Na próxima segunda-feira (27), às 17h, no Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá, será realizado o evento Cultura é Motor: Desenvolvimento, Impacto e Transformação”, idealizado por Priscila Seixas e Thiago Ramires, gestores da produtora e ONG Burburinho Cultural, sediada no Rio de Janeiro, com atuação no estado fluminense e em todo o Brasil. O objetivo é compartilhar com convidados e público de todos os campos do saber análises e ideias, sobretudo resultados, de como se torna possível permanecer, ao longo de quase 18 anos, na atividade da produção e realização de projetos de Educação e Cultura no Rio e no país, através das leis de incentivo, tornando-as engrenagem para a construção do progresso. Mais ainda: comprovar que a cultura é alavanca fundamental para o desenvolvimento econômico do país, provocando impacto e transformação através da cidadania, pertencimento e geração de renda. A participação é gratuita.
No vértice do encontro está o lançamento do livro “Método Burburinho de produzir cultura” (Ed. Casa Editorial, 91 págs, R$ 49). Idealizado para vir a público por ocasião dos 15 anos da produtora, listando 15 projetos, foi adiado em função da pandemia. O livro é escrito pelo diretor de projetos Thiago Ramires e pela CEO da Burburinho Cultural, Priscila Seixas. Entre os diferenciais das raras publicações do gênero, o livro informa assertivamente erros e acertos, elenca dicas para relacionamentos em rede e contextualiza produção cultural e política cultural com a Lei da Emergência Cultural ou Lei Aldir Blanc (LAB). Também traz fotos e números sobre os anos recentes, e brifa os que buscam executar projetos em cooperação internacional (relacionamentos com consulados, institutos estrangeiros existentes no Rio, e curadores internacionais têm protocolos), para destacar alguns momentos da publicação, dividida em cinco capítulos. Tudo converge para a metodologia que esses dois diplomados pela Faculdade de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense (UFF), a primeira no país, desenvolveram na prática de trabalho em quase 20 anos.
Vale registrar que é indissociável da prática o aprimoramento constante. Priscila Seixas é doutora em Mídia e Cotidiano e mestra em Ciência da Arte. Nasceu na Tijuca, vive no Grajaú, onde é a sede da Burburinho. Atua como professora na graduação tecnológica do Senac-Rio e na pós-graduação da Mackenzie-RJ. Ganhadora do prêmio Rio Sociocultural 2011, com o projeto “Cordel com a corda toda”, e do Prêmio Atitude Carioca 2022, na categoria “Impulsionando o Rio”, pela Casa Escola de Arte e Tecnologia (CEAT), em Itaboraí, foi finalista do prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2022.
Nascido em Campo Grande, Thiago Ramires trabalha há 15 anos na atividade de cultura, é mestre em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo sido responsável pela concepção e direção de projetos de programação de equipamentos culturais do Rio e São Paulo, tempo em que reuniu a expertise de trabalhar com projetos socioculturais de grande amplitude pelo país, além de ter trabalhado como produtor no Museu do Amanhã e no Sesc-Rio. Ambos estão à frente de uma equipe enxuta capaz de se deslocar em viagens constantes e realizar uma rotina vigorosa dentro e fora do escritório.
O livro “Método Burburinho de produzir cultura” mostra como a adaptação é aliada no percurso. Na introdução, recupera memória dos disparates da história recente do Brasil. Por exemplo, lembra que o Ministério da Cultura (MinC), fundado em 15 de março de 1985 (decreto nº 91.144) pelo então presidente José Sarney, foi extinto em 2 de janeiro de 2019 (medida provisória nº 870) pelo então presidente Jair Bolsonaro, decretando que as atribuições do MinC fossem encampadas pelo Ministério da Cidadania. Em 7 de novembro de 2019, a Secretaria Especial da Cultura é transferida para a pasta de Turismo. Pelo conjunto dos acontecimentos, a Economia da Cultura, estimada em quase 7 milhões de trabalhadores (dados do IBGE), viveu dias desafiadores nos últimos anos.
“Este livro reafirma que existe um modus operandi de extremo relevo para consolidar e entregar à sociedade trabalhos constantes e sérios. Cultura é cimento social. Fundada em 2006, a Burburinho é uma empresa vocacionada e especializada em criação, planejamento, gestão e realização de projetos culturais por meio de recursos públicos, diretos ou indiretos. O livro faz o percurso cronológico da produtora a partir de seu momento inaugural, o ciclo de debates ‘Marginais e heróis: 50 anos do manifesto neoconcreto no Brasil’, em 2009, no CCBB do Rio, com a presença do saudoso poeta Ferreira Gullar. Desde então, foram momentos singulares, como o projeto Uma Virada de Cores’ na favela de Heliópolis, em São Paulo, com 500 participantes realizando grafites, o projeto Cordel com a Corda Toda, em Nova Iguaçu, que foi premiado por utilizar a pedagogia do cordel como ferramenta para aprimorar questões de aprendizagem, a Casa Escola de Arte e Tecnologia, em Itaboraí, o projeto Criar Jogos Labs’ e o ‘Proje7o Arco-Íris’, que conecta artistas urbanos a estudantes da rede pública. Somar à rede pública do Rio e do Brasil se tornou uma prioridade nossa”, destaca Priscila Seixas.
A Burburinho Cultural conquistou o Prêmio Atitude Carioca, em 2022, com o projeto Casa Escola de Arte e Tecnologia CEAT, e os Prêmios Patativa do Assaré e Rio Sociocultural, em 2011, com o projeto Cordel com a Corda Toda. O eixo do Cultura é Motor: Desenvolvimento, Impacto e Transformação é demonstrar as possibilidades de geração de conhecimento e desenvolvimento humano e econômico, para ampliar tecnologias sociais no Brasil a partir da Cultura. Como explica o diretor de projetos Thiago Ramires. “O conceito do evento estrutura-se na importância da cultura como impulsionador do crescimento do país. E, no nosso caso, com forte apreço à descentralização, e reafirmando a democratização das ações. Cada projeto que sai do papel impacta as vidas de centenas de pessoas, e contribui para a aceleração e para o desenvolvimento social, cultural e econômico do Brasil em educação, tecnologia, saúde, sustentabilidade e diversos outros setores. Por isso, debater o investimento em cultura é trazê-la para uma centralidade necessária”, enfatiza Thiago Ramires.

A Casa Escola de Arte e Tecnologia em Itaboraí (acima numa aula de dança urbana) conquistou o Prêmio Atitude Carioca em 2022
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O evento também olha para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados pelas Nações Unidas em setembro de 2015, para implementação até 2030, em que a Cultura é parte fundamental na construção de um futuro diverso, inclusivo e sustentável. Nesse sentido, a Cultura tem papel mediador, sendo a costura que interliga diferentes realidades setoriais. É a partir da criatividade e do espírito inovador que podemos fazer a roda girar e, assim, impactar na sociedade como um todo. A Burburinho Cultural acredita em processos de transformação social através da interlocução de espaços sociais, principalmente entre setor público, mercado e universidade.
A partir de 2024, novos projetos de educação convidam alunos da rede pública ao aprimoramento. Como o Projeto Engenhoka, relacionado com a cultura maker, de incentivo à inovação e descoberta de soluções, unindo robótica e artes visuais. “Através do Instituto Burburinho Cultural, estamos em diálogo para cooperação técnica com a administração pública, parcerias com institutos federais, como o Instituto Federal da Bahia, com a secretaria de Educação do Ceará, capilarizando ainda mais os projetos no interior do Brasil. Realizamos semana que vem o Proje7o Arco-Íris, em Selvíria, Mato Grosso do Sul, cidade com 10 mil habitantes, da mesma forma que implantamos a Casa Escola Arte e Tecnologia, em Itaboraí, funcionando há dois anos com ações profissionalizantes e artísticas para centenas de moradores”, diz Priscila.
Ao longo do tempo de trabalho até agora, a Burburinho Cultural geriu equipamentos públicos, dirigindo a programação da Sala Sidney Miller e Sala Guiomar Novaes, do Teatro Cacilda Becker (Funarte), e da Sala Baden Powell. Além de sempre estar às voltas com projetos no espaço público. O Festival Internacional de Danças Urbanas do Rio de Janeiro (Rio H2K) ocorreu em 2011 e 2012. A Burburinho realizou o primeiro “kemps” de danças urbanas da América Latina, tendo como referência os festivais de danças urbanas que acontecem em todo o mundo, com ênfase na Europa. A ideia partiu do dançarino carioca Bruno Bastos: fazer um festival de dança de rua no Rio de Janeiro em que os participantes acampassem no lugar em que aulões e batalhas de hip hop fossem acontecer, em outras palavras, os “kemps”. A Burburinho deu os contornos da iniciativa, que teve como parceiros instituições de cultura pública e também parceiros da iniciativa privada.

Organizadores reunidos em Curitiba, onde o colégio ganhou uma pintura mural
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Outro marco foi Multidança Big Dance Rio, de 2012, integrado às Olimpíadas Culturais e aos Jogos Paralímpicos, ocorrendo simultaneamente em Londres, sede dos Jogos Olímpicos de 2012, Pequim, sede das Olimpíadas de 2008 e no Rio de Janeiro, palco do maior evento desportivo do planeta em 2016. A Big Dance, grande dança coreografada por multidões em lugares como museus, shoppings, estações de ônibus e trens, reuniu os coreógrafos Renato Vieira (diretor artístico), Alex Neoral e Renato Cruz no projeto Multidança. Mais de 500 pessoas participaram da iniciativa que ocorreu na Praça Tiradentes. O vídeo foi exibido na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012.
Em 2021, em plena pandemia, o projeto Dança.mov colocou no meio do caminho de quem circulava pela cidade, ainda sob o impacto da covid-19, totens que apresentavam cenas de videodança realizadas em toda a cidade. Citado no capítulo Produção Cultural e Espaço Público, o projeto foi iniciado em 2014 no antigo Oi Futuro, para mostrar a dança invadindo a cidade e tomando-a como inspiração. Foram feitos 10 filmes com participação de artistas de renome. A conclusão do projeto previa a apresentação em vias públicas do que foi filmado em site-specific. É o que ocorre em 2021. E os totens foram o canal para o momento de tamanha reformulação da realidade, na circulação cheia de regras para manter-se vivo. Houve exibição em totens instalados no Paço Imperial, na Floresta da Tijuca, na Central do Brasil e outros pontos para a fruição da beleza do projeto, que envolveu os coreógrafos Renato Cruz, Renato Vieira e Alex Neoral e seus bailarinos, que criaram coreografias inspiradas em paisagens como Lagoa Rodrigo de Freitas, Escadaria Selarón, na Lapa, Centro do Brasil e Floresta da Tijuca
“No mundo globalizado ou, como diria Guy Debord, no mundo da sociedade do espetáculo, evidenciam-se cada vez mais ações que privilegiam a imagem. A relação entre arte e espaço público é necessária para o desenvolvimento do contínuo papel da cultura na sociedade. A realidade cultural está na cidade. É nela que se deve pensar. O Dança.mov propõe o espaço urbano como ambiente de construção de público e de intervenção que desacelera a rotina de quem, às vezes, segue automaticamente o trajeto sem reparar a cidade”, analisa Ramires.
Também no espaço público, em 2019 e 2020, com patrocínio do Ministério da Cidadania e ISA CTEEP, através da Lei Rouanet, ocorreu o projeto “Uma Virada de Cores”, realizando 40 oficinas e 40 painéis na região de Heliópolis, Zona Sul de São Paulo, considerada a maior favela do estado de São Paulo. O projeto foi desenvolvido para a recém-criada Associação de Intercâmbio Sociocultural Brasil-Colômbia (AISCE), em 2018, com a qual a Burburinho colaborou construindo uma agenda de projetos culturais para o lançamento da organização. Conectando artistas brasileiros e colombianos, o objetivo de aplicar em regiões periféricas de São Paulo soluções semelhantes às que deram certo na Comuna 13 (considerada a favela de Medellín retratada como a mais conflagrada do mundo), a Burburinho elaborou um projeto em consonância. Quase 600 alunos participaram da criação dos murais, após aulas com o artivista Mundano, Magrelo e Tiago8ou80. “O resultado foram obras de mais de 200 metros, colorindo o conjunto cinza da região”, lembra Priscila. Como complementa Thiago Ramires, o objetivo do projeto sempre foi claro, o ensino de grafite a jovens em situação de vulnerabilidade social, com foco na arte como forma de intercâmbio e expressão cultural, social e política, além de ferramenta para geração de renda. “Estamos ampliando essa ideia com o Proje7o Arco-Íris, que está encerrando seu primeiro ano acrescentando cores e saberes em sete escolas do país”, conta.
Entre os anos de 2017 e 2019, sete cidades brasileiras receberam a exposição “Pessoas em movimento”, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF-Brasil), sobre a crise da imigração no mundo. “Recebemos a exposição, que é itinerante, pronta, com a incumbência de remontá-la. Remodelamos alguns espaços expositivos e incluímos experiências mais interativas, junto a uma empresa especializada. O principal foi ilustrar as dificuldades extremas enfrentadas por milhões de refugiados, deslocados internos e solicitantes de asilo no mundo”, lembra Priscila. Extremamente atual, por motivos inglórios, a exposição ocorria em uma instalação, um labirinto sensorial onde o público podia ver mais de perto os caminhos percorridos por refugiados, deslocados internos, solicitantes de asilo ou imigrantes em diferentes contextos do mundo: América Latina, Europa, Oriente Médio e África.
Atualmente, o capítulo que fecha o livro é Produção Cultural e Impacto Sociocultural e Educativo, mostrando o perfil da Casa Escola de Arte e Tecnologia, em Itaboraí. A população tem alcance a cursos técnicos, de geração de renda, artístico para crianças, jovens e adultos, além de um programa educativo em parceria com a Ánsar, a principal companhia de teatro de Itaboraí. Todos os colaboradores do projeto são artistas e profissionais locais. Tudo de graça. “Nosso objetivo ao escrever sobre o Método Burburinho é compartilhar conhecimento, combatendo a desinformação e colaborando com novas perspectivas para o Brasil”, conclui Priscila.
Serviço – Cultura é Motor: Desenvolvimento, Impacto e Transformação, evento multidisciplinar com roda de conversa e lançamento do livro “Método Burburinho de produzir cultura”, sobre 15 anos de produção cultural no Brasil. / Grátis – Participação mediante inscrição antecipada no link (sujeito à lotação do espaço) / Museu de Arte do Rio – Praça Mauá, nº 5 – Início às 17h.