
Quando falamos de novas tecnologias, como Internet das Coisas, Inteligência Artificial, Cibersegurança, Cloud, Blockchain ou Machine Learning, e mostramos a revolução que elas podem fazer nos negócios, com processamento de dados tão eficientes quantos as mãos humanas, mas com uma velocidade e uma capacidade de armazenamento incrivelmente maiores, acabamos afastando as empresas e seus profissionais de processos iminentes de digitalização. A aceleração tecnológica pode incitar uma sensação extremamente comum: o medo, que assume muitas formas – medo de ser substituído, de não saber como lidar com as inovações, medo do que está por vir.
Não se trata de uma previsão ou de algo ainda distante. Estamos falando de transformações em curso no mundo. Portanto, é natural que, já no curto prazo, sejamos assombrados pelo receio do impacto dessas novidades sobre o trabalho, os mercados, as necessidades dos consumidores e, mesmo, sobre a vida cotidiana.
Sobre o temor de máquinas ocuparem o lugar de pessoas, Steve Wozniak, engenheiro cofundador da Apple, em passagem pelo Brasil em setembro, sentenciou: apesar de tantas novidades no front, “o humano ainda é mais importante do que a tecnologia”. Para ele, a inteligência artificial é uma ferramenta a ser usada pela humanidade, e não um competidor natural do homem. “Um computador nunca vai funcionar como uma mente humana”. E ressaltou: “Mesmo com a IA, sempre estaremos no controle.”
Então, em vez de paralisar, o medo sobre as inovações deve ser uma mola propulsora. O mundo evoluiu, e há coisas que precisam ficar no passado. Não é questão de gosto, mas de melhoria. Para que ter um escritório enorme se posso criar uma rede para as pessoas trabalharem remotamente? Para que arriscar salvar arquivos localmente se posso colocar meus processos na nuvem? Para que depender só do boca-a-boca se posso ter um site otimizado com SEO (Search Engine Optimization)? A transformação digital permite que as empresas tomem decisões com mais informação, gerenciem melhor seus dados e ofereçam uma experiência personalizada e aprimorada ao cliente.
Mas não saber como encaixar os objetivos da empresa nesse novo contexto digital pode trazer insegurança a lideranças. Segundo a pesquisa “Fear Factor: Overcoming Human Barriers to Innovation”, organizada pela consultoria McKinsey e publicada em 2022, 85% dos executivos entrevistados acreditam que o medo muitas vezes ou sempre impede os esforços de inovação nas suas organizações. Embora o estudo tenha analisado a inovação de forma ampla, não só a relacionada à tecnologia, ele descreve muito do que vejo no contato direto com o segmento B2B: incerteza, medo de perda de controle e das críticas diante da possibilidade de se lançar a novos desafios como, por exemplo, os impostos a cada novidade digital.
Ainda assim, as empresas estão ficando mais conscientes sobre a importância de desenvolver uma infraestrutura de Tecnologia da Informação, TI, que avance juntamente com as inovações. Segundo a pesquisa “Previsões de Investimentos Globais em Tecnologia”, da IBM, divulgada no começo deste ano, 78% dos líderes empresariais brasileiros afirmaram que investiriam em tecnologia nos próximos 12 meses – o que incluía soluções como IA, automação e nuvem híbrida. A porcentagem registrada no Brasil foi maior do que a mapeada em outros países participantes, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e Reino Unido. Ainda de acordo com o estudo, os principais fatores externos que impulsionariam o investimento em tecnologia no país eram mudanças de mercado (29%), pressões ambientais devido à agenda ESG (26%) e, liderando o ranking, riscos cibernéticos (32%).
O medo provocado por soluções digitais não seguras, aliás, tem ensinado muitas empresas que investimentos, testes e os reforços de segurança devem ser uma disciplina constante. Investir em monitoramento contínuo e validações frequentes de proteção são essenciais. Aos poucos, as empresas começam a entender que a cibersegurança está disponível para todos os formatos e tamanhos de negócios, e que os custos compensam muitas vezes mais que os prejuízos de um ataque, que pode paralisar as operações. A cultura de acreditar que “não vai acontecer comigo” precisa mudar e passar a ser uma cultura de antecipação de problemas que potencialmente podem ocorrer.
Tecnologia e medo sempre andarão lado a lado. Seja porque ao falar em inovação digital estamos falando de possibilidades e impactos diversos, seja pelos desafios impostos a cada novidade criada. Analisar cada solução digital é um passo que damos ao desconhecido, mas também uma chance de entender e decifrar o futuro. Empresas e lideranças precisam ressignificar o medo e compreendê-lo como empurrão para encarar o novo e continuar a avançar na jornada obscura mais rica da tecnologia.
* Gabriel Domingos é diretor de Marketing B2B da Vivo