Nova tecnologia desenvolvida na Universidade Federal de Minas absorve gás carbônico emitido por caminhões


Uma tecnologia criada nos laboratórios do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas (UFMG) pode ser uma aliada no combate às mudanças climáticas: um material capaz de absorver dióxido de carbono (CO2), também conhecido como gás carbônico, diretamente dos canos de descarga dos caminhões. Testada no final do ano passado, a inovação absorveu 7,7% do CO2, o gás mais abundante entre os de efeito estufa, liberado por um caminhão, após uma viagem de 170 quilômetros. Considerando apenas a circulação do veículo na área urbana, a absorção foi de 17,2% do gás.

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Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, o Brasil emitiu 2,2 bilhões de gases de efeito estufa em 2023, último ano disponível dos dados. A produção de combustíveis é a quinta categoria que mais contribuiu com as emissões. Em oitavo, está o transporte de passageiros, e em 12º o transporte de carga. Somadas as categorias, o setor automobilístico é um dos mais relevantes, ficando atrás da agropecuária e do saneamento básico.

Devido ao uso do diesel, os caminhões são o tipo de veículo que mais emitem CO2, conforme estudos publicados no tema. Por isso, o material foi sempre pensado para esse tipo de uso.

— Montadoras de veículos colocaram como expectativa conseguir chegar ao patamar de 8% de captura de CO2 só em 2040. Nós estamos alcançando esse percentual quinze anos antes — afirma Jadson Cláudio Belchior, professor do Departamento de Química da UFMG.

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A pesquisa liderada por Belchior já dura quase 20 anos. Desde 2007, o trabalho passou por diferentes fases, e cada uma representou um avanço na tecnologia, explica. Primeiro, o material — composto por semiesferas com componentes químicos inseridos em um reator — era capaz de absorver CO2 a uma temperatura de 600ºC de combustão. Essa temperatura foi reduzida para 300ºC até chegar a 100ºC na última fase, no ano passado.

A temperatura reduzida permite maior eficiência energética, diz o professor. Pois, após a absorção, o CO2 pode ser reutilizado em outros formatos

— Esse gás absorvido pode ser até envasado e reaplicado na indústria de bebidas, indústria química, indústria de fabricação de combustível sintético, entrando no conceito de economia circular — explica Belchior.

‘Protótipo a ser lapidado’

Ainda que tenha sido testado em uma situação real em outubro do ano passado, a tecnologia hoje é um “protótipo a ser lapidado”, resume o professor. O material é formado por cerca de dois quilos de semiesferas de cerâmica, de aproximadamente 1 centímetro de diâmetro. Depois da composição química no laboratório, elas são colocadas em um reator, que pode ser instalado no caminhão, junto ao cano de descarga do veículo.

Nos últimos testes, realizados em outubro do ano passado, o material foi capaz de capturar algo entre 7,7% e 17,2% do CO2 produzido pelo sistema de combustão de caminhões. No teste em campo, um caminhão percorreu cerca de 170 quilômetros, passando por trechos rodoviários, urbanos e rurais, em um trajeto de cerca três horas e meia. A captura de 7,7% foi alcançada na circulação total do trajeto; a de 17,2%, na circulação realizada apenas no percurso urbano.

Segundo Belchior, a variação se explica pelas diferentes temperaturas que o sistema de combustão alcança. Por isso, ele diz que a próxima fase seria resfriar o gás do caminhão com um dispositivo eletromecânico. Assim, com maior controle da temperatura, a absorção cresce.

— Se as semiesferas e controle de temperatura avançarem bastante, vai ter um resultado ainda mais eficiente. Poderemos capturar até 80% de CO2 — diz Belchior, que aposta nos investimentos em função da COP30 para atrair mais financiamento.

Tecnologia patenteada

Ao longo dos últimos 20 anos, a tecnologia foi desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e de algumas empresas, em especial montadoras de veículos. Entre 2015 e 2018, na segunda etapa do projeto, houve financiamento da Petrobras e da Fiat (hoje Setllantis). E em 2021, houve uma parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e com uma indústria de veículos.

Em 2022, o projeto foi contemplado com recursos do Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística do Governo Federal, que visa a fomentar o desenvolvimento do setor automotivo do país. Esse financiamento permitiu os resultados mais recentes. Ao longo da pesquisa, patentes foram depositadas para cada nova fase. Já foram 21 patentes depositadas e 11 concedidas. Destas, sete foram concedidas também nos EUA.

Além do uso em caminhões, Belchior explica que a tecnologia tem um potencial ainda mais amplo, em especial em geradores de energia a diesel.

— Em geradores é ainda mais fácil de fazer, porque fica parado, não é como o caminhão. Para esse uso ainda não foi testado, mas o resultado de caminhão é um protótipo que precisa ser lapidado. Esse rascunho já foi eficiente, imagina se lapidar bem — afirma Jadson Cláudio Belchior.


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