Miopia, negativa dos grandes de SP e volta por cima: conheça Rômulo, reforço do Palmeiras


Mais novo reforço do Palmeiras, o meia Rômulo se prepara para o maior desafio da sua carreira. Após o Paulistão, o jogador do Novorizontino vai jogar no time mais vitorioso da atualidade no Brasil. Será o maior teste para ele, mas está longe de ser o único.

Como joga? Veja lances de Rômulo pelo Novorizontino no Paulistão 2024

Como joga? Veja lances de Rômulo pelo Novorizontino no Paulistão 2024

O meio-campista de 22 anos superou problemas na visão, como miopia e astigmatismo, a estrutura precária do seu primeiro time e ainda as negativas dos quatro grandes de São Paulo em peneiras. Em seus primeiros chutes no futebol, Rômulo enfileirou reprovações em testes e chegou a cogitar desistir da carreira.

Palmeiras anuncia a contratação de Rômulo

Palmeiras anuncia a contratação de Rômulo

Para a sorte do mundo da bola, ele seguiu em frente e embalou uma ascensão meteórica no esporte. E não foi só no futebol. Até a vida pessoal dele está prestes a mudar totalmente: o jogador descobriu nesta semana que será pai pela primeira vez.

Rômulo, do Novorizontino, domina a bola em jogo contra o Palmeiras no Paulistão 2024 — Foto: Pedro Zacchi

Rômulo, do Novorizontino, domina a bola em jogo contra o Palmeiras no Paulistão 2024 — Foto: Pedro Zacchi

Todos esses fatos e a volta por cima, na base da perseverança, foram revelados por Rômulo em uma entrevista exclusiva ao ge. Nascido em Pirassununga, no interior de São Paulo, carrega o “r” no sotaque caipira e ostenta uma fala muito bem articulada. Também esbanja educação e se prova como um bom contador de histórias.

Rômulo é anunciado pelo Palmeiras — Foto: Divulgação

Rômulo é anunciado pelo Palmeiras — Foto: Divulgação

De rejeitado a protagonista

Quem vê a disputa acirrada pelo meio-campista, mal imagina a quantidade de negativas que ele tomou quando era um adolescente em busca do primeiro clube. O próprio Palmeiras foi um dos times que não aprovaram o Rômulo em uma peneira. O jogador citou outros clubes que o reprovaram nos testes.

– Passei por vários clubes em avaliação desde criança. Eu sempre faltava uma semana da escola para fazer avaliação e não passava. Fui em vários clubes, como no São Paulo, Corinthians, Santos, Cruzeiro, até no Palmeiras, na Ferroviária, entre outros. Foram todos esses anos tentando até chegar na Matonense – disse o meia.

Essa sequência de frustrações quase fez Rômulo desistir do sonho de ser jogador de futebol.

– Até cheguei a falar com o meu pai, porque era muito “não” que eu recebi. Cheguei a falar para ele que queria parar de jogar e de tentar. Meus pais e minha família sempre falaram: ‘não, vamos continuar. Corremos até aqui’. E continuei. Graças a Deus as coisas aconteceram.

Rômulo em ação pela Matonense em jogo contra o Palmeiras. Ao fundo, está Gabriel Menino — Foto: Iory Keller Bido

Rômulo em ação pela Matonense em jogo contra o Palmeiras. Ao fundo, está Gabriel Menino — Foto: Iory Keller Bido

O primeiro “sim” recebido pelo Rômulo foi em 2018, quando estava prestes a completar 17 anos. O jovem foi aprovado pela Matonense, clube do interior de São Paulo. Ele atuou nos times sub-17 e sub-20 e no fim do ano foi emprestado ao Athletico Paranaense. Após três meses no Furacão, voltou à equipe de Matão.

A Matonense abriu as portas do futebol para o jogador, mas a falta de estrutura do clube foi um grande empecilho no começo da carreira dele.

– A Matonense não tinha muita visibilidade. Quando joguei no sub-17, eu perdi todos os jogos. Não aguentava mais perder. Passei por dificuldades até chegar onde estou hoje. Cheguei a não ter comida no alojamento, ter que comer fora. Também tive que dormir no colchão no chão. Cada um tem sua história e sua dificuldade, acho que tiveram piores que a minha, mas consegui me manter firme no que eu queria. Cheguei no clube e falei para o meu pai que queria ir embora. Ele falou para continuar e tentar. Graças a Deus pude chegar onde estou hoje e realizar sonhos que estão virando realidade.

– O clube não tem uma estrutura boa. Vivíamos do jeito que conseguíamos e a Matonense começou a não me pagar. Aí o treinador do sub-20 Novorizontino me mandou mensagem se eu queria ir para lá. Eu disse que tinha contrato com a Matonense e a partir de três meses que você não recebe, você consegue rescindir. Entrei com advogado, rescindi e vim para o Novorizontino em 2019. Comecei a atuar no sub-20 e a subir as categorias. Joguei Copa Paulista, Série D do Brasileiro. Sempre no profissional e descendo para jogar a base – concluiu Rômulo.

Rômulo em jogo do Novorzontino em 2022 — Foto: Guilherme Videira/Grêmio Novorizontino

Rômulo em jogo do Novorzontino em 2022 — Foto: Guilherme Videira/Grêmio Novorizontino

Lentes de contato no gramado

Rômulo é conhecido por ser um jogador com muita visão de jogo, com especialidade em colocar seus companheiros na cara do gol. Porém, quando ele era apenas uma criança, mal conseguia enxergar o que estava diante dele na lousa da escola.

– Na escola mesmo, eu sentava na primeira carreira, do lado da lousa e não conseguia enxergar. Depois meus pais correram atrás disso para eu começar a usar óculos. Aí quando eu cheguei na Matonense, usava óculos, mas jogava sem a lente, porque eu não tinha. Fui emprestado para o Athletico-PR e o clube viu que eu usava óculos e foi atrás para eu fazer os exames de vista para pegar a lente. O Athletico pagou tudo, me deu a lente e depois nunca mais parei de usar.

Rômulo teve passagem curta pelo Athletico Paranaense entre 2018 e 2019 — Foto: Arquivo pessoal

Rômulo teve passagem curta pelo Athletico Paranaense entre 2018 e 2019 — Foto: Arquivo pessoal

– Eu enxergava um pouco embaçado, mas conseguia jogar. Mas tinha que ser de dia. Se fosse à noite, não conseguiria. Só não saberia quem é meu companheiro, se ele estivesse longe. Só reconheceria meu parceiro se tivesse com uma chuteira verde – contou.

Com 3,75 graus de miopia e astigmatismo em cada olho, Rômulo tem dificuldades para enxergar de perto e de longe. Mas com as lentes de contato em todas as partidas, tudo se resolve.

Coringa e seleção brasileira

Na temporada 2023, Rômulo se dividiu em quatro versões diferentes: volante, ala, ponta e o meia “10”. Multiuso e coringa, o jogador foi homem de confiança do técnico Eduardo Baptista no Novorizontino.

– Sempre falei para o Eduardo que estou pronto para jogar em qualquer posição. Importante é estar jogando, fazer nosso trabalho da melhor maneira. Em questão de posição, prefiro ser o meia que busca meus companheiros, que gosta de fazer gol, de arriscar. Aquele jogador com visão de jogo, que gosta de estar sempre dentro da área, de procurar espaço para o companheiro. Se perguntar se prefiro fazer gol ou dar assistência, eu prefiro fazer o gol. Mas sempre vai ter o momento de finalizar, de tocar a bola e é tentar tomar a melhor decisão possível – disse.

Novorizontino x Palmeiras, Rômulo, Paulistão — Foto: Gustavo Ribeiro/Novorizontino

Novorizontino x Palmeiras, Rômulo, Paulistão — Foto: Gustavo Ribeiro/Novorizontino

Já que o meio-campista conseguiu vencer as barreiras, por que não sonhar com a seleção brasileira e com a Europa?

– Sonho com seleção brasileira, mas depende só do jogador, mostrar o trabalho dele e tudo mais. Sonho em chegar em grandes clubes da Europa. Tenho sonho de dar uma vida financeira para mim e para minha esposa, para a família dela, para a minha família – finalizou Rômulo.

Veja outros trechos da entrevista de Rômulo

Sequência em 2023

– O Eduardo Baptista me deu as oportunidades e a sequência de jogos que eu precisava. Tive oportunidade nos outros anos, mas não tinha essa sequência com outros treinadores. Foi um ano inesquecível para mim. Pude ajudar a equipe, fazer gols, dar assistências. Poderia concretizar com o acesso, mas nada apaga o que eu e o clube fizemos. Tiveram jogos no campeonatos que poderíamos ter feito três pontos, empatamos ou perdemos. Faltou um pouquinho da malandragem de segurar um pouco o jogo, fazer um pouco de cera, mas isso serve de aprendizado. Foi por um ponto ano passado e que o Novorizontino possa esse ano chegar na Série A.

Rômulo fora dos gramados

– Sou aquele cara família. Gosto de ficar com minha esposa, sair e ficar todo momento com ela. Já viajamos muito e ficamos longe da família. Quando chega em casa, quero deixar o celular de lado e aproveitar minha esposa, ir ao shopping e dar uma volta.

Rômulo ao lado da esposa Beatriz — Foto: Reprodução/Instagram

Rômulo ao lado da esposa Beatriz — Foto: Reprodução/Instagram

Morar no interior

– Novo Horizonte é menor que minha cidade natal, mas é uma cidade bem tranquila, bem em paz. Aqui podemos sair na rua, não tem aquela multidão em cima de você. Algumas pessoas param você, mas não são muitas. Você tem liberdade para andar na cidade, ficar tranquilo, sair nas folgas.

Futuro papai

– Está vindo uma bênção para mim e para minha esposa também, que descobrimos agora, para acrescentar na família. Vai vir para cuidarmos com todo amor e com certeza vai ser uma das coisas mais importantes da nossa vida. Está com quatro semanas e eu sinto que vai ser menina. Minha esposa acha que é menino.


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