Filtros de beleza devem ser usados nas redes sociais? Avanço da tecnologia aumenta debate


THE WASHINGTON POST – Sonia Skrzesinski gosta de dicas de beleza no Instagram, mas é exigente quanto às fontes. A jovem de 17 anos prefere tutoriais de criadores que mostram imagens inalteradas de seus rostos. Muitas pessoas online – até mesmo influenciadores que analisam produtos de maquiagem – usam filtros de câmera que suavizam a pele, aumentam os lábios ou levantam os cantos externos dos olhos. Para Skrzesinski, a prática parece eticamente escorregadia.

Skrzesinski e seus colegas são bons em identificar um rosto filtrado, mas isso está ficando cada vez mais difícil. Os clássicos efeitos que aumentam os lábios e chamam a atenção no Snapchat e no Instagram parecem grosseiros em comparação com os filtros de beleza atuais – muitos dos quais usam inteligência artificial (IA) para reimaginar o rosto em tempo real. Um trabalho que poderia levar horas no Photoshop leva segundos com o filtro Bold Glamour do TikTok ou o Glow do Instagram. Até mesmo programas voltados para adultos, como o Zoom, vêm com efeitos de beleza que aplicam sobrancelhas digitais ou cor nos lábios.

Assim como maquiagem ou procedimentos estéticos, as pessoas dizem que usam filtros de beleza para melhorar o rosto, esconder inseguranças ou aproveitar o “privilégio da beleza”. Mas quanto mais avançados os filtros se tornam, mais intensa é a resistência. Os filtros e o ajuste facial com IA promovem padrões de beleza irrealistas e eurocêntricos, dizem os críticos. As empresas de mídia social, por sua vez, dizem que os filtros são uma ferramenta para diversão e autoexpressão. Os usuários comuns ficam no meio do caminho, especialmente as mulheres jovens que lutam para encontrar o equilíbrio socialmente aceitável entre parecer atraente e “ser autêntico”.

O primeiro filtro de beleza do Snapchat surgiu em 2015 e, desde então, a tecnologia se espalhou pelo Instagram, TikTok e inúmeros outros aplicativos de câmera. Alguns filtros de beleza sobrepõem sardas ou cílios que piscam se você acenar com a mão na frente da câmera. Outros, como o Bold Glamour do TikTok, parecem usar IA para refazer seu rosto. O Snapchat agora salvará suas seleções de edição – como suavização da pele – e as aplicará assim que você abrir a câmera. Já aplicativos de edição fáceis de usar, como o Facetune ou o CapCut, permitem que os usuários emagreçam os quadris ou clareiem os dentes com apenas alguns toques no botão.

Filtros de beleza estão cada vez mais sofisticados no TikTok  Foto: Dado Ruvic/Reuters

As pessoas reclamam das imagens com filtros que aparecem em aplicativos de namoro, perfis do LinkedIn e em todos os outros lugares, mas isso não diminuiu a disseminação de imagens alteradas. O Bold Glamour foi postado 128,5 milhões de vezes, mesmo com o TikTok se esquivando de perguntas sobre o uso de IA no efeito. O TikTok se recusou a comentar sobre a tecnologia que alimenta o Bold Glamour, seu desenvolvimento de filtros de beleza e suas regras sobre filtros. Ele também se recusou a compartilhar métricas de uso ou responder às críticas.

As políticas do Instagram proíbem filtros que façam referência explícita à cirurgia plástica, por exemplo, sobrepondo linhas cirúrgicas, ou que alterem a aparência de um usuário para que se pareça com uma etnia diferente, disse um porta-voz da Meta, empresa controladora do Instagram. A Meta se recusou a compartilhar métricas sobre o uso de filtros ou a responder às alegações dos críticos.

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A empresa controladora do Snapchat disse que, em média, mais de 250 milhões de pessoas usam filtros, que ela chama de Lenses, todos os dias, o que resulta em 6 bilhões de fotos filtradas. Mesmo que um usuário pareça preferir filtros de beleza, ele ainda verá uma variedade de opções de filtros no aplicativo, disse um porta-voz.

Problemas e desafios dos filtros de beleza

Alguns críticos caracterizam os filtros de beleza como evidência de padrões cada vez mais homogêneos (tente pesquisar “rosto do Instagram” no Google). Outros posicionam os filtros como um caminho para a cirurgia estética ou um risco para a saúde mental. Um relatório de 2023 da organização de defesa das crianças Common Sense Media constatou que uma em cada cinco meninas disse que os filtros de beleza as afetam negativamente – e os indivíduos com sintomas depressivos eram ainda mais propensos a identificar os filtros como prejudiciais.

“Ouvimos de meninas adolescentes que os filtros de beleza em aplicativos como Snapchat e Instagram podem intensificar a comparação social e os problemas de imagem corporal”, disse Supreet Mann, diretora de pesquisa da Common Sense Media.

Ouvimos de meninas adolescentes que os filtros de beleza em aplicativos como Snapchat e Instagram podem intensificar a comparação social e os problemas de imagem corporal

Supreet Mann, diretora de pesquisa da Common Sense Media

Para os jovens, entretanto, os padrões de beleza e os filtros de beleza representam um enigma.

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Rachel DeSilver, aluna do segundo ano do ensino médio na Virgínia, usa filtros esporadicamente. Seria tolice condenar os filtros de beleza por completo, disse ela – às vezes eles a ajudam a se sentir mais confiante – mas ela tem o cuidado de não depender deles. A autenticidade é importante para ela, disse a jovem de 15 anos, mas há uma linha tênue entre se aprimorar e se perder.

“Não acho que as pessoas devam pensar que, assim que você coloca maquiagem ou faz preenchimento labial, você deixa de ser você mesma”, disse ela. “Mas é a questão do navio de Teseu: Se cada parte de você for substituída, você será você mesmo?”

Renee Knake Jefferson, professora de direito da Universidade de Houston, que estudou os padrões duplos de gênero no local de trabalho, chamou a beleza de “duplo vínculo”. Rejeite-a e veja suas perspectivas sociais e profissionais diminuírem. Persiga-a e veja as pessoas criticarem seu caráter e questionarem sua competência.

“Não importa a escolha que façamos, não podemos vencer”, disse Jefferson.

Há muito tempo, a maquiagem e a cirurgia plástica estão no centro dos debates culturais sobre o quanto é excessivo o aprimoramento ou a autoexpressão. Agora, os filtros de beleza têm sua vez, e é importante que não repitamos os erros do passado, disse Rosanna Smith, professora associada de marketing da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, que em sua pesquisa tenta medir conceitos complicados como autenticidade online.

Os pais e professores devem conversar abertamente com crianças e adolescentes sobre filtros de beleza, disse Devorah Heitner, autora do livro para pais “Growing Up in Public”. Enfatize para seu filho adolescente que querer se sentir atraente é normal e que o uso saudável de filtros deve fazer com que ele se sinta bem e não mal, disse ela.

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Ajude as crianças a se sentirem confortáveis com tanto quem são com quem querem ser. Desvendem juntos a aparência específica que os filtros tendem a incentivar. E se os filtros começarem a ocupar muito espaço no cérebro, talvez seja hora de fazer uma pausa na mídia social. / TRADUÇÃO BRUNO ROMANI


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