O mundo da fantasia e dos salários irreais no futebol


David Luiz, zagueiro do Flamengo, comemora com a torcida
David Luiz, zagueiro do Flamengo (foto: Carl de Souza/AFP)

O futebol está inserido na sociedade brasileira como qualquer outro segmento, exceto pelos salários irreais dos jogadores. No passado tínhamos muitos craques e pouco dinheiro. Hoje, temos “muito dinheiro” e nenhum craque. Sim, é a mais pura verdade. Vou pegar como referência alguns gênios da bola.

O maior salário que Zico, Júnior Reinaldo e Éder receberam defendendo Flamengo e Atlético Mineiro, respectivamente, chegou perto dos R$ 40 mil. Era um excelente salário na época, mas havia uma inflação gigantesca, que corroía os salários. Mas a distância do que ganhavam os craques para os trabalhadores “normais” era um milhão de vezes menor do que a discrepância dos dias atuais. 

Gabigol, por exemplo, que não engraxaria a chuteira de treino de nenhum dos gênios que citei, ganha cerca de R$ 2 milhões e quer mais R$ 500 mil para renovar. Olha que não está produzindo nada, nas faz gols e vive a pior fase de sua carreira, mas a irresponsabilidade dos dirigentes vai falar mais alto e eles vão pagar o que quer o atacante. Gabigol ainda é jovem, tem 26 anos e pode recuperar o futebol.
Pior é saber que há um monte de jogadores que foram mandados embora da Europa, China ou mundo árabe ganhando fortunas no Brasil, mesmo aos 35, 36, 37 anos. David Luiz é um dos exemplos. A torcida do Arsenal soltou foguete quando ele foi demitido. A do Flamengo soltou foguete na sua contratação. Visões completamente diferentes. 
E o pior é saber que os caras que não servem mais para o Velho Mundo ainda queimam lenha no nosso futebol, o que mostra o quanto involuímos e o quanto não damos atenção às divisões de base. Pego como exemplo o Flamengo.

Havia vendido Gérson, hoje com 27 anos, ao Olympique de Marselha. Fracassou por lá, e o Flamengo o recomprou, pagando quase R$ 100 milhões, dinheiro que entrou com a venda do jovem e talentoso João Gomes, de apenas 20 anos. Se o Flamengo tivesse um presidente coerente, pagaria salário melhor ao jovem e não traria de volta Gérson, que fracassou duas vezes na Europa.

São essas incoerências que deixam o futebol brasileiro mais pobre. O Flamengo vendeu nos últimos tempos uns seis jovens jogadores que estão fazendo sucesso pelo mundo. Vou citar João Gomes, Vini Júnior e Paquetá.

E contratou com reposição Everton Cebolinha, péssimo jogador, que fracassou no Benfica, a peso de ouro. Contratou também o fraco Allan e tomou um chapéu do Galo, pagando quase R$ 50 milhões por ele, que foi pedido por Sampaoli, que já foi embora. Quanta irresponsabilidade. 

Hoje, os garotos que têm talento são vendidos precocemente. Cerezo foi para a Itália com quase 28 anos. Zico e Júnior, do mesmo jeito. Hoje os nossos melhores atletas saem do país antes dos 18. Vejam os casos de Endrick, do Palmeiras, e Vítor Roque, do Athletico-PR. O primeiro vendido ao Real Madrid. O segundo, ao Barcelona. Não há a menor identidade com os clubes e com os torcedores.
Numa economia quebrada como a do Brasil, onde o salário-mínimo de fome não chega a R$ 1.400, os clubes pagam verdadeiros prêmios da Mega Sena a jogadores que nada contribuem para o crescimento do futebol.

Enquanto isso, os governantes andam em carros blindados, com escoltas, comem filé mignon, fazem cirurgias nos melhores hospitais do país e não estão nem aí para o povo.

E os dirigentes, que se acham donos dos clubes, volta e meia vão para a Europa repatriar jogadores, voando em primeira classe, ficando em hotéis seis estrelas e tomando champagne e comendo caviar. Como o dinheiro não é deles, nem de suas empresas, a “farra do boi” vai continuar, até que haja uma intervenção. 

É desumano e desleal um trabalhador “mortal” ganhar mil vezes menos que um ex-jogador em atividade. O futebol brasileiro está na lama, técnica e financeiramente, e não vejo uma luz no fim do túnel, com esses dirigentes amadores, fracos e incompetentes.

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