Estamos diante de uma tecnologia que não transforma só estruturas, mas também realidades


De acordo com o mais recente relatório das Nações Unidas, até 2050, 68% da população mundial viverá em áreas urbanas. Cidades como São Paulo, que já enfrentam colapsos em mobilidade, terão que encontrar soluções urgentes. Foi nesse contexto que Gabriela Bilá, do grupo City Science, apresentou um projeto surpreendente: a Bicicleta Autônoma. Mais do que inovação, trata-se de uma resposta prática às demandas de deslocamento urbano, uma alternativa eficiente, ecológica e acessível para trajetos curtos ou como complemento ao transporte público. É a tecnologia oferecendo fluidez às cidades e, sobretudo, às vidas que nelas transitam.

No campo da saúde, a inovação aponta para o cuidado antes da urgência. A estudante Sarah Ornellas apresentou um adesivo inteligente, aplicável em sutiãs, capaz de realizar exames de ultrassom para o diagnóstico precoce do câncer de mama, a principal causa de morte entre mulheres no mundo. Aliando design à IA, a solução permite uma coleta massiva de dados e desenha novas possibilidades para o enfrentamento da doença. Um avanço que pode salvar milhares de vidas, especialmente em contextos em que o acesso à saúde preventiva ainda é limitado.

Mas o impacto da tecnologia não se limita ao físico, ele alcança também o simbólico, o estrutural. Luana Genot, Presidente do Instituto Identidades do Brasil, mostrou como a IA pode ser usada para ampliar o letramento racial. A Deb, ferramenta criada pela organização, traduz conceitos complexos sobre racismo estrutural em linguagem simples e acessível. Com mais de 17 mil seguidores no Instagram e 4 mil interações, a Deb prova que a inteligência artificial também pode ser empática, uma aliada na construção de uma sociedade mais consciente e justa.

Durante o painel “Inteligência Artificial: Inovação, Inclusão e Sustentabilidade”, Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, tocou num ponto crucial: “A tecnologia vem para facilitar nossas vidas. Mas, frequentemente, ela é rejeitada por representar o novo.” Essa resistência, segundo ele, é compreensível. Muitos ainda se ancoram na ideia de que “bom mesmo era na minha época”. O desafio está em atravessar essa transição com responsabilidade, promovendo inclusão e senso crítico.

Foi justamente sobre essa responsabilidade que Tânia Consentino, VP Sales Cyber Security Microsoft – Latam, lançou um alerta: o Brasil forma, proporcionalmente, menos profissionais em áreas-chave como engenharia, ciência e matemática do que em outros países emergentes. Diante disso, há um risco real de apagão de talentos. O recado é claro, precisamos preparar mais pessoas para não apenas consumir tecnologia, mas para criá-la e conduzi-la.

Rachel Maia, empresária e conselheira da Vale e do GPA, nos lembrou que luxo, hoje, é muitas vezes precisar ser o “chato do rolê”. Aquela pessoa que questiona, que aponta incoerências, que exige mudanças. Em um auditório repleto de lideranças e mentes privilegiadas, ela fez um apelo claro: que cada pessoa presente seja amplificadora de mensagens transformadoras. Porque o luxo, mais do que status, está em ser crítico, consciente e agente da mudança.

Se vim até Cambridge, Boston, em busca de inspiração para seguir desenvolvendo modelos de impacto social, posso dizer que meu objetivo foi cumprido. Em meio a uma agenda diversa, com estudantes, especialistas, lideranças empresariais e até celebridades, o que vi foi um mosaico vibrante se formando diante dos meus olhos. Um painel de possibilidades, onde tecnologia e humanidade não caminham em lados opostos, mas de mãos dadas.

Volto para casa com a certeza de que o futuro não será construído apenas por quem entende de código, mas por quem entende de gente. Que a inovação mais potente ainda é aquela que escuta, acolhe e transforma. Porque impactar não é só transformar estruturas, é tocar histórias. E no compasso entre ciência e consciência, seguimos criando futuros em que cabem mais pessoas, mais vozes, mais mundos.


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