Quando Alan Wake chegou ao Xbox 360, em 2010, muitos elogiaram a nova propriedade intelectual da Remedy Entertainment, criadora de Max Payne. Por anos, o jogo foi aclamado como um expoente do terror nos games, mas ele sofria de um mal que era “jogo que todos amam, mas poucos realmente jogaram”.
Sua remasterização, lançada para praticamente todos os consoles atuais, dava a oportunidade de mais pessoas conhecerem a história do escritor Alan Wake, mas ainda faltava alguma coisa.
Com o lançamento de Alan Wake 2, fica praticamente impossível ignorar o personagem da Remedy, principalmente porque ele se firma no universo compartilhado da desenvolvedora naquele que tranquilamente concorre ao título de jogo do ano — em um ano já recheado de excelentes títulos.
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Anteriormente, em Alan Wake…
Alan Wake era um jogo interessante e focado no personagem-título, um autor que resolve eliminar o herói de seus livros e viaja com a esposa para uma cidadezinha claramente inspirada em Twin Peaks. Chegando lá, Alan acaba envolvido em uma trama de mistério, que mistura o sobrenatural, realidades paralelas e poderes especiais.
Ao final do primeiro jogo, Alan acaba preso nessa realidade sombria, com poderes capazes de reescrever a realidade, algo que forças da escuridão desejam para si.
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Aproveitando o período entre os dois jogos, Alan Wake 2 começa exatamente 13 anos depois do primeiro capítulo, mostrando que o autor de fato está desaparecido há todo esse tempo. Porém, não é assim que o jogo começa.
Os primeiros minutos da Alan Wake 2 servem como uma das melhores introduções para um jogo de terror nos últimos tempos, criando uma atmosfera suja, pesada e realmente intrigante.
Em poucos minutos, você consegue entender exatamente qual será o tom do jogo, sua violência e como tudo o que está ao seu redor ajuda a construir essa narrativa. Só que você não começa controlando Alan Wake.
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Na sequência, por conta do sumiço do autor, você assume o controle de Saga Anderson, uma agente do FBI que chega à cidade de Bright Falls para investigar um assassinato possivelmente realizado por uma seita. Não demora muito para que o sobrenatural tome conta da trama e as histórias de Saga e Alan comecem a se cruzar.
Terror e metalinguagem
Logo no começo, a Remedy brinca bastante com a sua própria história como estúdio. O autor Alan Wake é bastante famoso por uma série de livros policiais que giram em torno do agente linha dura Alex Casey, que é basicamente Max Payne. O personagem criado pela Remedy hoje em dia é de propriedade da Rockstar Games, então, esse foi o jeito criado para manter a ideia dele viva.
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Só que o negócio vai tão além que Alex Casey é interpretado por Sam Lake, escritor da Remedy e que emprestou sua cara fechada para Max nos primeiros games da série. Se isso não fosse suficiente, James McCaffrey, dublador de Payne, empresta sua voz para Alex Casey.
Essa brincadeira com metalinguagem combina muito com o jogo e sua trama, que mistura as linhas do que é real e o que é fictício, em cima de uma história de assassinato e possível fim do mundo pelas mãos de seres sombrios.
Um jeito muito interessante em que isso também é usado é como as investigações e pistas são abordadas por Saga e, eventualmente, por Alan. Saga constrói seu próprio “palácio mental”, onde reúne todas as pistas possíveis para tentar encontrar sentido naquilo que está encontrando.
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Aos poucos, você vai conectando fotos, informações de personagens e fatos para conseguir montar uma narrativa e tentar solucionar os casos que acaba enfrentando durante o jogo. Isso fica ainda melhor quando assumimos o papel de Alan Wake, que utiliza um quadro de construção de história, algo bastante comum para escritores.
Juntando fatos que poderiam acontecer, Alan pode simplesmente reescrever a história usando elementos que encontra pelo caminho. Muitas vezes, para conseguir avançar em certa cena, é necessário entrar nesse modo, modificar alguns elementos e ver como a realidade é moldada de maneira diferente, permitindo o seu avanço.
É algo muito interessante e que foi usada no jogo de maneira brilhante, já que combina muito com o seu estilo e com a forma como a mente de uma investigadora e um autor poderiam funcionar naquela situação.
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Combate sujo e crocante
Como era de se esperar, Alan Wake 2 traz uma evolução considerável no seu combate, ainda atuando bastante com a combinação de lanternas, usadas para acabar com a escuridão e enfraquecer possuídos, com armas de fogo. A mais de uma década entre os dois jogos trouxe melhorias sensíveis, lembrando que a Remedy já havia lançado um jogo de ação recentemente na forma de Control e foi responsável por um dos melhores jogos de ação do começo dos anos 2000, que foi Max Payne.
Em Alan Wake 2, a falta de recursos e o cenário, geralmente bastante escuro, fazem com que o combate seja sempre muito intenso. Isso porque os recursos encontrados são escassos, logo, cada bala ou cada pilha para sua lanterna devem ser muito bem utilizados.
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Mais de uma vez, durante combate com chefes, o uso errado de munição se tornou a causa da morte do personagem utilizado. E, mesmo quando você é cuidadoso e consegue ter recursos suficientes para se sentir seguro para um combate, basta surgir mais de um inimigo por vez para que tudo fique bastante complicado.
Jogo lindo, mas é pesado
Alan Wake 2 é certamente um dos jogos mais bonitos e impressionantes graficamente de 2023. Em nossos testes, utilizando o PlayStation 5, o jogo não apresentou muitos problemas no modo desempenho, trazendo belos gráficos e alta taxa de frame em boa parte da experiência.
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Em seu modo fidelidade, é possível notar texturas bem mais trabalhadas, porém, pela primeira vez, tive a experiência de ouvir o console fazer mais barulho em cenas mais complexas. Considerando que, durante toda a análise de Marvel’s Spider-Man 2, mesmo em momentos de ação, o console permanecia em silêncio, fiquei um pouco impressionado com esse fato.
Caso você tenha interesse em jogar Alan Wake 2 no PC, saiba que a experiência pode ser bem melhor, porém, será necessário ter uma máquina consideravelmente forte para poder aproveitar bem o game.
Um futuro brilhante para o RCU
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O Universo Conectado da Remedy, o RCU na sigla em inglês, parece ter ganhado ainda mais fôlego com Alan Wake 2. Depois de Control ter de fato iniciado esse universo de jogos da desenvolvedora, abraçando Alan Wake e elementos de jogos que não são de propriedade da empresa, como Max Payne e até mesmo Quantum Break, tudo fica muito mais divertido de acompanhar.
Detalhes são deixados soltos para que os fãs consigam conectar as tramas, que agora podem ser exploradas de diferentes formas. Quem gostou de Control vai curtir bastante as menções que o jogo recebe em Alan Wake 2, principalmente por entender que a história não vai mais ficar presa em sequências diretas.
Assim como acontece nos cinemas, com o caso da Marvel, a Remedy agora tem um universo vivo para explorar e, se Alan Wake 2 é uma amostra do que ela pode fazer, o futuro da empresa será bem divertido.
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Alan Wake 2 está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series S/X.