Especial
Danilo Lopes*

“O clima cearense ajuda muito na felicidade. Quanto mais próximo da linha do Equador, as pessoas tendem a ser mais felizes pelo sol, pela claridade. E aqui, no Ceará, tem um aspecto que é muito peculiar: desde o século XIX, quando no livro de Adolfo Caminha ele colocou o termo ‘Ceará Moleque’, é porque a felicidade vem das nossas raízes mesmo.
Nós já tivemos o sol sendo vaiado, tivemos pessoas como Quintino Cunha, que tinha toda a espiritualidade do cearense. Então, o que nós temos hoje de humor em Fortaleza é em decorrência dos fatos históricos que acontecem na nossa sociedade e na nossa cultura. Creio que isso seja o caminho da nossa felicidade diária.
Esportivamente, eu sou muito feliz em Fortaleza. Eu, como torcedor do Ceará Sporting Club, sou muito feliz e estou muito feliz agora com a conquista do campeonato (estadual). Eu, que vim de uma família que é bem eclética, dividida entre os três clubes, tenho tios corais, na mesma quantidade de tios tricolores e tios alvinegros. A minha mãe, inclusive, torce Ferroviário Atlético Clube. Sempre levamos na esportiva, na brincadeira, na gozação. Nunca levamos para a agressão ou raiva. É brincadeira! O que pudermos levar, no espírito cearense, para a gozação, nós levamos.
O estádio Presidente Vargas para mim é de uma afetividade imensa. Meu pai morreu quando eu tinha 12 anos de idade, em um acidente automobilístico. E o PV me remete a ele, que foi um árbitro de futebol famoso aqui, chamado Gilberto Ferreira. Começou a arbitrar nos anos 1960. Inclusive, a final Náutico e Ceará da Taça Brasil foi ele quem apitou, é um fato bem curioso. O árbitro que vinha, foi desviada a rota do avião dele e ninguém sabia quem ia arbitrar. Começaram a ver árbitros locais, o Náutico não aceitou e o Ceará não aceitou outros e caiu para ele ser o árbitro da partida, assim, 40 minutos antes.
“Esportivamente, eu sou muito feliz aqui. Para mim, o esporte é libertador. O esporte traz oportunidades para pessoas que jamais imaginariam chegar a uma condição social melhor e chegam”
Ele disse para minha mãe: ‘manda o material porque o árbitro vai ser eu da partida de hoje’, que o Ceará acabou ganhando de 4 x 0. E foi esse valor (recebido pela partida) que pagou o parto da minha irmã no mesmo mês, umas duas semanas depois. Então, vir para cá remete lembrança dele, lembrança da minha infância mais tenra. Eu tenho lembrança de quatro anos de idade aqui do PV, tenho lembrança dos meus primeiros ídolos do futebol, jogadores do Ceará, que foi nos campeonatos 1975, 76, 77 e 78, anos do primeiro tetracampeonato. Da Costa, Edmar, Serginho Amizade (alguns jogadores ídolos), isso aqui me lembra muito essas pessoas.
Era uma época em que vínhamos para um clássico, Ceará e Fortaleza, e a torcida se misturava na hora de trocar para ir para atrás do gol do outro. Passava sem nenhum problema e temos saudades dessa época. Eu lembro da inauguração do Castelão também, em 1973, em que meu pai levava lá. Meu envolvimento com futebol é um envolvimento de muita emoção, de muito pertencimento.
A minha maior lembrança aqui, no PV, eu já era adulto, foi no campeonato de 2011. Eu vivi vários momentos memoráveis, mas aquele para mim foi marcante. A maioria eu vivi no Castelão, que foi o tetra de 1978, mas os momentos memoráveis eram ver meu pai arbitrando, inclusive partidas do Ceará.
Para mim, o esporte é libertador. O esporte traz oportunidades para pessoas que jamais imaginariam chegar a uma condição social melhor e chegam. Ele faz com que vícios sejam largados, com que crianças tenham o seu tempo ocupado. O esporte livra de problemas mentais, porque a própria prática da atividade física libera substâncias, hormônios que te dão prazer. Por isso, deveria haver um incentivo maior do que o que já existe.
Eu fico muito feliz porque você vê hoje Ceará e Fortaleza em um alto patamar em comparação com os times do futebol pernambucano e baiano, que sempre estivemos atrás. E, hoje, estamos na situação em que estamos. Acho que a Federação Cearense é a quinta do Brasil, isso aí é motivo de orgulho.
Se Deus quiser, o Ceará consegue subir este ano. Fortaleza já está em uma condição excelente há muito tempo, mantendo através da administração que é séria e comprometida, essa situação no futebol nacional. Então, que os dois continuem fazendo bonito para que o futebol possa realmente brilhar”.
*Danilo Lopes é professor universitário, odontólogo, profissional de Educação Física e vereador
Em depoimento ao jornalista Israel Gomes