Difícil encontrar uma criança que não saiba o que é a Disney ou que não tenha assistido às animações que sempre estão presentes nas salas de cinema e nas TVs. Completando 100 anos nesta segunda-feira (16/10), a Walt Disney Company encantou gerações com seus personagens carismáticos e se estabeleceu como a maior empresa de entretenimento do mundo.
Apesar do início difícil, em 1923, a Disney descobriu cedo a fórmula para monetizar a diversão, sendo pioneira na produção de longas de animação. A Branca de Neve (dezembro de 1937), primeiro longa animado colorido da história do cinema, tornou-se a maior bilheteria de 1938, e desde então liderou o ramo dos desenhos animados.
Mas nem tudo são flores. Apesar do planejamento de grandes comemorações ao redor do mundo, o centenário chega em um ano marcado por crises na empresa.
Em pé de guerra
A Walt Disney Company enfrenta o desafio de se reinventar em um mundo que clama por diversidade ao mesmo tempo que é alvo do governador de extrema-direita da Flórida, o rpublicano Ron DeSantis, desde o segundo semestre de 2022.
Tudo teve início quando o então CEO da companhia, Bob Chapek, se posicionou publicamente contra a lei ‘Don’t Say Gay’ (Não diga gay, em tradução livre), que proíbe as escolas da Flórida de abordarem temas como orientação sexual e identidade de gênero.
Então os republicanos, por meio de uma legislação aprovada às pressas, nomeou um novo conselho para supervisionar o parque temático e o distrito hoteleiro da Disney visando retirar concessões cedidas à empresa durante sua construção na década de 70. Em resposta, a Disney abriu um processo contra o governador, acusando-o — e outras autoridades estaduais — de “uma campanha implacável de retaliação governamental” com o objetivo de dificultar o desenvolvimento de parques.
Em agosto, o governador desmantelou as políticas de contratação inclusiva da companhia. Em comunicado, o conselho afirmou que seu comitê de diversidade, equidade e inclusão seria eliminado, assim como todas as funções de trabalho relacionadas a ele.
Um cenário de greves
Outro abalo para a Disney veio da maior greve de Hollywood em 60 anos. Em maio os roteiristas suspenderam os trabalhos para reivindicar melhores salários e mais valorização do trabalho em um movimento organizado pela Writers Guild of America (WGA).
Em julho o movimento foi fortalecido quando o comitê nacional do ‘Screen Actors Guild’ (Sindicato dos Atores, SAG-AFTRA) convocou uma greve e levou à paralisação das produções de Hollywood, abalado não somente os estúdios da Disney, mas toda a cadeia produtiva dos EUA.
Ambas as greves reivindicavam melhorias salariais, um reajuste nos pagamentos que recebem pelas reexibições de suas produções, além de definições sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) na indústria, entre outros pontos.
Apesar de a greve dos roteiristas ter chegado ao fim com um acordo no dia 26 de setembro, os atores seguem em greve e os responsáveis pelos estúdios de Hollywood suspenderam suas negociações na última quarta-feira (11/10).
Em meio às manifestações americanas, do outro lado do Atlântico a Disney enfrentava outra paralisação. Em junho, cerca de mil funcionários da Disneyland Paris entraram em greve e pedindo melhores salários. Os manifestantes chegaram a tomar o castelo da Bela Adormecida com cartazes onde se lia “Cinco anos trabalhando para o rato, sempre pagos como um rato”.
Lucros abaixo do esperado
Detentora de grandes sucessos, a Disney vive um ano de baixas nas arrecadações nas salas de cinema. O live action de A Pequena Sereia (2023) teve um investimento de aproximadamente US$ 250 milhões e uma arrecadação mundial de US$569,6 milhões, muito abaixo da expectativa.
Parte do desempenho do longa foi afetado pela onda de ataques racistas que a atriz Halle Bailey, que vive a personagem principal, sofreu ao longo da campanha de divulgação. Grande parte do público não aceitava a mudança de etnia da sereia para uma mulher negra.
Outra aposta na nostalgia que não atendeu às expectativas foi Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023), com orçamento de US$ 300 milhões, arrecadou apenas US$ 375 milhões. O estúdio esperava uma arrecadação de pelo menos US$ 800 milhões.
Entre as animações, apesar de Elementos (2023) ter caído nas graças do público e das críticas, tornando-se a maior bilheteria desde Frozen 2 (2019), a arrecadação foi de US$ 490,9 milhões, muito distante dos US$ 1,453 bilhão arrecadados por Elza.
Queda nos números
A Disney também enfrenta uma queda no número de visitantes nos parques. Segundo relatório da US Travel Association, a chegada de turistas nos parques da Flórida está 27% abaixo dos patamares anteriores à pandemia de COVID-19. Isso levou a companhia a fazer promoções em ingressos e na hospedagem na época de natal, considerada alta temporada.
Apesar disso, a Walt Disney Company anunciou nesta quarta-feira (11/10) que os valores dos ingressos dos parques temáticos irão aumentar. Segundo a CNN, o preço por ingresso em dias movimentados, como feriados, aumentou 8,4%, chegando a US$ 194 (R$ 979,87) na Disneyland, na Califórnia. Já na Walt Disney World, na Flórida, o aumento será de até 10%, com o passe anual chegando a US$ 1.449 (R$ 7.318,75).
Os números também estão em baixa no serviço de streaming Disney+. A plataforma perdeu mais de 10 milhões de assinantes no segundo trimestre de 2023, fechando o período com 146,1 milhões de assinantes. Em contrapartida, a Netflix teve um aumento de quase 6 milhões de assinaturas no mesmo período.
Apesar do ano turbulento, a Walt Disney Company tem um histórico de superar crises que pesa a seu favor. A empresa conta atualmente com Bob Iger como CEO, substituindo Bob Chapek, que ficou pelo curto período de dois anos, entre 2020 e 2022.
O retorno de Iger gerou grandes expectativas, uma vez que no último período em que esteve no comando, entre 2005 e 2020, foi o responsável pela aquisição da Pixar, Marvel, Lucasfilm e de boa parte da 21th Century Fox, além de introduzir o Disney. Seu contrato, que inicialmente seria de novembro de 2022 até o final de 2024, foi estendido até 31 de dezembro de 2026.