Mais protagonismo das diásporas e dos povos originários na 35ª Bienal de São Paulo


A temporada das artes neste semestre começa oficialmente com a inauguração da 35ª Bienal de São Paulo que, nesta edição, reúne 121 nomes de artistas do Brasil e de todo o mundo, a partir do dia 6.09, sob o tema Coreografias do Impossível. “Queremos desconstruir essa ideia de um tempo progressivo, linear, ocidental”, comenta Diane Lima, que, ao lado de Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, compõe o time de curadores. Como isso se traduz, em termos práticos, no que vai ser exibido? Esqueça cânones da arte, como Pablo Picasso, que teve a sua Guernica exibida na Bienal de 1953 (a segunda da história do evento). A seleção deste ano dá protagonismo às vozes das diásporas e dos povos originários, caminho já aberto na edição passada, que teve forte tônica política e uma potente presença indígena, graças à contribuição de Jaider Esbell.

Dentre os nomes para ficar de olho, Castiel Vitorino Brasileiro, original de Vitória (ES), é a mais jovem da seleção, com 26 anos de idade, e apresenta a instalação inédita Montando a História da Vida, de 17 metros de extensão. “É um trabalho que converge vários elementos: terra, alvenaria, pinturas, aquarelas e troncos de eucalipto”, explica. “Está dentro de um guarda-chuva maior, da transmutação, que, para mim, é uma figura ancestral presente em toda a humanidade”, completa a artista, que também aborda em sua arte sua experiência como mulher trans. “A obra mostra a história da metamorfose na vida.”

'O Corpo como um Recipiente de Hábitos', da guatemalteca Marilyn Boror Bor — Foto: Divulgação
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‘O Corpo como um Recipiente de Hábitos’, da guatemalteca Marilyn Boror Bor — Foto: Divulgação

‘O Corpo como um Recipiente de Hábitos’, da guatemalteca Marilyn Boror Bor — Foto: Divulgação

'Views of Cupboard', da americana Simone Leigh — Foto: Divulgação
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‘Views of Cupboard’, da americana Simone Leigh — Foto: Divulgação

‘Views of Cupboard’, da americana Simone Leigh — Foto: Divulgação

A presença trans ganha reforço nesta Bienal com o Archivo de la Memoria Trans (AMT), projeto colaborativo gerenciado por pessoas travestis e trans na Argentina. “Vamos realizar uma instalação em forma de colagem em um espaço de três paredes, referenciando as colagens vintage que parceiros trans e travestis faziam em seus quartos e espaços pessoais nas décadas de 70, 80 e 90”, conta a diretora María Belén Correa, sobre a obra que vai reunir mais de 3.000 imagens fotográficas e outros mais de mil artigos de imprensa gráfica.

A mineira Luana Vitra, vencedora do Prêmio Pipa 2023 e que, além de artista plástica, é dançarina e performer, apresenta um conjunto de três esculturas e outros elementos (ferro, cobre, prata e anil), que se movimentam pelo espaço. “Quando os africanos vieram para cá trabalhar na exploração de minérios, uma das tecnologias que trouxeram era a prática de levar um canário para dentro das minas. Se tivesse qualquer vazamento de gás tóxico, o canário sentia antes e ficava agitado ou morria, em sinal de alerta”, conta Luana. “Meu trabalho parte desse ponto, pensando o ar como veículo de fuga e liberdade.”

35ª Bienal de São Paulo: Av. Pedro Álvares Cabral, s.n., São Paulo; @bienaldesaopaulo. De 9/9 a 10/12.


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