Antes do amistoso entre Inglaterra e Austrália, nesta sexta-feira (13), no estádio de Wembley, houve um momento de silêncio. Jogadores das duas seleções usaram braçadeiras em sinal de luto. A Federação de Futebol da Inglaterra havia soltado um comunicado um dia antes sobre a homenagem “às vítimas inocentes dos eventos devastadores em Israel e na Palestina”.
Também na quinta-feira, a Premier League havia divulgado uma nota sobre o que chamou de “crise em Israel e em Gaza”, oferecendo solidariedade a vítimas e famílias, e explicando que terá o mesmo protocolo nas partidas entre 21 e 23 de outubro, na volta da data Fifa. A primeira demonstração pública das duas organizações foi na sequência de críticas depois de seis dias de silêncio, e expôs a complexidade de como e quando o futebol demonstra solidariedade.
Em parte, a cobrança foi tão forte porque, no esporte inglês, reações depois de tragédias normalmente são rápidas. Recentemente, houve minutos de silêncio em jogos da Premier League em homenagem às vítimas de um terremoto em Marrocos e de inundações na Líbia. Depois dos ataques cometidos pelo Estado Islâmico em 2015, em Paris, o hino francês tocou nos estádios da primeira divisão inglesa. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o arco do estádio de Wembley foi iluminado com as cores da bandeira ucraniana. O futebol também costuma abraçar causas importantes, como o movimento Vidas Negras Importam e a defesa dos direitos LGBTQIA+.
Dois jogadores do Arsenal se posicionaram: o ucraniano Oleksandr Zinchenko fez um post no Instagram apoiando Israel, e o egípcio Mohamed Elneny colocou como foto de perfil nas redes sociais a bandeira da Palestina. O atacante israelense Manor Solomon, do Tottenham, e o clube, que tem ligação com a comunidade judaica, lamentaram a tragédia. A Associação Olímpica Britânica soltou um comunicado condenando o ataque. Em geral, manifestações públicas de atletas e clubes na Inglaterra nos primeiros dias foram tímidas.
Para a imprensa esportiva inglesa, uma possível explicação para a falta de engajamento seria o medo de parecer estar tomando partido, escolhendo um lado.
O governo britânico reagiu e nesta semana pediu que organizações esportivas prestassem tributos às vítimas. A bandeira israelense foi projetada em Downing Street, sede do governo, e na prefeitura de Londres. Desde o ataque do Hamas do último dia 7, pelo menos 17 britânicos estão desaparecidos ou foram mortos.
Não existe, é claro, obrigação de o esporte se manifestar em todas as causas, e apoiar uma não significa não se importar com outra. Também é preciso respeitar decisões individuais de atletas que preferem não se envolver publicamente. Entender que chegar a um consenso sobre o que escrever em um comunicado quando existem vários envolvidos em uma tomada de decisão pode levar algum tempo.
Mas existe aqui na Inglaterra o costume de prestar condolências, demonstrar solidariedade em momentos de tristeza. O futebol inglês escolheu ter esse papel, o de se posicionar sobre causas sociais e tragédias mundo afora. Não falar nada por dias, diante de atrocidades cometidas pelo Hamas em um episódio em que milhares de pessoas já morreram, foi algo que chamou a atenção e foi visto por críticos como estar escolhendo causas, em uma liga em que geopolítica e esporte de vez em quando se misturam.