A seleção brasileira voltou a ser derrotada pelas Eliminatórias após 37 jogos. Também perdeu para o Uruguai depois de 22 anos. Mas, entre as más notícias, essas nem são as piores. Na derrota por 2 a 0 para o selecionado de Marcelo Bielsa, atrás dessas quebras de recordes às avessas, houve um desempenho desesperador, com futebol coletivo insuficiente e individualidades anestesiadas.
Seleção Brasileira perde para o Uruguai em Montevidéu
Nas primeiras rodadas das Eliminatórias, este naufrágio técnico e tático tem sido recorrente. E, obviamente, isso não deve ser debitado totalmente na conta de Fernando Diniz, de trabalho ainda incipiente. O que não quer dizer que o técnico não tenha significativa responsabilidade, não pelo futebol que a seleção ainda não joga, mas pela inflexibilidade em relação às suas ideias — conhecida, no âmbito popular, como teimosia.
Confira a coletiva de Fernando Diniz após a derrota da Seleção Brasileira
O trabalho na seleção difere muito do que acontece nos clubes, e um dos pontos mais dramáticos é o raro tempo para treinar jogadores às vezes oriundos de culturas futebolísticas diferentes. Ao investir tudo para implantar seu conceito de futebol desde os primeiros momentos, Fernando Diniz provoca uma dificuldade extra neste momento de troca de comando, quando o ideal talvez fosse uma transição gradual, uma mudança de rumo menos abrupta. Não existe um comando automático que faça os jogadores de repente ocuparem o setor da bola como uma orquestra movediça, e a maior prova disso é justamente o Fluminense, que levou tempo para adquirir maturidade tática.
Dessa forma, no duelo entre os “loucos”, o iniciante e o experiente, a seleção brasileira realmente mostrou uma insana confusão, com ou sem a bola, e sucumbiu de forma indiscutível diante de uma Celeste essencialmente racional, que soube ocupar o meio de campo e anular todo espaço de Neymar e Vinicius Jr, ambos com atuações menos que modestas. Mesmo o setor defensivo, até pouco tempo atrás um dos pilares do Brasil, bailou conforme a milonga de um homem só, no caso Darwin Núñez, responsável por um gol e uma assistência.
A trajetória de Fernando Diniz na seleção já começou atribulada antes mesmo do primeiro resultado: é um homem dividido entre dois empregos, escolhido pela CBF para ser um remendo de luxo, quando ele mesmo poderia ser a primeira opção. Essa é a primeira circunstância a ser levada em conta para avaliar o momento da seleção. No entanto, mesmo na fase inicial de um trabalho que nasceu atabalhoado, Fernando Diniz precisa dar a sua contribuição — mais pragmatismo e menos fetiche conceitual. Até porque não há desmando de dirigentes, falta de tempo, carência de craques e outros empecilhos que justifiquem o futebol medonho, capaz até mesmo de cegar os olhos mais inocentes, apresentado pela seleção na noite de ontem.