Desde que Donald Trump foi eleito, o empresário Elon Musk, que fabrica desde carros elétricos até foguetes, ficou cerca de US$ 21 bilhões mais rico. Sua fortuna atingiu quase US$ 300 bilhões, de acordo com o ranking de bilionários elaborado pela Forbes, especialmente pela valorização das ações da Tesla, sua empresa de veículos eletrificados. E, segundo especialistas consultados pelo GLOBO, com a proximidade do bilionário e do novo presidente, suas empresas devem prosperar ainda mais no segundo mandato do republicano.
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—Trump é um homem de negócios, assim como Musk. Falam a mesma língua, são conservadores e temem a ascensão chinesa. Muitas regulações que atrapalham a economia devem diminuir — avalia Gustavo Macedo, professor de Relações Internacionais do Ibmec/SP, lembrando que Musk deve assumir um cargo no governo que visa buscar mais eficiência na gestão de Trump.
Para especialistas, a SpaceX, empresa de foguetes de Musk, deve ganhar ainda mais contratos com a Nasa e consolidar-se como a maior companhia privada global do setor aeroespacial. Esse cenário de uma nova corrida espacial, com novas frentes tecnológicas, favorece a Starlink, subsidiária da SpaceX que fornece internet de alta velocidade em locais remotos usando satélites de baixa órbita.
A equipe de transição de Trump já sinalizou que a criação de regras federais para veículos totalmente autônomos será uma das prioridades do Departamento de Transportes. Isso favorece a Tesla e os planos de Musk de criar uma frota de robotáxis. Esse cenário também é positivo para outra empresa de Musk, menos conhecida: a The Boring Company, focada na construção de túneis para reduzir os congestionamentos urbanos.
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A Neuralink, de chips cerebrais, deve se beneficiar com queda de regulações que impõem limites éticos a esses dispositivos. Já a plataforma X (antigo Twitter) está perdendo seguidores (e receita). A expectativa é que se transforme numa espécie de “porta-voz” das ideias do governo, acabando com a pluralidade dos debates.
Os especialistas lembram que Musk foi um dos maiores doadores de campanha de Trump (algo entre US$ 120 milhões e US$ 200 milhões, segundo estima a imprensa americana) e já teve um benefício: deve ocupar o cargo de “chefe de eficiência” do governo, com promessa de cortar até US$ 2 trilhões do Orçamento em gastos que seriam supérfluos. Trump espera uma espécie de “choque de gestão” do empresário, o que significa uma visão mais “pró-mercado”.
— A ideia é fortalecer a indústria americana e isso inclui as empresas de Musk — avalia Junior Borneli, CEO da Startse, plataforma de conhecimento em Negócios.
Por robotáxi, Musk pode ser voz moderada para lidar com a China
Mesmo que Donald Trump cumpra a promessa de campanha e eleve a tarifa dos produtos importados da China a 65%, especialistas não acreditam em retaliação de Pequim com possível fechamento de fábricas da Tesla naquele país. A instalação de Xangai é a mais produtiva da marca, tendo produzido quase 1 milhão de unidades em 2023. Este ano, Musk inaugurou uma fábrica que produz baterias na mesma cidade, um investimento de US$ 200 milhões. Para os especialistas, Musk pode ser inclusive um “ponto de moderação” para as relações comerciais entre os dois países.
— Haverá muita negociação e Musk pode se tornar um elemento moderador em uma possível guerra comercial entre China e EUA. O país asiático quer ser líder em tecnologia e é um mercado importante da Tesla, além de ser uma base de exportação de seus veículos — diz Roberto Dumas, especialista em China e professor de economia chinesa no Insper.
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A fábrica de Xangai foi aberta em 2019 para impulsionar a indústria chinesa de carros elétricos. Os chineses também têm interesse na tecnologia desenvolvida pela marca, já que querem liderar a corrida de carros autônomos. O governo chinês inclusive já autorizou testes da montadora com esses veículos e os dados produzidos são fundamentais para a ambição de Musk de ter uma frota de robotáxis.
— Para chegar ao nível 5 de automação (nível mais elevado em que o veículo é capaz de dirigir sozinho em qualquer lugar e em todas as condições), Musk vai precisar da infraestrutura chinesa. Isso será fundamental para que os carros autônomos se viabilizem no mundo — afirma Antonio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV, afirmando que o interesse entre China e Musk é mútuo.
Nos Estados Unidos, Trump — que já foi crítico feroz dos veículos elétricos — parece ter mudado de opinião. Ele declarou após a vitória: “Eu sou a favor de carros elétricos. Eu tenho que ser, porque o Elon me apoiou muito. Então, eu não tenho escolha.” Com Musk no governo, espera-se que processos que investigam a segurança dos carros autônomos sejam encerrados. E a montadora será uma espécie de símbolo da bandeira de Trump de valorizar a indústria americana.
Desde que Trump venceu as eleições, o valor das ações da Tesla subiu 28%. Musk tem mais de 411 milhões de ações da Tesla — cerca de 13% das ações ordinárias em circulação — o que o torna o maior acionista individual da montadora. Foi esse movimento de alta que fez sua fortuna bater em US$ 300 bilhões.
SpaceX: Negócios em Defesa e subsídios para internet por satélite
A SpaceX, empresa de Elon Musk que fabrica sistemas de transporte espacial, comunicações e sistemas aeroespaciais, já tem contratos de US$ 5 bilhões com a agência especial dos EUA, a Nasa, para realizar pelo menos dois pousos na Lua nos próximos anos. Mas a agência espacial tem ainda US$ 93 bilhões para investir na missão Artemis, que visa permitir a vida humana na Lua e preparar as bases para chegar a Marte.
A Nasa é a principal cliente da empresa atualmente, mas há outros potenciais , como o Departamento de Defesa americano. Na nova corrida espacial, que os Estados Unidos querem liderar, a SpaceX, fundada por Musk em 2002, torna-se a principal alavanca para esse objetivo, afirmam especialistas.
— A SpaceX deve se consolidar com a maior empresa privada de exploração do espaço, brigando diretamente com países como a China, Rússia e a União Europeia — diz Gustavo Macedo, professor de Relações Internacionais do Ibmec/SP.
A SpaceX tem ainda a subsidiária Starlink, que oferece serviço de internet via satélite (inclusive no Brasil), levando conexão à internet para locais remotos, sem infraestrutura local. É outro braço de negócios que vem crescendo.
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No Congresso americano, está em tramitação um plano para oferecer um subsídio governamental de US$ 856 milhões para fornecer serviço de internet de banda larga em áreas rurais dos Estados Unidos. Se for aprovado, será mais uma vitória de Musk.
X: Futuro porta-voz informal do governo que já enfrenta o ‘E-xit’
Desde que Elon Musk adquiriu a plataforma X (antigo Twitter), em outubro de 2023, o número de funcionários caiu de 7.500 para 1.300. A plataforma perdeu seguidores — e receita — acusada de se tornar um canal de ideias radicais e de propagação de fake news.
Mesmo assim, continuou funcionando, e Trump viu nesse movimento de Musk um exemplo positivo de gestão. Agora, o X deve se transformar numa espécie de “porta-voz” das ideias republicanas.
— O X vai se transformar basicamente num canal institucional do governo. Empresas terão cuidado ao se associar à plataforma, o que deve impactar mais a receita — diz Junior Borneli, CEO da Startse, plataforma de conhecimento em negócios.
Na semana passada, segundo o Financial Times, o X vinha perdendo 60 mil contas por dia, num movimento já apelidado de “E-xit”, ou “saída” em inglês.
The Boring: Aposta em redes subterrâneas ganha força contra engarrafamento
Menos conhecida, a The Boring Company, é uma empresa fundada por Elon Musk em 2016, focada na construção de túneis para reduzir os congestionamentos urbanos. Propõe uma nova rede de transportes subterrâneos para veículos e passageiros.
— Musk tem empresas com um espectro diverso de atuação, mas todas estão unidas pela tecnologia. Com o avanço dos veículos autônomos, a proposta da rede subterrânea de transportes ganha força — observa Antonio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV.
A The Boring Company ajuda a acelerar os projetos de smart cities (cidades inteligentes), que visam resolver os problemas de deslocamento humano, com sistemas de gestão que usam maciçamente a tecnologia. E as empresas de Musk, segundo os especialistas, têm interesse em gerir esse tipo de ecossistema.