A onda dos “refugiados do TikTok”, como têm sido chamados os americanos em busca de refúgio digital com o possível bloqueio da plataforma da ByteDance, atraiu adeptos brasileiros. Desde a semana passada, a média diária de downloads do aplicativo chinês RedNote (“Livro Vermelho”, em português) quadruplicou.
A plataforma é similar ao TikTok, mas com mais recursos, incluindo álbuns de fotos e texto. O tema predominante é o estilo de vida, a exemplo dos conteúdos de viagem e moda.
- A partir de domingo: Chineses avaliam vender TikTok a Elon Musk para escapar da proibição do app nos EUA
- Para manter audiência: Estrelas do TikTok temem banimento da rede nos EUA e buscam atrair seguidores para o Instagram
Por enquanto, a rede está disponível em apenas dois idiomas: chinês (tradicional e simplificado) e inglês. Mesmo assim, 30 mil brasileiros decidiram, no último mês, se aventurar no Xiaohongshu, como é chamado o app na China. Desde o lançamento do app no Brasil, foram 257 mil downloads no país.
Distantes da briga geopolítica que pode culminar no bloqueio do Tik Tok nos EUA, os brasileiros aumentaram a procura pelo app nos últimos dias. A onda brasileira ainda é tímida, mas fez crescer a média diária de downloads do RedNote nas lojas de aplicativo de Apple e Google em 288%, de 900 para 3,5 mil. Os dados são de levantamento exclusivo da consultoria AppMagic, feito a pedido do GLOBO.
- Soberania: Governo Biden adota regras para restringir a disseminação global da IA
O interesse veio na esteira da mobilização dos tiktokers dos EUA em reação à possibilidade de o aplicativo de vídeos curtos ter de deixar o país. Na sexta-feira passada, a Suprema Corte americana indicou que validará a lei que força a ByteDance, controladora do TikTok, a vender ou encerrar as operações até o dia 19, próximo domingo.
O próprio TikTok estaria planejando, por iniciativa própria, fechar seu aplicativo para usuários dos EUA a partir dessa data.
Influenciadores
Em reação à movimentação, influenciadores americanos populares passaram a recomendar a migração para o RedNote. A mobilização fez com que a rede chegasse ao topo dos aplicativos mais baixados nos EUA nos últimos dias e alcançasse o primeiro lugar na loja de apps da Apple.
Criada em 2013, a rede social é uma das mais populares na China, origem da maioria de seus 300 milhões de usuários mensais. No Brasil, o nome da rede nas lojas de aplicativo aparece em chinês. Ao baixar o app e fazer o login, o usuário também precisa navegar no idioma do país, que aparece como padrão. Ao chegar nas configurações, é possível mudar o idioma para o inglês.
- O que não pode ser dito nas redes sociais? Veja as diferenças entre as legislações no Brasil e nos EUA
A navegabilidade é intuitiva, e mesmo quem não entende o idioma verá logo uma série de recomendações de vídeos que podem ser explorados em formato similar ao TikTok.
Para a mineira Bianca Brisa Skov, de 46 anos, o idioma do RedNote não foi barreira. Fã das c-dramas (como são chamadas as séries dramáticas e românticas chinesas), ela entrou no app após ver a indicação de uma influenciadora de conteúdos sobre o país.
- Destino: TikTok enfrenta disputas legais em 20 países
— Já me conectei com uma menina chinesa. Traduzo tudo no ChatGPT, e estamos conversando por lá — conta a confeiteira, que diz que, quando chegou no app “não entendeu nada”. — Depois que entrei, comecei a entender melhor. Agora estou interagindo com os chineses.
Efeito da curiosidade
In Hsieh, especialista em negócios China-Brasil, diz que o ganho de popularidade do RedNote vem na esteira de um movimento, que tem o TikTok como um dos protagonistas, a internacionalização das plataformas chinesas.
— Começa com uma expansão em outros países da Ásia e depois chega a outros mercados. A estratégia para isso costuma ser semelhante e envolve a criação de uma versão internacional do aplicativo, mais amigável para o público externo, como aconteceu com o próprio TikTok — diz Hsieh.
Marcello Rullo, diretor de criação e conteúdo na W3haus, não acredita em um crescimento maior do RedNote no Brasil:
— O que estamos vendo mesmo é uma movimentação baseada na curiosidade.