Não é de hoje que John Textor fala em contribuir para que o futebol brasileiro evolua e consiga finalmente atingir um nível de destaque no cenário das principais ligas mundiais, mas creio que ele esteja descobrindo que qualquer coisa dependente de racionalidade, imparcialidade e vontade de fazer o melhor é inviável no futebol brasileiro.

Ao longo dos anos, a maioria de nós já escutou dirigentes de absolutamente TODOS os clubes brasileiros falarem sobre complôs para que seus respectivos clubes fossem prejudicados. Dentro desse cenário, é imperativo lembrar que tivemos no Brasil os escândalos da máfia do apito e das apostas, ou seja, o futebol brasileiro está longe de ser um ambiente livre da existência de ações ilícitas e obscuras. Eis que surge um americano dizendo ter elementos suficientes para provar que algo ilícito está novamente ocorrendo. Aí eu te pergunto, qual a majoritária reação daqueles que constituem o mundo do nosso futebol (dirigentes, torcedores e imprensa)? Eles se arvoram em divulgar notas duras e posts em redes sociais que possuem como linha mestra descredibilizar os pontos trazidos pelo Textor sem ter nem ao menos o mínimo conhecimento dos elementos que ele diz ter.

É óbvio que Textor precisa comprovar tudo o que fala, mas qual o motivo de não vermos o universo do nosso futebol apoiando de maneira primária a investigação ao invés de atacar quem a está propondo? A resposta é tão simples quanto nojenta: estamos no reino da hipocrisia!

O futebol brasileiro tem a hipocrisia como combustível e todos fazem uso dela sem o menor pudor e mal-estar. Como explicar que o Palmeiras é capaz de soltar uma nota contra alguém que coloca em dúvida a honestidade de um campeonato no qual profissionais do próprio Palmeiras fizeram inúmeras insinuações sobre o clube estar sendo prejudicado intencionalmente pelo sistema? Será que Leila Pereira lembra de ter falado que apresentaria um dossiê (isso soa familiar para você?) com todos os supostos erros contra o Palmeiras? Alguém viu alguma declaração vinda do Palmeiras quando foi inegavelmente beneficiado (todos vão lembrar da não expulsão do Endrick no jogo contra o Fortaleza, por exemplo)? Não viram e nunca verão, pois a busca não é pela isonomia, mas sim em não ser isoladamente prejudicado.

O resumo da ópera é o seguinte: em nada interessa aos dirigentes que o futebol seja justo para todos, o grande objetivo é que o seu respectivo clube não seja prejudicado, apenas ele. O que vemos é a busca desesperada do sistema tentar proteger a si próprio contra qualquer alternativa que proponha uma discussão mais profunda que leve o futebol brasileiro para o caminho do profissionalismo no qual a lisura seja uma realidade e não algo trazido para o discurso por pura e vexatória conveniência.

Eu não acho que a abordagem do Textor esteja sendo a mais adequada, pois eu teria esperado uma movimentação contundente do Ministério Público antes de fazer qualquer tipo de declaração, mas sem dúvida ele está conseguindo mostrar a real face daqueles que usam o futebol e sua paixão somente em benefício próprio. Partindo desse princípio, eu afirmo que o Textor já fez um bem enorme aos que são realmente defensores de um futebol melhor.

A luta do Textor provavelmente não resultará em nenhuma mudança efetiva, mas me sinto bem por ter alguém ligado ao Botafogo tentando trazer melhorias para o futebol brasileiro como um todo.