Lula discursa na abertura da 4ª Conferência Nacional de Cultura (Foto: Ricardo Stuckert)
“Quando o povo se apoderar da cultura, nenhum presidente poderá ofender a cultura, nem dizer que a Lei Rouanet é para sustentar vagabundo”, destacou o presidente na abertura da 4ª Conferência Nacional de Cultura
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (4) que é preciso defender a cultura no Brasil em todas as suas vertentes. Ele participou da abertura da 4ª Conferência Nacional de Cultura, após mais de 10 anos sem a realização do evento no país. “Nunca mais esse país entrará na escuridão do fim da cultura porque queremos as luzes acesas”, disse, lembrando que o Ministério da Cultura foi extinto no governo anterior e recriado em seu terceiro mandato.
PERSEGUIÇÃO POLÍTICA
Lula ressaltou a postura depreciativa do governo anterior em relação aos artistas, mencionando acusações de que chamavam artistas de “vagabundos” e afirmavam que a “mamata ia acabar”. “Quando o povo se apoderar da cultura, nenhum presidente poderá ofender a cultura, nem dizer que a Lei Rouanet é para sustentar vagabundo”, destacou Lula, lembrando episódios de perseguição do governo anterior a artistas, tentativas de censura e a paralisação de leis de incentivo ao setor.
“Para que não se esqueça: vivemos 4 anos sob um governo que acabou com o Ministério da Cultura. Com um presidente que coordenava ataques nas redes contra artistas como Anitta, Taís Araújo, Zélia Duncan e Daniela Mercury. Com um secretário de Cultura fazendo vídeo inspirado em nazistas. Um outro secretário de Cultura que chamava artistas de ‘criaturas imundas’”, declarou.
ESSE TEMPO ACABOU
“Esse tempo acabou. Nós refundamos o Ministério da Cultura e investimos, neste último ano, mais do que o que foi investido em 10 anos. Os investimentos e o respeito à cultura voltaram”, enfatizou o presidente.
Assista à solenidade de abertura da 4ª Conferência Nacional de Cultura
Ele se referiu também ao fatídico vídeo inspirado em nazistas que foi elaborado Roberto Alvim, ex-secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro. Alvim foi exonerado de seu cargo em janeiro de 2020, após publicar o vídeo imitando a estética nazista, onde também fez um discurso baseado em Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler.
“Após 10 anos, é muito bom estar de volta à Conferência Nacional de Cultura. O setor cultural volta a se reunir com o poder público para dizer o que pensa, e nos ajudar a construir o país que sonhamos”, disse Lula. “Digo e repito que a cultura é prioridade dos nossos governos não só pelo seu valor simbólico, de valorização da identidade de um povo, mas também pela sua importância econômica. Que possam florescer boas políticas desta conferência e que cheguem aos quatro cantos do Brasil”, acrescentou o presidente.
LEVAR CULTURA AO POVO
Lula destacou a importância do Ministério da Cultura em levar o incentivo cultural diretamente ao povo. Ele enfatizou a necessidade de levar a cultura até as comunidades, em vez de esperar que elas venham até a cultura. O presidente afirmou que é fundamental disseminar a cultura entre a população.
A 4ª Conferência Nacional da Cultura foi realizada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília e reuniu mais de 3 mil pessoas, com o tema Democracia e Direito à Cultura. O evento é organizado pelo Ministério da Cultura e Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), em parceria com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). Ministros, senadores, deputados e centenas de lideranças populares e artistas lotaram o auditório do Centro de Convenções em Brasília.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, agradeceu a sensibilidade do presidente Lula ao recriar o Ministério da Cultura e possibilitar a retomada da conferência, que, segundo ela, é um direito de todo o setor cultural. “Agora sim, o Ministério da Cultura está de volta, maior e mais fortalecido do que antes”.
A conferência reunirá as principais personalidades culturais do país para discutir as políticas públicas que irão orientar o Plano Nacional de Cultura nos próximos dez anos, de 4 a 8 de março. Além das reuniões do Conselho Nacional de Política Cultural, a programação também incluiu shows abertos ao público.
TENTATIVA DE GOLPE
Lula falou também da tentativa de golpe de Estado no Brasil no ano passado. Segundo o presidente, é importante relembrar a trama golpista e que “não dá para deixar pra lá”. “Se a gente não falar isso todo dia pro povo, eles dizem o contrário”, disse.
Ele comentou ainda sobre o ato de Bolsonaro para tentar intimidar a Justiça, no dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista. “Aquele ato o que que era? Era de um cidadão que sabe que faz ‘caca’, que fez burrice, que sabe que tentou dar um golpe, que sabe que ele vai para a Justiça, que sabe que ele vai ser julgado e, se for julgado, ele pode ser preso”, disse o presidente.
“Quando ele ficou trancado dentro de casa, que a gente não sabia se ele estava chorando, o que ele estava fazendo, ele estava preparando um golpe. Ele estava tentando imaginar o que ia fazer para não deixar o presidente eleito tomar posse. Eu acho que se borrou de medo e resolveu ir embora para os EUA para não ver a posse”, afirmou Lula.
O TEMPO PROVARÁ QUE EU ESTAVA CERTO SOBRE A PALESTINA
Durante seu discurso no evento, Lula também abordou a crise na Palestina. Ele afirmou que “o tempo vai provar” que ele está certo na defesa que faz do povo palestino. “Como eu sou um cara católico e creio em Deus eu acho que Deus escreve certo por linhas tortas, com o tempo a gente vai provar que eu estava certo, eu estava certo, o povo palestino tem o direito de viver, de criar o seu país, você não pode fazer o que foi feito anunciar comida e mandar torpedo, mandar bala e morte para aquelas pessoas. Até quando a gente vai ter medo, até quando a gente vai se curvar?”, disse.
O poeta pernambucano Antônio Marinho declamou dois poemas destacando o momento histórico do retorno da conferência. Durante sua fala, ele ergueu uma bandeira da Palestina. “Se é Luiz de Lindu que tá falando; se é o cabra nascido em Caetés; se é o que tendo só 9 é nota 10; se é o que nosso país está salvando sem aquele que vive confirmando a bravura do sangue nordestino e pediu pelo povo palestino, pela paz, pelo fim do genocídio; eu nem leio os ditames do deicídio, eu só quero saber onde eu assino: viva o povo palestino! Livre e soberano! Abaixo genocídio! Viva a paz e o amor! Viva Luiz Inácio Lula da Silva”, disse.