Maria Isabel Oschery: “A tecnologia não é inimiga”


Batizado de O Futuro do Trabalho, o mais recente relatório do Fórum Econômico Mundial aponta que 84 milhões de postos tendem a desaparecer nos próximos quatro anos no globo. Em contrapartida, surgirão 69 milhões de vagas graças às novas tecnologias, como a inteligência artificial generativa, caso do ChatGPT. Diante do acelerado avanço das plataformas digitais, que modificam não apenas as relações humanas como a forma de trabalhar, é urgente se preparar para estes novos ventos. Segundo a gerente de conteúdo e inovação empresarial da Casa Firjan, Maria Isabel Oschery, o mais importante é jamais perder a visão crítica ao lidar com as emergentes tecnologias. Atenta a tal necessidade, a instituição lançará um portfólio de cursos, podcasts e oficinas voltado para educadores, que, em meio à inesgotável maré de informações disponíveis (incluindo aí muita fake news), precisam desempenhar um papel central de curadoria, guiando os alunos, aos quais se abre um mercado tomado de desafios como nunca antes. “Surgirão novas profissões, como o especialista em ética digital, e gestores especializados em equidade salarial e de gênero serão fundamentais nas empresas”, adianta Isabel, na seguinte entrevista que concedeu a VEJA RIO.

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As profundas mudanças no mercado de trabalho, apontadas em recente relatório do Fórum Econômico Mundial, se aplicam também ao Rio e ao Brasil? É difícil fazer um recorte tão específico desses dados, mas não há como negar que o Rio é um espelho do que acontece no mundo. Além disso, com a globalização, as tendências se espalham com maior rapidez. O mercado de trabalho de hoje transcende fronteiras.

Em que medida? A mão de obra não está mais restrita a localidades, especialmente no setor de tecnologia. Há muita gente que mora no Rio, mas trabalha para uma empresa dos Estados Unidos. Também é cada vez mais comum ver nômades digitais, aquelas pessoas que rodam o mundo sem deixar de bater ponto remotamente.

Quais são as profissões mais ameaçadas? São as que não deveriam nem ter sido criadas. Um trabalho manual, repetitivo, que pode ser facilmente automatizado, como a computação de dados, está com os dias contados. A máquina certamente irá entregar um resultado melhor e mais rápido. O papel do ser humano será analisar criticamente as informações fornecidas pelo computador. Pesquisas mostram que, até 2035, os atendimentos ao público estarão quase 100% dominados por robôs. Esses chatbots aos quais começamos a nos acostumar ainda vão evoluir muito, a ponto de nem percebermos a diferença entre o humano e a máquina.

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De acordo com o relatório O Futuro do Trabalho, do Fórum Econômico Mundial, 84 milhões de postos de trabalho tendem a desaparecer até 2027

E quais são as chamadas profissões do futuro? Em meio a essa avalanche de inteligência artificial, faz-se necessário o especialista em ética, para impedir olhares racistas em softwares de leitura facial, por exemplo. Segurança e proteção de dados também estarão em alta. A emergência climática contribui para o aparecimento de consultores de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), além de gestores de mudança climática e de cadeia de suprimentos. O último Fórum Econômico Mundial mostrou ainda que educação, agricultura e comércio digital estão no rol das áreas prósperas em um futuro próximo.

Em uma cidade com as características do Rio, há alguma profissão que tende a ganhar força? A indústria criativa tem tudo para avançar no Rio. No geral, posso dizer que temos um estilo de vida muito próprio, com uma excelente capacidade de adaptação a mudanças.

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Como profissões tradicionais, a exemplo de medicina, estão sendo afetadas pelos novos ventos? Hoje há muitas cirurgias em que os médicos nem sequer encostam no paciente, eles fazem tudo por meio de ferramentas mais precisas que a mão humana. A análise de dados, por sua vez, apresenta uma nova fronteira para a medicina, trazendo uma anamnese cuidadosa do paciente.

Neste cenário, qual deve ser o primeiro passo para quem almeja uma transição de carreira? Existem muitos caminhos. O primeiro passo é desapegar de antigos conceitos e crenças. A tecnologia fez com que diversas regras de ouro caíssem por terra. E não dá para achar que ela vai substituir todos os empregos. Definitivamente, ela não é a inimiga.

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