Alemanha procura profissionais na área de games


Preocupação da classe política e do empresariado, a falta de profissionais qualificados na Alemanha se faz sentir também no mercado de jogos eletrônicos. Esse é um dos fatores que tem afetado a competitividade do setor, que reúne quase 800 empresas, totalizando cerca de 12 mil funcionários.

Dados de uma pesquisa de 2023 conduzida pela Game, a associação alemã do setor, aponta que a maior carência é por programadores, demandados por nove em cada dez empresas. Também estão em falta técnicos de arte (68%), game designers (59%), designers de fases/conteúdo (56%) e game artists (45%).

Felix Falk, que representa a Game, atribui esse cenário principalmente à migração desses profissionais para outras indústrias ou até mesmo para o exterior: “Como ocorre em várias outras áreas da tecnologia, o ramo de games também sofre muito com a falta de mão de obra”, constata.

E embora haja um movimento para compensar essa debandada com o recrutamento de especialistas de fora da União Europeia – estes são hoje, segundo dados da associação, um em cada cinco dos que trabalham no setor –, Falk aponta que a burocracia envolvida na contratação ainda desencoraja muitas empresas – apesar de o inglês ser a língua franca em 80% delas. 

A Alemanha aprovou recentemente uma lei, ainda em fase de implementação, para simplificar o acesso ao mercado de trabalho para mão de obra de fora da União Europeia:  atuantes na área de tecnologia da informação (TI) sem conhecimentos de alemão nem diploma acadêmico poderão trabalhar no país, desde que comprovem experiência profissional relevante. Também os processos de reconhecimento de diplomas obtidos no exterior devem ser desburocratizados.

Como é o mercado de games na Alemanha

Na comparação internacional, a Alemanha tem poucos nomes peso-pesado no setor de jogos eletrônicos – como Ubisoft, InnoGames e Crytek – e se destaca sobretudo com games online, de celular ou navegador, que respondem pelo maior faturamento e crescimento da indústria.

Enquanto a maioria das empresas é de porte médio, o país também tem assistido nos últimos anos a uma diversificação do mercado, com a expansão dos estúdios independentes. Boa parte das iniciativas está concentrada nas metrópoles Berlim, Hamburgo e Munique, seguidas por Frankfurt, Colônia e Düsseldorf.

Segundo o portal de empregos Stepstone, os salários na área variam entre 3.200 e 4.500 euros mensais. A remuneração de fato, contudo, pode variar para mais ou para menos, de acordo com o porte da empresa, o tipo de projeto e os requisitos da vaga em si – quanto menor o contingente de candidatos e maior sua experiência e expertise na área, mais altos os salários tendem a ser.

Famosa pelos games de celular e browser, a InnoGames, de Hamburgo, pagava em 2022 a um programador de jogos, a depender da experiência, entre 4 mil e 8 mil euros.

Felix Falk, da associação alemã de games, interage com robô durante a Gamescom de 2021.
Felix Falk, da associação alemã de games, interage com robô durante a Gamescom de 2021; setor reúne quase 800 empresas e emprega cerca de 12 milFoto: Marius Becker/dpa/picture alliance

Escolas especializadas em games na Alemanha

Para quem almeja entrar nessa área, há caminhos distintos, segundo os objetivos e aspirações profissionais. “Há hoje diversas instituições educacionais, privadas e públicas, oferecendo cursos de nível técnico ou superior”, explica Falk. A associação que ele representa mantém um portal com informações a respeito, disponível apenas em língua alemã.

Entre as instituições públicas de ensino, por exemplo, há a Universidade Técnica de Munique (TUM), que oferece um bacharelado em engenharia de jogos em alemão e um mestrado em inglês na mesma área. Já o Cologne Game Lab, da Universidade Técnica de Colônia (TH Köln), tem um bacharelado e três mestrados na área, todos em inglês. O portal da associação de games lista 97 cursos oferecidos por universidades públicas e outros 61 por faculdades privadas.

Falk ressalta, porém, que o mercado de trabalho também está aberto a profissionais qualificados de áreas correlatas, como informática e design de mídias, e “nesse caso, pesa a experiência prévia”. Talentos excepcionais podem se posicionar na área ainda por meio de estágios, programas de treinamento e de ensino técnico. Outra boa ideia é manter um portfólio e projetos pessoais, bem como uma rede de contatos relevantes no mercado.

Os profissionais de games em demanda

No caso dos programadores, os responsáveis por transformar o design do jogo num código de programação eficiente, são buscados especialistas nas áreas de informática – especialmente desenvolvimento de aplicações e integração de sistemas –, desenvolvimento de web, ciências da computação, matemática e física. Desses profissionais espera-se domínio e experiência com linguagens básicas de programação, noções de design de jogos e inteligência artificial, bem como conhecimentos técnicos sobre consoles e plataformas como Unity, Unreal e CryEngine, além de agilidade para se familiarizar com novos sistemas e resolver problemas.

Os técnicos de arte são profissionais intermediários entre programadores e game artists, combinando programação e design gráfico. Eles implementam e otimizam funções e elementos gráficos no jogo, como iluminação e animação de personagens, e são responsáveis para que os artistas tenham os softwares e ferramentas necessárias ao trabalho disponíveis e funcionando conforme o esperado. Os requisitos da carreira são similares aos de um programador.

Os designers de jogo são as mentes criativas por trás do produto: eles concebem a mecânica do jogo e traduzem ideias em regras que estruturam a experiência do jogador, testando e aperfeiçoando tudo em diálogo com o resto da equipe. Aqui, o ingresso na carreira pode se dar através de um estudo de design de games ou design de mídia, mídias interativas, design de comunicação, game art ou animação. Desses profissionais também se exigem conhecimentos de programação e experiência no desenvolvimento de protótipos.

Aprofundando o trabalho dos designers de jogo, os designers de fases e conteúdo criam os mundos virtuais dos jogos; eles respondem não só pelo aspecto visual, como também pela experiência háptica e interativa do jogador e pela dramaturgia. possibilidades de interação e desafios a serem solucionados ao longo do jogo. Os requisitos da carreira são similares aos de um designer de jogo, mas com uma ênfase mais artística, incluindo áreas como o design gráfico e estudos de mídia. Esses profissionais devem ter boas noções de design de jogo, experiência prévia em design gráfico e habilidades em storytelling e design narrativo.

Por fim, game artists são os designers gráficos que assumem a parte estética do jogo, criando objetos, cenários, personagens e efeitos visuais. Além de talento na criação de gráficos realistas e críveis, esses profissionais devem ser ágeis, ter experiência com programas gráficos e demonstrar capacidade de traduzir ideias em conceitos visuais (e vice-versa). O mercado está aberto a profissionais das áreas de design, estudos de mídia, design gráfico, ilustração, arte digital e design de jogos.

Por que a Alemanha quer tanto os profissionais brasileiros?

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