Depois de anos assessorando negócios para companhias na operação brasileira do Credit Suisse, ex-executivos do banco estão abrindo uma butique de assessoria financeira, a NewHarbour Partners, para atacar um nicho que eles entendem que é pouco explorado pela concorrência: as empresas de tecnologia ou que desenvolvam soluções de base tecnológica que já têm porte para buscar uma rodada Série B, em geral superiores a R$ 100 milhões.
- UBS compra Credit Suisse na xepa
Desde julho sócios no novo negócio, Filipe Costa e Diego Pinheiro já planejavam a empreitada há tempos, mas viram o projeto ser acelerado pela compra do Credit Suisse pelo UBS. No banco suíço, participaram de transações envolvendo os setores de tecnologia, financeiro, saúde e educação. Agora, pretendem afunilar a atuação.
“Os bancos focam mais em operações maiores acima de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão, enquanto a maioria das butiques financeiras no Brasil é mais generalista. Então, decidimos criar uma butique focada em tech, que é nosso know-how”, afirma Costa, ao Pipeline.
Para montar a companhia, eles tiveram como inspiração a FT Partners, butique americana focada em fintechs formada por ex-executivos do Goldman e que assessorou o IPO da Stone na Nasdaq. Costa, que tem passagens por Morgan Stanley e Alvarez & Marsal, e Pinheiro, que também trabalhou na BR Partners, atuam como managing partners, e atraíram ainda mais quatro profissionais para equipe, dos quais dois também são ex-Credit Suisse e entraram como sócios.
Na bagagem, o time traz a experiência de ter liderado várias transações do setor de tecnologia no banco suíço, como a venda de uma participação do Santander na Webmotors para a Carsales; a fusão da Semantix com Alpha Capital, visando a listagem na Nasdaq; a rodada de investimento de US$ 431 milhões da Ebanx, com a Advent; a da Fluency Academy com a General Atlantic; e a rodada da Superlógica com a Warburg Pincus, em junho deste ano.
Diferentemente das transações que faziam no banco, onde trabalhavam assessorando o comprador ou o vendedor em uma operação de M&A, na NewHarbour a ideia é assessorar os fundadores das empresas — dos investimentos iniciais até ganhar escala — ou fundos de venture capital e private equity que buscam o exit. “Acreditamos que podemos agregar mais no lado vendedor, assessorando os acionistas ou as empresas em operações de M&A ou para levantar capital”, diz Costa.
- Semantix dribla mercado azedo e é primeira deep tech brasileira na Nasdaq
- Na Getninjas, o investidor que acertou o timing
Ao montar um time enxuto, a butique pretende se concentrar em poucas transações, porém relevantes. Cinco delas, alias, já estão no pipeline. Ainda que o alto patamar dos juros tenha deixado os investidores mais seletivos, Costa acredita que o pior momento para as empresas de tecnologia levantar capital já passou.
“Em conversas com fundos de growth globais, temos ouvido que muitas transações de tecnologia estão em negociação no momento e devem ser anunciadas em breve aqui no Brasil”, disse Costa. Uma mostra da volta do apetite dos investidores no mercado internacional foi o IPO da Arm, que saiu no topo da banda do preço da ação, totalizando US$ 4,87 bilhões.
- Arm, do Softbank, emplaca IPO avaliada em US$ 54,5 bilhões
No segmento de tecnologia, Costa vê um grande interesse dos investidores, sejam eles fundos ou estratégicos, por empresas de software para o mercado B2B, negócios que envolvam inteligência artificial e fintechs que ofereçam infraestrutura e meios de pagamentos para outras empresas.
Segundo levantamento da NewHarbour, há um universo de 13 mil startups para ser explorado no Brasil. Neste ano, até agosto, o total de investimentos de fundos de private equity no país somou R$ 11,4 bilhões, aumento de 12% frente ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Abvacap. Desse total, 16,33% das transações foram no setor de TI e 26,53% no segmento de serviços financeiros. No mercado de venture capital, as transações envolvendo empresas de tecnologia é maior ainda. O setor de TI respondeu por 52,36% do total de R$ 4,2 bilhões de investimentos neste ano.