‘A saliva da fala: notas sobre a poética banto-católica no Brasil’ é um ensaio contundente sobre a importância cultural e literária dos cantopoemas
Repensar a cultura brasileira a partir da produção dos povos negros, entender as profundezas que a historiografia do Brasil fez questão de esconder para validar as estruturas do racismo, aplicar às manifestações de origem banto o que a crítica literária considerava apenas na arte influenciada pelos princípios europeus. É em busca dessa nova perspectiva que a Fósforo lança a reedição revista de A saliva da fala: notas sobre a poética banto-católica no Brasil (Fósforo, 336 pp, R$ 89,90), um ensaio contundente sobre a importância cultural e literária dos cantopoemas banto-católicos do Congado mineiro. Partindo da premissa de Antonio Candido de que, para um texto ter tratamento literário, é preciso que se sustente no tripé autor-obra-público, Edimilson de Almeida Pereira, faz uma incursão pelo interior de Minas Gerais para provar que as manifestações festivas do Congado, existentes no Brasil desde o século 16, podem e devem ser consideradas obras literárias uma vez que os cantopoetas são os autores, os cantopoemas, as obras, e os devotos, o público. Em uma análise profunda, resultado de viagens e pesquisas ao longo de quase quatro décadas, o autor extrai dessas obras a tensão que sempre permeou a convivência entre brancos e negros nas antigas colônias, tensão essa que possibilitou a fundamentação de uma cultura regida por influências tanto banto quanto católicas. A saliva da fala é, portanto, um tratado a respeito das diversas possibilidades que a cultura brasileira pode e deve abarcar, sobre o que precisa urgentemente ser aceito para que o Brasil possa enfim se entender como diverso e plural. Cada pedaço deste país tem uma preciosidade que necessita ser reconhecida e difundida. Além da teoria, o livro traz uma antologia de cantopoemas para completar nossa compreensão sobre o que é verdadeiramente brasileiro.