Opinião | Rapha Ferreira | O último tango de Magdala: para onde vai o dinheiro da Cultura?


Opinião | Rapha Ferreira | O último tango de Magdala: para onde vai o dinheiro da Cultura?

Ao observarmos as políticas culturais que decorrem em Cabo Frio, percebemos que as forças políticas ligadas ao Partido dos Trabalhadores pouco ou nada se importam com as demandas dos fazedores de cultura da cidade. Em meio a um conflito partidário, que resultou no esvaziamento do diretório municipal e da candidatura de Rafael Peçanha, com o consequente apoio à atual prefeita, as urnas deram uma resposta brutal aos movimentos políticos realizados pelo partido. Resposta essa que foi bem alinhada ao que se percebe nos discursos dos eleitores. A máquina nacional da legenda não traz legitimidade aos candidatos locais. Mostra-se como apenas um voto personalista, e não ideológico. Os eleitores não sabem votar? Afirmar esse tipo de coisa me parece muito arrogante. O eleitor é mais pragmático do que se imagina. 

Com isso também podemos chamar atenção aos movimentos de esvaziamento dos segmentos culturais, como o Conselho Municipal de Cultura, que há dois meses não consegue estabelecer quorum para deliberar questões pertinentes aos movimentos culturais. Até então não temos um posicionamento por parte do secretário de Cultura quanto à execução da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), promovida pelo próprio partido do qual ele e sua mãe, a ministra da Saúde Nísia Trindade, fazem parte. 

O horizonte para os fazedores de cultura de Cabo Frio me parece turvo e tempestuoso, pois o recurso que se encontra em caixa, no valor de 1,5 milhão, seria devolvido para a União por falta de uso e de fomento das atividades dos fazedores de cultura. Em uma cidade em que os aparelhos de cultura se encontram deliberadamente esquecidos ou ignorados, um posicionamento desse me parece uma retaliação ainda maior às atividades das artes. Não temos teatro, não temos espaços para que a população possa fruir a atividade econômica das artes visuais, como o Espaço Torres do Cabo.

A prefeita da Cidade de Cabo Frio, Magdala Furtado, não venceu por sua apatia perante as demandas populares, perdendo apoio de tal forma que a derrota vergonhosa foi invevitável, mesmo com uma campanha fortalecida por seus aliados do governo Federal e Legislativo Estadual. 

Mas não cabe a este que escreve ficar conjecturando os motivos do fracasso eleitoral da prefeita que hoje ainda se encontra no poder, mas dos motivos e porquês que a PNAB ainda não foi publicada. Sequer houve convocação para inscrição de projetos aos editais que foram apresentados aos fazedores de cultura através das audiências públicas que aconteceram no auditório da prefeitura. Foram duas audiências, mais precisamente. 

O que está acontecendo é a demonstração clara de descaso e desinteresse do governo com os trabalhadores das artes. E, contudo, muito revelador no que tange os interesses do Partido dos Trabalhadores em sua política cultural e em como na ponta ela é implementada. Cidades ao redor já começaram a publicização e chamamento para inscrição de projetos para avaliação, pois o prazo está curto e não se pode perder tempo para cumprir as diretrizes que os editais determinam. O secretário Márcio Sampaio devia se manifestar a fim de sanar as dúvidas e questionamentos dos artistas quanto ao edital que em breve pode ter todo seu aporte devolvido para a União.

E aqui estamos nós, numa encruzilhada e perante a um desinteresse que pode custar a execução de novos projetos de artes. O que está em jogo é a renda dos fazedores de cultura, que, através dos editais, fazem distribuição do recurso junto a outros artistas que compõem os grupos de execução dos projetos. É lamentável ver artistas e produtores culturais sempre tendo de entrar em conflito com aqueles que deveriam ser seus aliados e facilitar suas atividades laborais. A arte em Cabo Frio vem recorrentemente sofrendo investidas que, por sorte, têm resistência política forte e incansável. Esse não é o primeiro episódio de descaso promovido pela prefeitura de Cabo Frio junto aos fazedores de cultura, mas não será também ignorado por estes. Ser artista é resistir, é lutar, é bradar mesmo que para o vazio, e também desconfiar dos que dizem ser apoiadores políticos.

Concluo com um pequeno questionamento que me atribula: é legítimo devolver o dinheiro que pertence aos fazedores de Cultura da cidade de Cabo Frio? Será esse o último e desafinado tango da prefeita e de seu secretário?


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