Tecnologia brasileira transforma o manejo integrado de pragas agrícolas


O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é um sistema de manejo que combina técnicas e práticas agronômicas para manter a população de pragas abaixo do nível de dano econômico (NDE). O MIP inclui técnicas como controle biológico, químico, físico e práticas específicas para permitir o crescimento saudável das culturas, minimizando o uso de pesticidas, os riscos à saúde humana e ao ambiente.

O monitoramento de pragas e doenças é a base do MIP, ao permitir que o produtor identifique e atue de forma precisa para controlar uma infestação que ameaça a lavoura. Para monitorar insetos nocivos, é comum a adoção de diferentes tipos de armadilhas.

 — Foto: Globo Rural
— Foto: Globo Rural

A armadilha luminosa captura os de hábito noturno, atraídos pela luminosidade. A do tipo delta utiliza feromônios sexuais sintéticos para capturar insetos de forma seletiva. Esses dispositivos costumam ter piso adesivo, fazendo com que os insetos grudem e fiquem aprisionados, a fim de que sejam identificados e contados.

Porém, engenheiros agrícolas e biólogos das principais universidades de Campinas perceberam um problema: o monitoramento com essas armadilhas convencionais é lento, trabalhoso e sujeito a erros. Segundo a bióloga Nathalia Silva, especialista em entomologia agrícola, leva muito tempo para o inspetor de pragas (ou “pragueiro”) percorrer os talhões e extrair os dados das armadilhas.

Se o intervalo entre avaliações for muito grande (uma semana ou mais), ocorre a deterioração do inseto, dificultando a identificação e causando erro de classificação. A baixa frequência do monitoramento também é problemática porque, dependendo do ciclo biológico da espécie, ela irá se reproduzir antes que o agricultor consiga atuar.

O fato é que menos de 5% das áreas agrícolas são efetivamente monitoradas (FAO, 2020), e a falta de monitoramento impede que sejam gerados alertas precoces, limitando assim a precisão espacial e temporal do controle das pragas. Para piorar a situação, a aplicação indiscriminada de inseticidas vem gerando um número crescente de casos de resistência a esses produtos, obrigando a indústria a modificar com frequência cada vez maior sua composição.

A fim de resolver o problema, os especialistas brasileiros desenvolveram armadilhas inteligentes com características únicas. Alimentadas por energia solar, elas atraem os insetos e usam inteligência artificial – em vez do reconhecimento visual humano – para classificar e contar múltiplas espécies. O piso adesivo é autolimpante, facilitando a manutenção.

Tempo real

O processamento das imagens é embarcado, ou seja, feito na própria armadilha. Uma vez processados, os dados são transmitidos via satélite e alertas são enviados por WhatsApp aos responsáveis pela fazenda, permitindo que o produtor monitore as pragas da lavoura em tempo real.

No mercado existem soluções semelhantes, mas o equipamento desenvolvido em Campinas tem diferenciais importantes. Ao realizar o processamento embarcado e transmitir os dados por satélite, ele prescinde do uso da rede celular que, como sabemos, tem abrangência e qualidade limitadas nas áreas rurais do Brasil. Isso faz com que a armadilha inteligente brasileira se torne uma solução confiável e de baixo custo, acessível aos pequenos produtores rurais, especialmente quando organizados em cooperativas ou associações.

O manejo digitalizado de pragas é utilizado desde 2020 nas principais culturas agrícolas do Brasil, como algodão, soja e milho. Em 2023, iniciou a expansão para outros segmentos, como a fruticultura exportadora e a horticultura. O que todos esses segmentos do agro buscam ao adotar a tecnologia é produzir de forma mais sustentável, aplicando insumos químicos ou biológicos no lugar certo e na medida certa.

* Caio Bianchi é especialista em agronegócios (ESALQ/USP)

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural


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