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Quando se imagina um game com ambientação medieval e mística, a ideia de um RPG é a primeira que vem à cabeça. Porém, ao adaptar A Lenda de Ruff Ghanor, livro de Leonel Caldela, para os jogos, o time da DX Gameworks acabou optando por uma mistura entre roguelike e card game, em uma escolha que, quando jogada, parece ser das mais acertadas para trazer o mundo criado nos podcasts do site Jovem Nerd a um novo formato.
Anunciado no ano passado e disponível na BGS 2023 nos estandes da KaBuM! e também no espaço da Nintendo, onde roda em um Nintendo Switch, o título impressiona por exibir narrativa até mesmo nos pequenos detalhes. Uma magia usada pelo personagem principal, por exemplo, é fruto de um milagre concedido a ele durante sua jornada, enquanto até mesmo a morte faz parte do caminho para cumprir a missão e elucidar a história.
Morrer, estudar oponentes e tentar de novo é um elemento fundamental de qualquer título do gênero, mas aqui, ganhas ares igualmente narrativos. A partir de um ponto de partida que envolve títulos consagrados como Slay the Spire, Inscription e Hades, o diretor do game, Orlando Fonseca Jr., aponta uma base sólida que permitiu focar naquilo que realmente diferencia A Lenda de Ruff Ghanor de outros expoentes do gênero.
“A escolha de fazer um card game tem razões de mercado, mas também ajuda a contar essa história”, explicou ele em entrevista ao Canaltech. “Com tantos títulos estabelecidos, a gente não precisava inventar a roda, então investimos na inserção da narrativa nas mecânicas de progressão e combate.”
Um exemplo disso são os caminhos ramificados, com missões que se diferenciam entre explorativas, narrativas e de combate. Cada escolha é uma renúncia, como dizia o poeta, e ao decidir seguir por um caminho, não é possível retornar ao outro — a não ser, claro, que o jogador morra e precise retornar desde o início.
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Acredite, você vai precisar disso — e, muitas vezes, até querer fazer isso. Em uma pequena demonstração, parte de um ato inicial que dura cerca de duas horas, A Lenda de Ruff Ghanor já nos coloca diante de personagens secundários e elementos bem conhecidos do universo dos podcasts e livros, gerando uma ânsia por explorar tudo. Ao mesmo tempo, mesmo os primeiros inimigos são um bocado desafiadores, o que já nos mostra o sabor agridoce de perder um combate.
“Queremos que as pessoas entendam que morrer faz parte do processo”, explica Rafael Kryon, produtor do título. Ele conta que o elemento de construção de baralhos, essencial em qualquer card game, aparece ao final de cada combate e, também, da “vida” do personagem principal. Ao mesmo tempo, enquanto pode focar em habilidades que ajudem a enfrentar o que vem adiante, há um temor quanto à aleatoriedade dos encontros, que podem colocar estratégias a perder.
Felizmente, está do nosso lado um sistema de amuletos com características especiais, garantindo defesa permanente, melhorias em habilidades ou maior poder. Da mesma forma, ao morrer, o jogador também pode levar consigo algumas das cartas obtidas durante a progressão, assim como os ataques especiais que incentivam o jogador a explorar os trechos narrativos dessa aventura.
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Estratégia, aliás, é uma das palavras definidoras de A Lenda de Ruff Ghanor para Alexandre Ottoni. O co-fundador do Jovem Nerd aponta que, na hora de montar o deck, há um foco no tipo de guerreiro que o jogador precisa ter, mas ao mesmo tempo, um cuidado com o tipo de desafio que pode surgir à frente. “É preciso pensar em ataque e defesa a cada round ou agir de uma maneira inesperada caso algo dê errado em um combate anterior”, completa.
Entra em jogo, ainda, uma mecânica extra, chamada de Fé, que permite desferir ataques especiais, ou Milagres, nos oponentes. Eles dão dano de área e consomem um recurso escasso, mas se integram à dinâmica estratégica servindo como um elemento que pode salvar partidas ou colocar tudo à perder, se desperdiçado. É, também, outro aspecto que conversa diretamente com a narrativa.
A escolha por Ruff Ghanor
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Enquanto, para a DX Gameworks, a escolha por um card game baseado na obra surgiu rapidamente, também foi assim para o Ottoni e o também co-fundador do Jovem Nerd, Deive Pazos. “Os elementos colaborativos, estratégicos e místicos fizeram todo sentido com o tipo de jogo que queríamos criar. Antes de tudo, é uma adaptação, e as mecânicas concordaram diretamente com isso.”
A Lenda de Ruff Ghanor é uma adaptação direta do primeiro livro de Caldela, mostrando o herói do título ainda em seus dias iniciais, enquanto treinava para enfrentar o temido Dragão Vermelho. É uma saga que se passa 100 anos do podcast que iniciou a franquia e conversa tanto com os fãs quanto com quem está chegando agora, mas de formas diferentes. O que importa, para Ottoni e Pazos, é que todos se apaixonem por essa história.
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Essa paixão também foi o ponto de partida para os desenvolvedores da DX Gameworks — eles próprios fãs do universo criado pelo Jovem Nerd. Kryon cita uma sensação de euforia quando a empresa foi selecionada para o projeto e muito carinho pelo trabalho que está sendo realizado, enquanto esse mesmo aspecto também é citado por Ottoni como um facilitador de todo o processo, além de trazer um diferencial de qualidade.
“É um jogo de fãs para fãs, mas que também atinge quem está chegando agora”, explica. Nesse segundo aspecto, ele cita a busca por disponibilizar o game em PCs e consoles — inclusive no mercado internacional — como uma forma de trazer mais público para o universo. Com isso, vieram decisões artísticas pelos gráficos cartunescos e uma busca pelo pacote mais otimizado possível, que rodasse em qualquer computador.
“Foi uma delícia saber que conseguiríamos publicar no Switch, pois é um game que funciona muito bem no console”, continua Ottoni. “A experiência [da DX Gameworks] com publicação ajudou demais nesse processo e também tirou obstáculos do caminho, já que nossa ideia era atingir todos os mercados. Os ports estão sendo feitos com muito carinho; é um grande desafio, mas [na BGS] já vemos que está sendo superado.”
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A Lenda de Ruff Ghanor entra agora em sua etapa final de desenvolvimento, com lançamento previsto para 2024. O game deve ser lançado para PC, PS4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. A distribuição é da Magalu Games e da Nonsense Creations.