
Nascido em São Paulo, formado em Coimbra, constituinte na Assembleia de 1823 e deputado de 1826 a 1830, Rendon seria o primeiro diretor do Curso Jurídico, além de ter seguido carreira militar até atingir o posto de marechal de campo. Durante sua missão, avaliou os conventos do Carmo, de São Bento e de São Francisco, então os maiores prédios existentes na cidade. Acabou ficando com o último, justificando a escolha, conforme registrou o professor da faculdade Spencer Vampré em seu discurso por ocasião do centenário da biblioteca – reproduzido na edição de agosto de 1925 da Revista do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito –, desta forma:
“Este convento tem cellas na frente, e no lado direito”, relata Rendon. “No lado esquerdo está a igreja e na retaguarda, um salão antigo e outro summamente grande, em parallelogramo, destinado para cellas. O primeiro serve soffrivelmente para uma aula, e do segundo se podem formar duas. No lado direito, também está uma boa livraria, que me parece já tem cinco mil volumes. Parte della foi legada aos frades, e parte é pública. Está entregue ao cuidado de um padre bibliothecario, pago pela Fazenda Nacional.”
Como revela o documento de Rendon, além da biblioteca pública, o Convento dos Franciscanos abrigava um acervo pertencente aos próprios religiosos. Seriam exatamente essas duas coleções que, três anos mais tarde, em 1828, passariam aos cuidados do Curso Jurídico, inaugurado graças à Carta de Lei assinada por D. Pedro I em 11 de agosto de 1827. Por alguns meses, professores e estudantes dividiram o espaço com os frades, até a desocupação total do prédio no início de 1829.
Mas a presença religiosa perduraria algum tempo na biblioteca. Isso porque o “padre bibliothecario” do relatório de Rendon prestaria seus serviços aos professores e estudantes do novo curso até 1832. José Antônio dos Reis, órfão aos 12 anos, negro, pobre e protegido do bispo D. Mateus de Abreu Pereira, é considerado o primeiro bibliotecário da Faculdade de Direito. Reis integraria ainda a turma inaugural do Curso Jurídico, recebendo medalha de melhor aluno da turma, e depois se tornaria Bispo de Cuiabá, em 1832. Além disso, exerceu atividades como fiscal da Câmara, foi membro do Conselho Geral da Província de São Paulo, deputado da Assembleia Geral e senador pelo Mato Grosso.