Futebol cruel…


A mistura de sentimentos que hoje faz do torcedor do Botafogo um ser amargurado reúne tristeza, frustração, desgosto e revolta. A ponto de um dileto amigo dizer que o mais revoltante, no caso dele, é o fato de que já se sentia curado da doentia paixão pelo clube quando a campanha do time no primeiro turno da Série A bateu à porta dele convocando-o para vestir de novo a camisa alvinegra e voltar ao estádio que abandonara no rebaixamento de 2020, o mais recente do clube.

“Já não ligava mais para futebol. Estava com meu tempo dividido entre os filmes e a música. Mas é mesmo como vício: a campanha do time foi ganhando os bares, os amigos foram se reconectando e quando dei por mim já estava de volta ao estádio. Foi um período curto de alegria e que agora me assusta pelo risco de uma longa depressão. Finjo não ligar, mas é só pisar no escritório que vem aquele “bom dia” irritante: “E o Botafogo, hein?”, contou-me o amigo publicitário cuja identidade omito por respeito e compaixão.

Mosaico da torcida do Botafogo homenageando os craques que vestiram a camisa do clube — Foto: Vítor Silva / Botafogo
Mosaico da torcida do Botafogo homenageando os craques que vestiram a camisa do clube — Foto: Vítor Silva / Botafogo

De fato, o futebol tem sido cruel demais com os torcedores do Botafogo. E o gol marcado pelo centroavante Edu, do Coritiba, aos 53 minutos do segundo tempo do confronto que deveria ter acabado aos 52, segundos após o gol que seria o da vitória alvinegra, foi mesmo de castigar a alma. Não que ela significasse a redenção do time ou a retomada da marcha rumo ao título da Série A – não é exatamente isso. Mas encerrar a agonia do jejum de nove jogos sem vitória era como o respiro de quem se sufoca.

Ainda que o roteiro deste filme de final incerto nos reserve desfecho inesperado, o anticlímax gerado pelo acúmulo de frustrações causou danos de difícil reparação à relação entre clube e torcida. A diretoria da SAF alvinegra terá de investir muito bem para atenuar os efeitos da pífia campanha do Botafogo neste returno, jogando fora uma vantagem que chegou a ser de 13 pontos. E a começar no trabalho visando a vitória sobre o Cruzeiro, neste domingo (3), no Nílton Santos. Porque a linha de corte para à fase de grupos da Libertadores será de (no mínimo) 65 pontos.

Racionalmente, não há como não reconhecer o crescimento de um clube que foi rebaixado duas vezes em seis anos afogado por suas mazelas financeiras. Hoje, o patamar é outro, e estamos nos referindo à luta na parte de cima da tabela. No entanto, a reversão das expectativas alimentadas de abril a novembro exige que o final seja o mais digno possível. É quase uma questão de saúde…


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