LeBron James e as estrelas da NBA fizeram o All-Star Game perder a graça?


O fim de semana dos All-Stars da NBA aconteceu nos dias 17 e 18, reunindo diversas estrelas na disputa de três pontos, que teve o duelo de chutes de 3 entre Stephen Curry e Sabrina Ionescu, no torneio de enterradas e no próprio grande jogo, que terminou com um placar recorde de 211 a 186 para o time do Leste. Mesmo com o volume absurdo de ataque e de pontos, os comentaristas da ESPN dos Estados Unidos Stephen A. Smith e Shannon Sharpe não ficaram satisfeitos com o que foi mostrado pelos jogadores.

“Eles precisam acabar com o fim de semana dos All-Stars. Apenas se livre disso”, inicia Stephen A. Smith, ao ser perguntado se teria como “corrigir” a festividade, o comentarista é contundente: “Não. Não como está construído atualmente”, diz.

Stephen A. Smith, entretanto, não vê só defeitos no final de semana, apontando que: “Eu realmente gosto do concurso de três pontos. Não apenas o Steph Curry contra a Ionescu, que foram fabulosos, mas a competição geral de arremessos de três pontos nunca nos engana, nunca nos decepciona. Eles vão lá e de fato tentam arremessar bem. Não há nada de errado com os três pontos”.

O resto do fim de semana, porém, não ganha o mesmo afeto do comentarista: “Estou falando sobre a competição de habilidades. Estou falando sobre o torneio de enterradas e estou falando sobre o jogo das estrelas. Deixe-me começar com o All-Star Game. Senhoras e senhores, o que aconteceu foi uma farsa absoluta. Quase 400 pontos foram marcados. Sem defesa, sem esforço algum”.

“Esta é a acusação definitiva contra as estrelas da NBA que aparecem no fim de semana dos All-Stars. Você joga mais sério na pré-temporada quando está treinando. É tudo o que as pessoas ficam se perguntando. Todos nós sabemos que quando você joga na pré-temporada, ninguém tenta se machucar, mas vocês ainda se esforçam porque estão aperfeiçoando seu jogo. Você pode dar aos fãs pelo menos isso”, argumenta.

Stephen A. Smith segue sua crítica, dizendo: “Ninguém está pedindo que você compita como se você estivesse nos playoffs ou mesmo um jogo da temporada regular. Você vê caras se esforçando na pré-temporada. É tudo o que estou dizendo. Isso não é difícil. O fato de você ir lá e mostrar flagrantemente essa falta de esforço na defesa, de qualquer forma, é apenas uma farsa. E sabemos que, se o dinheiro estivesse em jogo, você se esforçaria mais, mesmo que já recebesse bastante. É realmente uma farsa”, finaliza.

Entretanto, a opinião de que o jogo das estrelas é inaproveitável e não pode ser salvo não é necessariamente compartilhada pelos jogadores, como mostra Damian Lillard, armador do Milwaukee Bucks, em conferência de imprensa logo após ser eleito o MVP da partida.

“Acho que algo poderia ser feito sobre isso. Não tenho certeza do que, mas acho que sim. Existe uma maneira de torná-lo um jogo mais competitivo. Acho que ninguém vai jogar como se fosse nos playoffs, mas é uma forma de fazer com que os caras venham à mesa e joguem um jogo mais sólido, eu acho”, explica.

Além disso, o jogador apresenta um importante contraponto: “Mas eu achei que foi um bom jogo, como é sempre que a multidão está envolvida e você ouve ‘oohs’ e ‘aahs’ vindo das arquibancadas. Mas provavelmente foram muitos momentos em que alguém estava livre e só fazia uma bandeja. E acho que se pudéssemos limitar essas coisas, as pessoas provavelmente não se sentiriam como às vezes se sentem sobre isso”, finaliza.

Mas, no mundo dos atletas, a opinião de Lillard não é consenso. LeBron James, do Los Angeles Lakers, refletindo sobre aumentar a competitividade da partida, admite: “Não sei, acho que é algo que precisamos descobrir. Sabe, eu não sei onde está o meio-termo. Porque é assim que muitos jogos estão começando a ficar agora”.

Shannon Sharpe, ex-tight end do Denver Broncos e atual comentarista, também discorda de Lillard, e é ainda mais contundente. “Eu concordo com tudo o que você acabou de dizer. Está chegando. Ainda não é tão ruim quanto o Pro Bowl (da NFL), porque no futebol americano é meio difícil de jogar com muita seriedade sem se machucar. Mas quando você olha para o All-Star Game, Stephen, ele basicamente se transformou apenas em bandeja, enterradas e cestas de três. E há um claro desprezo pelo jogo. Você está certo”, diz.

“Esses são os melhores jogadores do mundo. E isso é ridículo. E sim, eu entendo, as pessoas presentes continuam a vibrar. Mas não é isso que a audiência em casa está fazendo. Não sei exatamente quando começou a chegar a esse ponto. Talvez tenha sido 2017, talvez tenha sido 2018, onde a evidente falta de consideração começou. E, talvez, os jogadores não estivessem sentados na cadeira estudando antes dos jogos das estrelas de antigamente. Nós entendemos isso. E não é isso que estamos pedindo que você faça. Mas apenas tente. Apenas finja que você se importa. Não cometa o flagrante desprezo que você demonstrou pelo All-Star Game nos últimos 4 a 5 anos”, argumenta.

Pensando também nos outros eventos do final de semana, o ex-atleta crava: “Não houve nenhum esforço envolvido nisso. Acredito que o concurso de enterradas acabou. Quero dizer, em algum momento, todas as coisas devem chegar ao fim. E talvez o concurso de enterradas tenha chegado ao fim pelo simples fato de as estrelas não estarem mais participando. Pessoas como o Dominique, o Dr. J, o Michael Jordan, o Kobe Bryant, o Larry Nance. Na verdade, os caras que estavam no All-Star Game que participavam do torneio de enterradas”, conclui.

“Deixe-me falar do torneio de enterradas”, emenda Stephen A. Smith, “Agora é aqui que eu culpo seu amigo, o LeBron James, Shannon Sharpe. Não pelo All-Star Game, mas pelo torneio de enterradas. Ele nunca participou. Ele é a única superestrela, daquelas que pulam mais alto que a cesta, na história do jogo que não participou do torneio de enterradas. Eu não estou falando sobre o agora. Estou falando sobre a decisão que ele tomou ao longo dos anos”, argumenta.

“E o que isso causou foi fazer com que muitos craques também não participassem do torneio de enterradas. E agora temos um jogador da G League que é bicampeão consecutivo do torneio de enterradas. Parabéns a Jaylen Brown por participar, não se importando com o que as pessoas diriam ou com a aparência. Você está tentando me dizer que não gostaríamos de ver um Anthony Edwards em um torneio de enterradas”, conclui.

Pensando nisso, Stephen A. pensa sobre a recém liberdade dada aos jogadores nos esportes americanos, e diz: “Algo que é muito, muito desconfortável de dizer, mas que alguém precisa dizer. Então eu vou dizer isso, você sabe. Todos nós defendemos o empoderamento dos jogadores. Mas o outro lado é que nunca debatemos a questão da gratidão porque nunca pensamos que precisaríamos. Em outras palavras, com um grande poder vem uma grande responsabilidade. E presumimos que as pessoas aceitariam isso”, explica.

“Onde está essa responsabilidade nos jogadores do fim de semana do All-Star? Onde estão eles dizendo: quer saber? Isso é por nossa conta, pessoal. Sabemos que jogamos mais do que isso. Jogamos de forma mais competitiva do que isso. O que vamos fazer para mudar isso? Isso não é sobre a liga. Isso não é sobre questões administrativas. Isso não é sobre negociação coletiva. Isso é sobre você como um indivíduo dizendo, ei, vamos competir. Isso é tudo. Não no nível de uma temporada regular ou de um jogo de playoff, mas pelo menos no grau de jogo da liga de verão”, explica.

“Eles nem vão fazer isso. E só faz parecer que vocês têm o nariz empinado. E por que fica essa impressão? Porque você tem o poder de escapar impune. E isso é abusivo. E foi isso que aconteceu, e foi o que elevou o nível de repúdio que vocês estão recebendo” conclui Stephen A. Smith.

“Então me parece que o que aconteceu no Pro Bowl está começando a acontecer no All-Star Game da NBA. Acho que os jogadores adoram a ideia de serem selecionados, mas não têm interesse em jogar. É realmente uma honra que os jogadores possam dizer: sou oito vezes, dez vezes, 15 vezes um All-Star. Veja o LeBron que foi titular em 20 All-Star Games consecutivos. Mas me parece, que os caras estão interessados em serem selecionados, mas não têm vontade ou interesse em jogar esse jogo”, teoriza Shannon Sharpe. “Mas as pessoas não vão esquecer isso, porque aquele esforço, com quase 400 pontos marcados, é uma vergonha. É uma farsa. E qualquer pessoa que participou daquele jogo ontem à noite deveria ter vergonha de si mesma”, finaliza Stephen A. Smith.

*Tradução: Vinicius Garcia


Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *