A agricultura é o setor que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, hoje, representando 27% do total. O bom desempenho apresentado pela produção agrícola brasileira, traduzido nos indicadores econômicos, só é possível graças a uma agricultura movida à ciência, calcada em dados e análises técnicas, e cada vez mais beneficiada pela tecnologia digital.
O chefe geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira, aponta que hoje o Brasil já consegue solucionar muitos problemas através da inserção da tecnologia digital no agro. “A tecnologia já tem uma grande extensão na produção agropecuária. Para se ter uma ideia, a Embrapa tem um estudo que foi feito nos três últimos Censos e o Censo de 1995 já mostrou que a tecnologia tem um papel importantíssimo na produção de alimentos, representando 50,6%. O mesmo estudo foi repetido em 2006 e mostrou que a tecnologia responde por 56,8% do crescimento do valor bruto da produção e repetimos o estudo em 2017 e esse número foi para 60,6%, então, é uma grande inserção”.
Stanley considera, ainda, que a transformação digital vivenciada pelo setor considera não apenas a tecnologia, mas também as pessoas e, sobretudo, os efeitos que podem surgir a partir da adoção pelas pessoas. “A gente tem que olhar pessoas, temos que entender que essas pessoas precisam de capacitação para usar a tecnologia e também entender que processos são automatizados por meio dessa tecnologia. Em suma, a transformação digital não se dá apenas com a adoção de uma tecnologia”, considera.
O chefe geral da Embrapa Agricultura Digital destaca que a tecnologia no agronegócio ganha forma à medida em que é concebida para resolver um problema grande, ou atender a uma necessidade do setor produtivo e de associações de criadores dentro desse grande ecossistema de inovação digital. E, nesse sentido, ele aponta que é possível citar vários exemplos de como a tecnologia tem ajudado na produção agropecuária.
“Hoje, nós já temos na Embrapa a ordenha automática. Nós temos, por exemplo, os robôs que recebem uma vaca por vez e identificam o animal, o próprio robô chega na vaca e coloca todo equipamento nas tetas do animal, ordenha a vaca e ele mesmo libera e vai chamando uma por uma, em uma sequência. Outro exemplo muito comum que já estamos usando em São Paulo e que pode ser replicado para qualquer região do Brasil é que nós fazemos voos de drones por cima de um canavial e conseguimos, com essas imagens, ver falha de plantio para reduzir perdas, ver deficiência nutricional, identificação de ervas daninhas e também a questão de deficiência hídrica”, exemplifica.
“Nós temos que ter uma visão sistêmica para integrar, por exemplo, a questão de internet das coisas, Big Data e inteligência artificial para resolver esses problemas complexos, que não dá para resolver só com uma tecnologia habilitadora, por exemplo. Nós temos que fazer a junção dessas tecnologias para resolver”.
Um segmento que também já conta com uma contribuição importante das tecnologias é o de monitoramento, em que o produtor consegue manter o controle sobre a quantidade e qualidade da sua produção, mesmo à distância. “Hoje nós monitoramos, aqui de Campinas, um campo experimental da Embrapa em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Significa dizer que o produtor não precisa estar o tempo todo dentro da propriedade. Ele não precisa estar o tempo todo olhando como está a saúde dos animais, a saúde das plantas porque nós temos mecanismos que conseguem monitorar. Nós temos instalação de dispositivos na propriedade, nós temos estações microclimáticas e também temos um cabresto inteligente, que é colocado nos animais de tal maneira que você consegue medir a pulsação dele, a taxa cardíaca e respiratória, e com isso a gente emite alertas sobre o bem-estar animal”.
Outro ponto possível com as tecnologias de monitoramento disponíveis é o que possibilitam estimar a data ideal para o abate do gado, por exemplo. Ao passar por uma balança de passagem, quando eles vão se alimentar ou vão beber água, o produtor consegue medir o peso do animal naquele momento e no final do dia, sabendo qual é o ganho de peso dele. Com isso, é possível estimar, por exemplo, qual é a data ideal do abate de determinado lote, com o peso que foi estipulado.
Já na produção agrícola, Stanley aponta que a Embrapa já realiza o monitoramento de grandes áreas nos estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. Agora, a empresa pública está trabalhando também com monitoramento de pequenas áreas dentro de uma propriedade. “A tecnologia ganha força porque ela vai mapear desde o pequeno talhão, até grandes áreas que vão dar suporte a políticas públicas para mostrar o uso da terra, ou seja, qual é o uso de cobertura do solo em determinados lugares”, aponta.
Com as tecnologias de classificação de doenças, Stanley aponta que também já é possível obter diagnóstico precoce para mais de 20 culturas agrícolas, como soja, milho, trigo, algodão, para citar grandes commodities do Brasil. “Nós conseguimos imagens que vêm de um produtor, eles batem a foto de uma doença na folha, mandam para um fitopatologista da Embrapa, eles reconhecem a doença, fazem a anotação, passa pelo treinamento dos algoritmos inteligentes e com isso nós geramos modelos que conseguem dar diagnósticos precoce. Isso é bom do ponto de vista de sustentabilidade porque você reduz as perdas e, evidentemente, se tem um ganho de produtividade porque a tecnologia, no momento certo, conseguiu dar um alerta para que algumas ações fossem tomadas e com isso você reduz a perda na agricultura”, pontua. “Tudo isso mostra a inserção da tecnologia no agronegócio”.
PLATAFORMA
Dentre os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Agricultura Digital ao longo dos anos, a plataforma AgroAPI é uma estratégia de fortalecimento do ecossistema de inovação dentro do agro brasileiro. “A AgroAPI foi concebida para fortalecer as interações da Embrapa com os stakeholders, todos os membros do ecossistema de inovação. Então, a Embrapa tem uma base de dados de décadas, tem modelos gerados em vários lugares no Brasil, modelos para previsão de tempo, por exemplo, e o que nós fazemos nessa plataforma é que deixamos disponíveis os dados, algoritmos, análise de cenários que sejam economicamente viáveis ou que possam representar uma ameaça para o produtor”, explica.
“E quem acessa essa plataforma não é o produtor, é uma empresa do agronegócio, é uma associação que usa os nossos dados para construir suas próprias soluções. Então, a gente não faz na plataforma AgroAPI uma solução direta para o produtor, nós montamos a infraestrutura para que outras empresas, sejam empresas grandes, médias ou pequenas do agronegócio, acessam esses dados, construam as suas soluções digitais e depois essas soluções digitais são repassadas para o produtor rural”.
Um bom exemplo do que já foi realizado com a iniciativa é um aplicativo que pode ser baixado gratuitamente, chamado Plantio Certo. A ferramenta é capaz de informar sobre a data ideal do plantio para qualquer cultivar entre todas as 48 culturas agrícolas registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária. “Nós conseguimos dizer qual é a melhor janela de plantio para que diminua o risco, por causa das questões climáticas, e considerando também informações sobre adubação e balanço hídrico, de tal maneira que usando esses zoneamento agrícola de risco climático (Zarc) – um dos maiores exemplos de políticas públicas no agronegócio brasileiro, um programa do Ministério da Agricultura, Embrapa, juntamente com o Banco Central do Brasil – nós reduzimos a perda em várias regiões do Brasil”, aponta o chefe geral da Embrapa Agricultura Digital.
“Só para se ter uma ideia, no ano de 2021, usando o Zarc, o Brasil reduziu R$9 bilhões com sinistralidade porque os produtores usaram as indicações certas, seguiram as orientações do Plantio Certo, que é esse aplicativo no celular. Com ele, o produtor tem na palma da mão um instrumento valiosíssimo, sem custo, com orientação de alto nível tecnológico e que tem sido grandes exemplos de sucesso da Embrapa nos últimos anos, no Brasil”.