Em outubro de 2021, a canadense Rylee Foster visitava a Finlândia com amigos quando viu o carro onde estava perder o controle na estrada coberta de gelo, capotar, sair da pista e parar 400 metros adiante, totalmente destruído.
Aos 23 anos, a então goleira do Liverpool não estava apenas com sua carreira ameaçada. Com sete fraturas no pescoço e na coluna, hemorragia cerebral e parte da medula espinhal praticamente solta dos ossos, Rylee tinha preocupações maiores: sobreviver e, se possível, voltar a andar.
Neste domingo (horário local, noite de sábado no Brasil), dois anos depois do acidente (731 dias exatamente), Rylee superou todos os prognósticos adversos. Após uma longa e difícil reabilitação, ela foi titular do Wellington Phoenix na rodada de abertura do Campeonato Australiano – o time neozelandês disputa a A-League Women, primeira divisão do país vizinho. Apesar da derrota em casa por 1 a 0 para o Melbourne City, um dia especial para Rylee.
– Nunca desista. Nunca abaixe a cabeça. Sempre acredite. Orgulho desse time pela luta que mostramos hoje. Não foi o resultado esperado, mas um grande lugar para começar. Fiquem conosco, este grupo é especial – escreveu Rylee nas redes sociais após a partida.
Levada para um hospital em Helsinque, ela recebeu os cuidados mais urgentes. Por alguns dias, não conseguia sentir as pernas, até que aos poucos seu estado foi gradativamente melhorando. Com a hemorragia cerebral estabilizada e a plena recuperação dos pulmões, também afetados no acidente, ela recebeu autorização para voar de volta para Liverpool. Somente ao retornar à Inglaterra ela descobriu que os médicos finlandeses não tinham detectado quatro das sete fraturas que ela tinha sofrido.
O processo de recuperação de Rylee incluiu uma delicada cirurgia, em que os médicos precisaram perfurar um local estratégico em sua cabeça para tentar colocar a medula no local. Durante meses, ela precisou usar um aparelho especial para corrigir sua coluna.
Em jujho deste ano, a goleira canadense celebrou a recuperação completa. Estava autorizada a voltar a jogar, 636 dias após o acidente, mas foi preciso esperar mais três meses até o primeiro jogo oficial. Antes de ser contratada pelo Wellington Phoenix, Rylee chegou a fazer um teste no Celtic, porém o clube escocês não sentiu confiança em apostar na recuperação plena da goleira. Agora, ela tem uma temporada inteira pela pela frente para mostrar que as dúvidas ficaram para trás.
– Já li muitas manchetes (sobre o meu caso), dizendo que sou o maior retorno da história do futebol, e acho que é verdade. Mas só quero ser conhecida como a pessoa que derrotou as probabilidades – afirmou ela em uma entrevista na Nova Zelândia.
De volta aos campos, Rylee não pretende esquecer sua história de recuperação, mas agora quer também ser tratada como uma atleta, não apenas como uma exemplo de superação.
– Eu sou resiliente, é isso que eu sou, mas também sou uma boa jogadora de futebol – observou.