A estilista francesa Coco Chanel (1883-1971), que no século XX fincou os saltos numa indústria dominada por homens e ajudou a revolucionar a moda, sempre soube que estilo extrapola vestidos e sapatos. “A moda está no céu, na rua, a moda tem a ver com ideias, com o jeito que vivemos, com o que está acontecendo”, definiu. Na escaldante realidade de hoje, com os termômetros em franca ascensão, a indústria que movimenta globalmente mais de 1 trilhão de dólares tem mais do que nunca a tecnologia como aliada para aliviar os efeitos do calorão sobre o corpo.
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“Não adianta estar bem-vestido e desconfortável. A roupa precisa ser funcional. Investimos em tecnologia antiodor, com fator de proteção solar e que não amassa”, diz Felipe Crepalde, gerente de estilo da Reserva. “Há cada vez menos separação entre as marcas esportivas e as casuais. A prova disso é que todo mundo usa tênis com calça de alfaiataria. O grande desafio é tornar esses tecidos tecnológicos elegantes”, faz coro Gabriel Zandomênico, cofundador e CEO da Oficina, que revolucionou o mercado com um algoritmo que calculava medidas para personalizar camisas sociais.
Marcas e países estão engatados nesta corrida que envolve alta capacidade de inovação na indústria têxtil. Entre as nações tradicionalmente na dianteira, se posiciona o Japão, que tem a mostrar casos como a Uniqlo — fast fashion que utiliza o tecido HeatTech, fino e confortável, para criar designs moderninhos e bem distintos dos do segmento de roupas térmicas tradicionais.
No Brasil, a Track&Field, do nicho esportivo, é detentora da patente do Ultramax Stretch, tecido leve, com fibra sintética e elastano, que ativa a saída do suor da pele e seca rapidamente, permitindo ao corpo se manter fresco. Pesquisas apontaram que não era apenas para a prática esportiva que as pessoas buscavam tal leveza, mas também para o dia a dia. Em meados de 2024, a empresa criou uma célula de inovação, de onde saíram novidades como o tênis Aeris, com tecido bactericida. “A gente tinha duas linhas, de praia e esporte. Hoje, elas estão conectadas”, explica Fernando Tracanella, CEO da Track&Field.
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As novidades pensadas para a praia vêm experimentando chacoalhadas com o avanço da tecnologia. O poliéster, um tecido mais grosso, foi substituído pela poliamida, um fio mais nobre, mais macio e “geladinho”, conferindo frescor. Essa fibra sintética também apresenta boa elasticidade, absorve o suor facilmente e retém menos areia.
A Makai, marca de biquínis que caiu nas graças da geração Z, investiu em uma poliamida com proteção contra raios ultravioleta que se degrada em três anos quando descartada corretamente, velocidade dez vezes mais acelerada que o normal.
“É um tecido bem mais caro, tivemos de diminuir a margem de lucro. Tem fornecedor que até acha estranho, mas é o que faz sentido para uma marca que preza pela sustentabilidade”, explica Giulia Calbucci, diretora criativa da Makai. Há outras enveredando por filosofia semelhante.
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A Alto Giro, voltada para moda fitness e praia, apostou em tecidos que empregam menos água e energia no processo de tingimento e bloqueiam os raios UVA e UVB. Além disso, as fibras recebem tratamento para aumentar a resistência, esticando sua vida útil.
Não apenas a estética, mas também a saúde se beneficia do afã criativo e do esforço inovador do pessoal dedicado ao conforto proporcionado pelos tecidos. “O calor agrava doenças inflamatórias e algumas condições, como o lúpus eritematoso sistêmico, que são desencadeadas pela incidência dos raios UV. Proteger-se é obrigatório”, ressalta Carlos Baptista Barcaui, professor titular de dermatologia da Uerj e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, acrescentando que o suor excessivo deixa o corpo propenso a infecções bacterianas e fúngicas.
É imprescindível, portanto, optar por pedaços leves de pano. Como já dizia Chanel, a moda é uma expressão dos novos tempos. E eles, certamente, exigem mais leveza.
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