Neste artigo, pretendo fazer uma viagem no tempo, mais exatamente à minha adolescência, aos meus treze anos de idade, quando fui “apresentado”, por assim dizer, ao futebol profissional. Era meados de 1972 (creio que em maio) e eu vivia em Campo Grande, chamada então de “capital econômica” do Estado de Mato Grosso.

Vivia-se, naquela época, o auge do chamado “milagre econômico” do regime militar, com grandes obras por todo o País. O Brasil havia sido campeão mundial de futebol dois anos antes, e as pessoas se empolgavam com a ideia, propagada pelo regime, de um “Brasil grande”. Algumas destas obras eram em Mato Grosso: a Universidade Federal de MT, em Cuiabá, e a Universidade Estadual (hoje UFMS), em Campo Grande – além, claro, do estádio “Pedro Pedrossian”, o Morenão, integrado ao complexo universitário da então UEMT.

O futebol de Mato Grosso, naquela época, ainda era amador, exceto em Cuiabá. Em Campo Grande, os clubes eram filiados à Liga Esportiva Municipal Campograndense (LEMC). Neste contexto, foi promovido um jogo amistoso entre uma seleção amadora de Campo Grande e o Guarani Futebol Clube, de Campinas (SP) – uma das primeiras partidas de futebol no Morenão, depois de sua inauguração, em março de 1971, numa partida que reuniu Flamengo e Corinthians.

Lembro que passei a semana toda juntando uns “caraminguás” (como todo garoto daquela época, vivia “duro”) para ir ao jogo no Morenão. Era uma noite de quarta-feira, e o estádio ficou (quase) cheio. Afinal, muitas pessoas, assim como eu, nunca tinham tido a oportunidade de ver um time de futebol profissional atuar. Os mais antigos lembravam que, no início dos anos 1960, vários times grandes jogaram no antigo estádio “Belmar Fidalgo”, inclusive o Santos, de Pelé. Mas isso já fazia muito tempo…

O Guarani, que hoje luta para voltar à elite do futebol, vivia o início de uma trajetória vitoriosa, que o levaria ao título de campeão brasileiro de 1978. Tinha muita tradição e era celeiro de grandes craques, que também brilharam em outros clubes. Aquele time não era diferente: Tobias (goleiro que depois jogou no Corinthians), Wilson, Amaral (idem), Alberto e Bezerra (jogou no São Paulo); Flamarion (jogou muitos anos no Cruzeiro) e Alfredo (o craque do time, apontado como um novo Ademir da Guia); Barnabé (ponta velocíssimo), Zé Ito (jogou depois no Operário-CG), Clayton (centroavante que depois jogou no Santos) e Mingo, um ponta-esquerda de chute forte, que veio da Portuguesa Santista.

Bem, dá pra imaginar o resultado: Guarani 6×0, um “passeio” dos bugrinos, que não tomaram conhecimento da esforçada (mas limitada) seleção amadora de Campo Grande. E eu ali, da geral do Morenão, maravilhado, vendo todos aqueles craques jogarem, cujos nomes só ouvia, pelas ondas das rádios de São Paulo, especialmente a Super Rádio Tupi, comandada por um dos maiores locutores esportivos de todos os tempos: Haroldo Fernandes, o “Homem da camisa 10”.

O curioso é que, apesar de lembrar de todos os jogadores do Guarani que atuaram naquela partida, praticamente não lembro de nenhum dos jogadores de Campo Grande, que formavam um combinado de Comercial, Operário, Asas (time da Base Aérea) e da Camapuanense, um time de Camapuã, mas que disputava o campeonato amador da cidade. A exceção fica por conta do (hoje) médico Nestor Muzzi, que era um dos laterais da equipe.

No fim daquele ano, os principais clubes de Campo Grande (Comercial e Operário) se profissionalizaram e, no ano seguinte, o Comercial já disputaria o Campeonato Brasileiro. Não passou da primeira fase, mas revelou o centroavante Gil, (veio do Vila Nova, de Nova Lima-MG), que marcou 14 gols só na primeira fase do Brasileirão de 1973. Com isso, foi vendido ao Fluminense (RJ), chegando depois à seleção brasileira.
E o Morenão, dois meses depois, vive…

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