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Outro ditado diz que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Se mete, sim. O hábito do ditado serviu, ao longo dos tempos, para que homens pudessem fazer valer sua suposta superioridade física e sua posição privilegiada nas sociedades ao longo dos tempos. Ainda vivemos os tempos de mudança, que não começaram semana passada. Começaram no século passado, com a inserção real das mulheres na sociedade – não apenas como um apêndice reprodutor. Ela é contínua, não pode e não vai parar.
Sim, queremos muito em pouco tempo. Nenhuma ruptura é suave, sempre há percalços. Sou um otimista e acredito que a mudança esteja em curso. Ela é muito mais importante do que alguns (ou muitos) soluços que nos enojam.
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O mundo do futebol é um dos tantos mundos em que o machismo patriarcal impera e a mudança tarda em chegar. Mas está chegando. A cultura do “pode tudo” e da objetificação da mulher é presente com força no futebol profissional e é culpa, também, de mulheres que contribuem para isso. Só que isso não pode servir de álibi, que é o que acontece na prática quando esse “mundo” resolve falar sobre o tema no âmbito privado. O ponto principal aqui é: ninguém quer proibir a diversão ou as relações sexuais, cada um faz o que quer da vida – desde que não faça ao outro, ou à outra, o que ela não quer.
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É este limite que jogadores – homens em geral – precisam aprender a respeitar. Claro que o ideal é que os próprios conceitos mudem, que se pare de culpar as vítimas, mas, por enquanto, creio que respeitar limites já estaria de ótimo tamanho. E Antony cruzou os limites. Cruzou bem cruzado. Não há álibis ou tretas ou situações que justifiquem. A juventude, a fama, o poder e a testosterona andam de mãos dadas, mas não podem ser a chave que abre a porteira dos instintos mais selvagens.
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Homens mais velhos ou mais maduros ou simplesmente mais bem educados precisam começar a agir de modo mais positivo e assertivo no futebol. Eu nunca acho que alguém não saiba que está fazendo merda quando agride uma mulher. Mas vá lá. Consideremos que muitos desses garotos tenham visto tantas coisas erradas na vida, tenham tido uma base familiar tão frágil, que não conseguem ter a perfeita noção de onde estão os limites. É preciso de mais gente mostrando para eles as coisas como são, em vez de passar a mão na cabeça.
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Dirigentes, técnicos e profissionais do futebol precisam pensar na educação antes da vitória. Empresários têm todo o direito de pensar no dinheiro que seus “produtos” podem gerar, mas precisam agir para orientar, indicar caminhos e mostrar o que é ética e respeito – mesmo que isso os faça correr o risco de perder o cliente. É claro que não é simples. Até porque está tudo tão contaminado que o “mundo do futebol” desconfia mais da DJ do que do Antony, mais da espanhola do que do Daniel Alves, mas da próxima mulher que botar a boca no mundo do que do jogador “vítima” de uma cilada.