João, a esposa e os dois filhos já estão adaptados à vida (e à culinária) do Cazaquistão. O borscht, uma sopa tradicional à base de beterraba, é um dos pratos favoritos do atacante, que também gosta de frequentar restaurantes asiáticos, especialmente coreanos. Um gosto que adquiriu nas quatro temporadas em que atuou na Coreia do Sul.
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Se hoje a culinária coreana é uma opção, há mais de dez anos a história era bem diferente. Quando um jovem João Paulo cruzou o mundo para trocar o ABC pelo Gwangjiu, em 2011, a adaptação foi difícil. “Saí de Natal com 35 graus, cheguei na Coreia do Sul com -18”, conta.
Ainda assim, o desafio maior não foi o clima. “Os caras me acordavam pra tomar café da manhã e tinha peixe, lagosta e polvo em cima da mesa. Eu pedia um pão com ovo”, diverte-se João Paulo, que conseguiu passar quatro temporadas no país fugindo de outro prato tradicional: a carne de cachorro. “Fazia parte da cultura deles. Mas eu não tive coragem de comer não. Fiquei no ovo e no arroz, tranquilo”.
Gol mais importante causou bronca
Depois de três temporadas, dois clubes e muito pão com ovo na Coreia do Sul, João Paulo voltou ao futebol brasileiro após a Copa de 2014. Ele foi para o país tratar de uma lesão no joelho e acabou ficando, em um retorno ao ABC, clube do coração.
Ao contrário da primeira passagem, no início da carreira, ele teve boas oportunidades e marcou seu gol mais importante em território brasileiro: contra o Vasco, em São Januário, pelas oitavas de final da Copa do Brasil de 2014. O jogo terminou empatado; na volta, o ABC venceu por 2 a 1 e eliminou o clube cruzmaltino.
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O que era pra ser um momento especial na carreira veio acompanhado de uma bronca. O pai de João Paulo, vascaíno, não gostou de ver o filho marcando (e comemorando) contra o clube do coração.
“Meu pai sempre torceu pro Vasco, meu avô também. E eu, além do ABC, também sou vascaíno. Mas naquele dia eu falei pro meu pai: Pô, eu tenho que fazer o gol, vou fazer o quê?”
Naquela mesma Copa do Brasil, o ABC ainda venceria o Cruzeiro (3 a 2, em Natal), mas acabaria eliminado pelo critério do gol fora de casa, pois havia perdido por 1 a 0 no Mineirão.
Um Brasil longe do Brasil
A passagem pelo ABC foi uma espécie de parênteses na carreira de João Paulo no exterior. Um período que ele diz se orgulhar e se lembra com carinho, mas que se tornou uma parte pequena da linha do tempo de uma carreira que se consolidou longe do Brasil; mas nunca longe de brasileiros.
Após a primeira passagem pela Coreia do Sul, o atacante começou uma nova carreira no exterior na Bulgária. Em seis meses no Botev Plovdiv, chamou a atenção do Ludogorets, clube que domina o futebol búlgaro – ganhou todos os títulos desde a temporada 2011-12. No clube, fez parte de um elenco repleto de compatriotas e chegou a ser treinado por Paulo Autuori, em 2018.
Na mudança para o Cazaquistão, o contato com os brasileiros também se manteve. Antes mesmo de desembarcar no país, João Paulo já recebia boas referências de atletas que atuam no futsal, esporte em que o Cazaquistão é uma das potências mundiais.
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Antes de chegar ao Kairat Almaty, o atacante passou pelo Ordabasy, onde foi artilheiro da liga nacional. A ida para o atual clube também teve participação de um brasileiro. “Em um amistoso entre o Ordabasy e o Kairat, o Vagner Love veio falar comigo”.
Love, hoje no Sport, tinha uma proposta irrecusável: “Vem pra cá me ajudar”. Para João Paulo, era a chance de jogar com um atacante de nível internacional, com passagem pela seleção brasileira. Ele disse “sim” a Vagner Love, e na temporada seguinte a parceria estava montada. “Durou apenas seis meses, mas jogar com ele foi o ápice da minha carreira”.
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