Prestes a completar 22 anos, João Pedro pode dizer que, mesmo com pouca idade, já tem um caminho considerável percorrido no futebol. Foi vendido para o Watford antes de subir para o profissional, teve um começo artilheiro no Fluminense, foi convocado recentemente para a Seleção olímpica e tem se destacado em sua nova casa, o Brighton – nesta quarta-feira marcou os primeiros gols do clube em uma competição europeia, na derrota por 3 a 2 para o AEK, pela Liga Europa.
Na Inglaterra, João Pedro segue acompanhando jogos do Flu
Para ele, porém, este é apenas o começo da estrada. Em um papo com o ge, o jovem atacante mostrou pés no chão e foco para alcançar seus objetivos no futebol:
– O torcedor brasileiro espera muito aquele jogador que sai do Brasil e já explode de cara na Europa. Mas às vezes esse caminho é o mais difícil. O meu caminho pode ser mais demorado, mas eu não tenho pressa para chegar. Eu só quero chegar. Eu sei do que sou capaz. Eu vou trabalhar para chegar, para chegar bem. Para quando chegar no alto, não chegar e descer. Mas sim, chegar e manter, para subir mais e mais. O céu é o limite.
Um de seus principais objetivos na carreira é chegar à seleção brasileira. Uma chance na equipe principal ainda não veio, mas a experiência de vestir a amarelinha ocorreu recentemente, com sua primeira convocação para a seleção olímpica, no amistoso contra o Marrocos – com direito a usar a pesada camisa 10.
– Foi um momento muito especial estar ali, vestir a camisa 10. Entrei aos 25 do 2º tempo, consegui fazer algumas jogadas boas. No finalzinho fiz uma jogada de 1 para 1, consegui finalizar e quase fiz o gol. Pela minutagem que tive, acredito que consegui mostrar meu trabalho para o Ramon. Agora é dar sequência no trabalho na Inglaterra, para voltar mais vezes para a Sub-23 e, quem sabe, para a principal.
Susto com terremoto
A primeira experiência de JP na seleção olímpica, porém, contou com um susto – o terremoto que atingiu o Marrocos no início deste mês. A delegação brasileira estava na cidade de Fez, relativamente distante do epicentro, mesmo assim, o grupo sentiu a terra tremer.
– Voltamos do treino, jantamos e fomos para o quarto. Estava conversando com Morato, Wellington e Maurício quando tudo começou a mexer. Sabe quando você pensa que está passando mal? Todo mundo ficou meio assim. Perguntei se também tinham sentido tremer. Aí pensei: “deu ruim”. No começo você fica meio sem entender, porque não está acostumado a passar por isso. Fomos para o corredor e depois pediram para ficarmos na piscina para caso ocorresse um segundo terremoto.
E a experiência com a seleção pré-olímpica acabou sendo interrompida no meio. O segundo amistoso contra o Marrocos foi cancelado em decorrência da tragédia.
– Treinamos ainda no domingo para o jogo de segunda-feira e depois fomos avisados que a partida havia sido cancelada e estávamos liberados para voltar para os clubes. Quando vi o número de mortos e desaparecidos vi que eles tinham feito o certo em cancelar o jogo, é um momento difícil para o país.
Com relação a uma chance na Seleção principal, João Pedro enxerga que ainda possui um caminho a trilhar e trabalha para isso. Ele acredita que seu retorno à Premier League com a ida para o Brighton (estava no Watford, da segunda divisão) o coloca de volta aos holofotes. Outro fator que pode ajudar é um velho conhecido: Fernando Diniz. O atual técnico interino da Seleção foi quem o subiu para o profissional em 2019, no Fluminense.
– Fiquei muito tempo longe do radar da Seleção e da mídia pelo Watford estar na segunda divisão. E voltando para a Premier League, o Brighton começando bem, eu conhecendo o Diniz, sabendo como ele gosta de trabalhar, como ele gosta que os jogadores joguem, facilita um pouco. Mas eu tenho que fazer minha parte na Inglaterra, porque o Brasil tem excelentes jogadores. Mas, sim, tenho pensado, é um dos meus objetivos na seleção principal e é dar continuidade nos trabalhos que mais para frente, se Deus quiser, vou ser recompensado.
Destaque nas categorias de base do Fluminense, João Pedro foi vendido ao Watford antes mesmo de estrear no profissional do tricolor carioca e seguiu para a Inglaterra em 2020 após completar 18 anos. Foram quatro temporadas no clube inglês, que vive sobe e desce de divisão e não consegue uma sequência na Premier League. Cenário que pode mudar no Brighton, que tem mostrado solidez nos últimos anos e o contratou por R$ 188 milhões no começo desta temporada
– Não vejo como perda de tempo, mas como aprendizado no Watford. São poucos os jogadores da minha idade por aqui com esta minutagem, jogando. Eu hoje tenho mais de 100 jogos na Inglaterra. Acredito que isso seja importante. E eu pude voltar à Premier League mais experiente, sabendo como funciona o jogo aqui. Estou tendo um bom início de temporada. Agora é dar sequência e focar nos objetivos.
Comandado pelo técnico italiano Roberto de Zerbi, o Brighton foi uma das sensações da última edição da Premier League, terminando a competição na sexta posição e garantindo vaga na Liga Europa. E começou a atual temporada no mesmo ritmo: ocupa a quinta colocação após cinco jogos, com quatro vitórias.
– Quando teve a proposta do Brighton, eu tive uma conversa com o De Zerbi, que me passou muita confiança e eu aceitei o desafio de vir para cá. Estamos fazendo um grande início de temporada. Geralmente ele muda o time bastante e o time continua vencendo os jogos, jogando bem, então acredito que esta temporada tem muita coisa por vir.
Com De Zerbi, João Pedro tem desenvolvido a versatilidade que já experimentou nos tempos de base do Fluminense, quando começou de ponta, mas estourou e subiu aos profissionais como centroavante.
– Nos treinamentos eu trabalho em três posições. Como segundo atacante, como centroavante e também como ponta. É difícil eu falar uma posição. É importante eu fazer outras posições, pois sendo um jogador versátil fica mais fácil de estar dentro de campo e eu quero estar sempre jogando. Não consigo falar “essa é a minha posição”, porque hoje em dia consigo fazer três posições tranquilamente.
João Pedro disputou as seis partidas do Brighton nesta temporada. Três delas como titular e três saindo do banco de reservas. E já balançou as redes quatro vezes com a nova camisa. A primeira delas logo na estreia, na vitória sobre o Luton Town. A segunda, no último fim de semana, no 3 a 1 sobre o Manchester United. E as duas últimas na derrota por 3 a 2 para o AEK, da Grécia, pela Liga Europa.
– Entrar em um jogo importante como contra o Manchester United e marcar é sonho de qualquer garoto que assiste a Premier League e era meu sonho também. E hoje estou aqui podendo jogar, ser feliz, jogar contra grandes clubes, marcar gols contra grandes clubes.
Gols sobre o Manchester United, aliás, costumam ser marcantes para João Pedro. Em 2021, o jovem atacante vivia um drama pessoal: a morte do padrasto Carlos Júnior, marido de sua mãe, Flávia Junqueira, em decorrência de uma parada cardíaca. Ao balançar as redes sobre o tradicional clube inglês, o garoto se emocionou.
– Foi um período complicado. Uma perda muito grande. Minha mãe não tinha um companheiro há muito tempo, o Carlão estava conosco desde quando eu tinha 15 anos. Eu voltava do treino e via minha mãe e minha avó tristes. E eu tinha que me manter firme. Sempre fui maduro desde pequeno e até hoje sigo amadurecendo, aprendendo. O Carlão sempre falava que queria assistir um jogo meu contra o Manchester. Ele acabou falecendo e não viu. E marquei meu primeiro gol na Premier League contra o Manchester. Não sou muito de chorar, de demonstrar emoções, mas naquele dia não consegui controlar. Veio muita coisa na cabeça. Eu desabei no campo e meus companheiros vieram me abraçar. Os jogadores me deram muito suporte nesse período, o Watford e o hospital também. Isso demonstrou o carinho que, não só o clube tinha por mim, mas também as pessoas que moravam ao redor.
Passado o luto, João Pedro agora saboreia seu melhor momento na carreira. De volta à elite do futebol inglês, no radar da seleção olímpica e disputando uma competição europeia, ele conta que se identificou com a filosofia do técnico De Zerbi, de entrar em campo em cada jogo acreditando que pode encarar à altura qualquer adversário.
– O Brighton vem crescendo nos últimos anos, está montando um time competitivo. O que o De Zerbi passa para a gente é para jogarmos pensando em ganhar tudo, pensando como se nós fôssemos o grande. Tem que entrar desse jeito mesmo e jogar nosso futebol.