolls. Sim, é verdade que The Outer Worlds seguiu uma fórmula próxima de Fallout, mas Avowed não é bem uma derivação de The Elder Scrolls.
Como alguém que também teve essa impressão mais negativa, fui pego de surpresa e provado o contrário. Pode parecer uma opinião ousada e que vai ser impopular, mas, ao menos nas primeiras horas, Avowed me pareceu muito mais divertido (ao menos em questões de gameplay de combates) que Skyrim.
Está na hora de admitir que o bom e velho Skyrim é bom, mas já tem 13 anos de idade. Avowed itera em cima da fórmula sim, a clássica luta corpo a corpo em primeira pessoa, mas há muito mais aqui do que você imagina. Existem diversos tipos de armas diferentes e cada uma com uma jogabilidade muito singular, sem parecer uma leve mudança de status a cada troca de equipamento.
Varinhas, tomos mágicos, espadas, machados largos, martelos de duas mãos, arcos, adagas, magias, arremessáveis, tudo que você pensar há por aqui e funcionam de forma distinta tanto na jogabilidade quanto com os seus atributos.
Avowed sabe mesclar muito bem o uso das armas e feitiços de uma maneira bem dinâmica, trazendo golpes melee que funcionam bem e atalhos rápidos para habilidades de classe ou magias poderosas. Um dos sistemas utilizados aqui é um que sou bastante fã: a interação de magias diferentes causando efeitos combinados.
Outro ponto interessante é que os inimigos também têm uma barra de vigor e podem ficar cansados, gerando uma oportunidade perfeita para a execução de uma finalização especial (com animação e tudo!). Há diversas nuances como essa e poderia falar muito mais, como os pontos fracos dos inimigos, barras de defesa e por aí vai.
Você ainda precisa se preocupar com defesa, barra de vigor em ataques, poções de vida e mana, tempos de recarga de habilidades e até esquivas, então o ritmo é rápido e bem divertido. “Tédio” certamente não é uma palavra que se encaixa por aqui. E claro, você ainda tem um sistema de nível, atributos que aumenta manualmente e escolha de skills, além do loot, equipamentos com habilidades passivas e mais.
Sem dúvidas, Avowed é um RPG promissor. O que me passava uma impressão de truncado e esquisito, se tornou uma experiência que me fazia buscar inimigos para encontrar uma dose surpreendente de diversão. Ou até quests para antagonizar algumas pessoas folgadas do mundo de Eora.
Vale reforçar que Avowed tem uma opção de jogar em terceira pessoa, mas ela é… meio esquisita. Pode parecer que a perspectiva às vezes é puramente estética, mas fica claro que o game foi pensado para ser jogado em primeira pessoa.
A visão ampla e vendo o personagem é truncada, imprecisa, com movimentação estranha e difícil de usar para pegar objetos ou atacar inimigos. Eu imagino, ao menos por ora, que seja uma solução quebra-galho para pessoas com cinetose. Além disso, essa opção (pelo menos na build de preview) só podia ser ativada no menu de configurações, então nada de atalho rápido no controle ou teclado.
Direção de arte chamativa
Outro ponto de Avowed que passou por muitos comentários de internet foi a direção de arte do jogo. De uma maneira peculiar, parece que, ao mesmo tempo, o público está cansado de gráficos fotorrealistas, mas também rejeita estilos originais.
Sim, Avowed não traz à mesa uma experiência extremamente real e com gráficos feitos com fotogrametria ou outras técnicas que tentam emular a realidade, mas, após algumas horas com o game, eu acabei gostando muito do estilo visual. Há uma mistura de técnicas avançadas, como ray tracing, com uma arte mais estilizada muito bacana.
A equipe foi bem criativa ao desenhar dungeons, planícies, florestas, praias e até personagens, dando um toque autoral e um DNA próprio que, daqui a alguns anos, estará bem menos datado do que o título fotorrealista de ponta.
Eu quero chegar justamente no ponto que estilização não é sinônimo de gráficos ruins. Pelo contrário, Avowed roda na Unreal Engine 5, tem muitas técnicas avançadas e é belíssimo – ao menos até a parte que testei.
E o melhor? Mesmo sendo uma build antecipada, a experiência estava bem polida, sem bugs aparentes e com uma performance bem interessante, principalmente por incluir DLSS 3 com geração de frames. Rodando com tudo no Ultra em uma GeForce RTX 4090 e em 1440p, estava tendo médias acima de 150 fps.
A única ressalva é que as animações faciais ainda não estavam das melhores, com alguns aspectos estranhos em certas situações e problemas na sincronização labial.
O que esperar de Avowed?
Se você esperava que Avowed fosse ser apenas mais um jogo lançado por aí, uma cópia inferior de The Elder Scrolls, talvez valha a pena começar a prestar mais atenção nesse jogo. Inclusive, foi o que aconteceu comigo: não esperava nada, ele me entregou tudo.
Claro, foram apenas as 3 primeiras horas de conteúdo e isso está longe de ser um veredito, mas eu me diverti e apreciei tanto o material inicial que fiquei até triste em relembrar o adiamento de 2024 para 2025: tudo que eu queria nesse momento era continuar a jogá-lo. Para quem estava receoso em encontrar uma experiência genérica, isso diz muito.
Avowed está previsto para chegar ao PC e Xbox Series no dia 18 de fevereiro de 2025 (Day One no Game Pass também) e só espero que ele continue a me surpreender positivamente.