
A reação de Bruno Lage na entrevista coletiva em que entregou o cargo no Botafogo foi considerada exagerada no programa “Linha de Passe”, da ESPN, mas os comentaristas fizeram uma ponderação. Foi relativa à pressão que existe em todo o futebol brasileiro, bem acima da realidade.
– Sou um crítico contundente do ambiente que vivemos no futebol brasileiro, de pressão. Entendo que muita gente tenha achado um absurdo, olhando de fora é, pelo que gera, por todo o contexto, por gerar crise em time com vantagem enorme. Ainda que tenha perdido um jogo, foi para um elenco muito poderoso. Entendo quem não se conforma com a declaração, mas sabendo como as coisas funcionam, qual a lógica, cruel e burra, que não faz sentido para ninguém, é a nossa dinâmica. É assim que lidamos com o futebol aqui. Não consigo também, apesar de ver a declaração como de certa maneira nociva e descabida, não consigo dar porrada sem saber o porquê, embora ele pudesse ter trazido mais explicitamente – declarou Gian Oddi.
– É cultural também. Da mesma forma que treinadores portugueses interferem na cultura de jogo do Brasil, entendo que, positivamente, há um choque. Quando nos apresentam as equipes que treinam, dizemos o quanto as entrevistas são legais, os jogos são repletos de detalhes, o quanto trabalham bem. Nossa realidade de futebol é um choque para eles. Porque o futebol é o esgoto emocional aqui. Estamos com o pé no esgoto todo dia. Tem os tipos mais malucos querendo interagir. Por causa de uma bola rolando, um jogo de futebol. É sério, bacana, envolve muita gente, dinheiro, empregos, mas ainda é um jogo, não precisa tanto. Eles não estão preparados para esse esgoto, como se lida, tem críticas até ao líder, “se você não atrapalhar, será campeão”. Futebol é sujeito a variações, o Palmeiras já sofreu, o Flamengo, o São Paulo, o oitavo já foi campeão tirando o primeiro. Tem algo que pertence ao futebol e a nossa cultura, quem vem tem que entender que o país vai o pressionar em uma série de coisas – alertou Paulo Calçade.
O comentarista Vitor Birner acredita que a reação de Bruno Lage pode acabar se tornando positiva.
– Tenho impressão, não certeza, que ele notou algo diferente na maneira que os jogadores do Botafogo estão reagindo aos momentos adversos. Algo que identificou ou avaliou que vem de fora para dentro. Não acredito que a pressão tenha vindo de dentro do clube, da SAF, que vem gerenciando tudo de forma exemplar, até a eliminação no Carioca. Outra questão é não estar acostumado, tudo aqui é uma novidade insana. Entendo a insatisfação de perder um clássico em que não foi pior que o Flamengo, não dá para dizer que está jogando menos que com Luís Castro, talvez até mais. Mas antes, com méritos, jogava menos, igual ou mais que o adversário e ganhava. Contra o Flamengo, não foi pior, e perdeu. Talvez tenha jogado mais nesse jogo que no primeiro turno, quando não perdeu. O treinador olha tudo isso, olha seus jogadores, desconfia de queda na confiança e dá essa declaração, que estrategicamente é perfeita. Se a torcida está pressionando, os jogadores podem diminuir essa pressão, vai tudo no treinador. Foi um movimento impensado, porém perfeito para ajudar o Botafogo a seguir bem no campeonato. Se perder o campeonato, vão olhar só para ele, não vão criticar jogadores, SAF ou John Textor. De maneira impensada, fez algo estrategicamente perfeito – opinou Birner.